nota dez

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São pequenos momentos rechedos de acontecimentos que de imediato se fazem passar por trivial e sem muita importância. O valor real de tais momentos só será atribuído mais tarde, baseado no nível de bem estar e sorrisos que a lembrança deles evocar.
Como aquela correria pela estrada numa tarde tórrida de verão, com as janelas do carro abertas, cabelão esvoaçante, George Harrison tocando no rádio, minúsculas sementes pipocando pelo asfalto e rechicoteando na lataria e no vidro. E no final uma alegria imensa de rever alguém que estivera ausente.
Ou o caminho iluminado por uma gigantesca lua cheia, depois de degustar uma salada de tomate e dois copos de vinho branco, dirigindo cuidadosamente, com vontade de rir pela estrada escura, o ar condicionado ligado, Fred Astaire cantando youlikepotatoandilikepotahto no cd player. E no final uma alegria imensa de rever alguém que estivera ausente.

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na casa de praia

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Nos filmes, sempre nos filmes, o verão é aquela época de sentar na varanda para ler e beber limonada, arrumar um amante como o Paul Newman, vestir um vestido branco, nadar pelado no rio, dirigir por estradas poeirentas numa pickup vermelha, comprar revistas, beber cocktails na sala, encontrar amigos de infância, ter uma epifania, costurar uma colcha, andar de bicicleta, comer pêssegos, fazer um cruzeiro de navio, preparar um picnic, planejar um assassinato, jogar pedrinhas no riacho, correr com o cachorro pela praia, jantar num diner às onze da noite, beber cerveja no barco, ouvir Blues em discos de vinil, assistir a um desfile e se isolar na casa de praia branca.
Eu sinto que estou passando o meu verão de filme isolada numa casa de praia branca, onde vou ficar sem contato com a humanidade até o outono chegar.

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chega de falar do tempo

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Se eu tivesse mais dinheiro iria viajar com o meu marido pra onde ele fosse, mesmo sendo eu uma cabrita emburrada e atracada. Eu não tenho nenhum interesse particular pela Florida, mas quando vejo ele arrumando a mala e começo a contar quantos dias vou ficar sozinha, fico querendo ir. Não é pela viagem, se é que vocês me entendem.
Pensando com meus botões, percebi que sou uma pessoa simples e que levo uma vida simplérrima. E eu gosto muito disso. Sou feliz assim, não mudaria um naco. Ou pensando bem, gostaria só de conseguir ser mais despachada, como essas pessoas que vão na frente da parada, dando piruetas e sorrindo sem timidez e sem ataques de suor. Fora isso, estou muito contente com a minha vida e comigo mesma! pisc!
Downtown está tendo um final de semana de side walk sale. Lembrei que no ano passado espouquei a cilibina na lojinha de miçangas. Fui na sexta-feira, voltei no sábado quando a loja ainda estava fechada, fiz plantão na porta e quando a loja abriu ataquei os saquinhos das ofertas. Na hora de pagar a mocinha que me atendendeu falou ironicamente – só isso? tem certeza que você não quer olhar mais nada antes de pagar?
Ontem senti um nojo nauseante da água da piscina.
Nossos inquilinos não pagam pela eletricidade. E o ar condicionado funciona dia e noite na casinha. Às nove da manhã, às duas da tarde, às dez da noite. às quatro e meia da madrugada. Qualquer hora! Estou com os cabelos em pé, pensando na conta deste mês.
Não entendo pessoas que gostam de chafurdar nas tragédias, persistir falando na desgraça que aconteceu com o outro ou perto do outro. Chega! E toca a vida pra frente.
Hoje em dia ninguém é cem por cento original.

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under the californian sun

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[clique se quiser ver MAIOR…!]

Tive um compromisso na UC Davis num horário cruel, às duas da tarde. É difícil estacionar no campus e como eu não sabia quanto tempo iria demorar, usar um parquimetro seria arriscado. Como não tenho bicicleta, o jeito foi ir à pé mesmo.
Em qualquer época do ano essa caminhada de quinze minutos seria tranqüila. Mas hoje, sob um solão de quarenta graus na sombra, precisei me preparar. Roupa leve, garrafa de água gelada e uma sombrinha, daquelas de papel comprada na chinatown de San Francisco. Ah, nada como ter sua sombra portátil, além da imprescindível água fresca!

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dia de caspa virar mandiopã

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Este blog está precisando de um texto longo, um texto forte, um texto bom. Mas eu só tenho vontade de beber água, de sentar no sofá e, com os meus óculos que me dão maresia, tentar ler. Também só quero ver filmes antigos, comentá-los com o Moa e ler suas gargalhadas virtuais.
Enquanto conversava com minhas sobrinhas que estavam embarcando pro Brasil no Heathrow, ouvia uns “buac..buac”. É o som dos beijos que elas me mandam pelo telefone. Elas não falam ‘um beijo, tia Fê!”. Elas fazem “buac..buac”.
Por que o sol está incrívelmente impiedoso hoje, fechei a casa bem cedo e resolvi ir ao shopping. Ir ao shopping pra mim significa atravessar a rua. Atrás da minha casa tem um pequeno centro de comércio. Passei antes pela minha caixa de correio e vim soltando “ahs” e “ohs” pelo estacionamento. Quase fui atropelada. Mas a causa de tal tonteira foi ver fotos novas da Catarina.
Compro um casaquinho de linho preto. É preciso pensar à longo prazo… Vou usar sim, em breve! Saio da loja totalmente gelada e quando piso na calçada faço uma careta e murmuro um longo e sofrido “uof…..”. Isto aqui está um verdadeiro forno hoje.
Na livraria percorro os corredores, meuudeus tanta coisa pra comprar. Gastar, gastar, gastar! Fico sempre angustiada, olho algumas coisas e me mando. Mas saio de lá com um dvd, um filme, antigo, claro.

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a previsão é de bafão

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Não desesperem-se, mantenham-se trancafiados em lugares com ar condicionado, bebam muita água e aproveitem para secar tomates na pedra e fritar ovos no asfalto.
Hoje – 105ºF/41°C, Sexta – 105ºF/41°C, Sábado – 103ºF/39°C, Domingo – 102ºF/38°C, Segunda – 102ºF/38°C, Terça -104ºF/40°C.

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teimosia

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Sem assunto e mesmo assim insistente, abro o editor e cabúm, recebo o mais temido dos erros, o tal 500 no Movable Type, que está fazendo muita gente migrar pra outros publicadores. Me dá um baita déjà vu, de Blogger dando pau no tempo do onça quando aquele rapaz comandava tudo sozinho, depois a desgraceira do Greymatter, que me deu uma dor de cabeça danada, e agora mais essa. Sei lá, viu, mil coisas, nem sei se vale a pena insistir.

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o passado não condena