os Cartier-Bressons [wannabes]
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Não fotografo mais com câmera há anos. Faço tudo com meu iphone, emprestei [dei] minha câmera e lentes pro meu filho. Faz tempo que simplifiquei a vida. Os iPhones fazem fotos ótimas, dão muito bem pro meu gasto e pras minhas necessidades. Fotografo o que bem entendo—frutas, flores, casas, pratos, gatos, comidas, e coloco no meu instagram. Quem gostar, olha, segue, curte. Não tenho nenhuma pretensão. Nunca me considerei fotógrafa, nunca tive essa ambição, nem essa esperança. Faço apenas porque gosto, acho que tem gente que gosta, e se eu gosto, tá ótimo.
Conheço algumas pessoas que ou se acham fotógrafos ou almejam ser, porque têm câmeras maravilhosas [ou pensam que tem], e saem por ai tirando foto de paisagem e de gente. Quase todos esses auto-intitulados fotógrafos ou almejantes de serem um, são péssimos. Uma estoura todas as fotos que ela faz com uma câmera e lente caríssimas usando Photoshop. Outra usa zoom o tempo todo e tira um monte de foto de gente de costas. Outro tem muito que treinar o olho. E mais um, talvez o pior, simplesmente não tem talento nem sitôcometro, usa flash e transforma todos os objetos que ele clica em pura feiura. Não sou fotógrafa, mas sou bem crítica, não me acho assim tão boa fotografando, mas sei exatamente o que é bom. E essas pessoas que eu conheço e que se acham fotógrafas, simplesmente não são.
Uma delas trabalha com fotografia corporativa. Se acha maravilhosa e critica os outros. Nunca me elogiou, não que precise, mas às vezes eu comento as fotos dela por educação. Uma vez ela chamou de HORROROSA uma foto super bonitinha que outra pessoa, amigos em comum, fez. Fiquei horrorizada. Afirmo constantemente pra ela que minhas fotos são absolutamente sobre meu lifestyle e não sobre técnica e profissionalismo, só pra me remover desse grupinho que acha que é artista.
Sigo o blog de uma moça há anos. Ela vive num país frio que não pertence ao circuitão turístico. Ela viaja bastante, mas não são as viagens que me fascinam. As fotos dela, tiradas com câmera, são absolutamente únicas. Nunca tinha visto nada igual. Não sei se tem alguma técnica, mas as fotos são lindas, mostrando apenas o que ela vê, e nem sempre são imagens perfeitas. Quase não tem pessoas, apenas coisas, paisagens. Pra mim essa moça do país do norte é uma verdadeira artista. Adoro todas as fotos que ela faz, me inspiro nela para ser menos rígida com perfeição, alinhamento, clareza, moldura, beleza e visual tradicional. Talvez por ver fotos como as dessa moça, me sinto tão deslocada desse grupo que quer ser algo que não é, que critica sem olhar o próprio rabo, que tem aspirações sem ter talento, mas não tem a humildade de admitir isso. Outro dia tava pensando que com a popularização das câmeras profissionais e a alta qualidade das câmeras de smartphones, estamos virando um planeta de fotógrafos wannabes. Pior é que estamos seriamente nos sentindo verdadeiros Cartier-Bressons, e digo isso achando que essa onda não é realmente uma coisa boa, muito menos positiva.
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