whatever happened to…

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Desde que voltamos à trabalhar no três de janeiro que o quiosque de recepção, onde ficava a pequenina secretária, está vazio. Eu sou meio cabeça de vento e também não costumo entrar pela porta da frente, sem falar que tenho pouquíssimo ou nada a ver com a área administrativa do programa, por isso só fui notar a ausência dela quando avisaram num e-mail que ela não tinha regressado dos feriados de final de ano. Numa reunião do nosso grupo de tecnologia, fomos avisados que a mocinha certamente não vai voltar. O certamente é um certo incerto, pois na verdade não há informação. Eu perguntei meio sem graça de parecer enxerida – o que aconteceu, ela teve um acidente ou ninguém sabe? A resposta foi, ninguém sabe.
Pra mim isso é material pra roteiro de filme. Ela saí no feriado prolongado e não volta. Ninguém sabe o paradeiro. Ninguém! Será que ela fugiu com alguém procurado pela lei, está tentando atravessar a fronteira do Canadá ou México, dirigindo há semanas num El Camino azul turquesa conversível, comendo junk food, dormindo em motéis, ligando pra família em segredo de telefones públicos no meio do deserto? Drogas? Sexo? Rock ‘n’ Roll? Ela era uma pequena mulher, loirinha, tatuada, tímida, sempre de salto alto, estranha, como todos nós somos. Nada incomum, nada que pudesse antever o fato que um dia ela iria simplesmente se escafeder.

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vi assim
  • vai ver ficou de saco cheio mesmo. tipo comprou documentos novos … virou outra pessoa …agora é ruiva… sabe-se lá! o ser humano é doido mesmo!!! ^^

  • Fer, eu sou que nem você. Fico imaginando as coisas mais originais a partir de um plot como esse. E cada vez mais me convenço que a gente nunca conhece de verdade as pessoas.

  • Nossa, que estranho! Acho que concordo com a Lu, não é possível que no trabalho ninguém tenha como buscar uma informação sobre o que aconteceu com ela, afinal, ela deve ter preenchido alguma ficha, deixado dados para contato, etc. Mas se a família ou quem quer que ela tenha deixado pra contato não sabe mesmo dela, aí, Fer, concordo com você, é caso de polícia mesmo.
    Credo, essas coisas sempre me fazem pensar em como somos efêmeros…
    beijo,

  • Ai, Fe! que história… eu acho que sabem mas não querem dizer. Afinal,devem ter como entrar em contato com ela por telefone, telegrama e que tais.
    beijos

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o passado não condena