vida de gato para todos!
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Meu irmão me ligou de um hotel em Bruxelas. Lá já eram nove horas da noite. Aqui eram onze da manhã. Eu percebi essas diferenças no dia trinta e um de dezembro de mil novecentos e noventa e nove, quando acordei com as comemorações do ano novo na Austrália e fiquei o dia inteiro vendo o ano dois mil se iniciar em países ao redor do mundo. Quando liguei pro Brasil à meia-noite de lá, ainda eram seis da tarde aqui e me deu uma espécie de ansiedade terrível. Me irritei. Somos quase os últimos a entrar no novo ano… Quando estamos abrindo nossas champagnes, comendo nossas lentilhas e uvas, garfando nosso lombinho e devorando nossas castanhas, outros povos já foram dormir ou até já acordaram num novo ano. Morar neste fuso horário exige muita paciência…
Então chegamos ao final de mais um ano…. em dezembro de 2002 eu estava fazendo planos pra 2003 e hoje estou fazendo planos pra 2004. Ou melhor, estou na expectativa de 2004, porque planos eu não sei se consigo mais fazer….
Neste ano que termina hoje eu fiz muitas coisas, abri algumas portas, fechei outras muito bem fechadas, realizei um monte de coisas diferentes e plantei muitas sementes, algumas metafóricas, outras bem reais – quem diria que eu poderia plantar e colher legumes no meu quintal?
O que será deste novo ano? Saberemos logo, ao vivo e em cores. E espero poder escrevinhas minhas impressões por aqui, como venho fazendo obcecadamente nos últimos anos. E agora vamos fechar este caderno de 2003, porque já acabaram as folhas e ele está totalmente rabiscado, recheado, borrado, rasgando na capa, com as pontas dobradas. Amanhã começo um caderno novo!
Feliz 2004!
“A tia Dé estende na bancada de mármore as azevias que recheia com o puré de batata doce e canela que fez na véspera. A minha mãe, num estado de ansiedade que ninguém compreende, frita os cuscurões que, pouco depois, polvilhará, em gestos apressados, com acuçar e canela. Na sua mesa, a Madalena faz bolinhos com um bocadinho de massa que a avó lhe deu. No escritório, o meu pai lê, pela segunda vez, o Diário de Notícias. De vez em quando, não resiste e vem até à cozinha provocar a minha tia e a minha mãe.
-Ó Adelhia (ele transforma o “l” em “lhe” e, por isso, o nome da minha tia ganha uma sonoridade diferente na sua boca), este ano, estes fritos não prestam para nada !- diz, provando uma azevia que ainda não foi polvilhada.
De vez em quando encontramos verdadeiras preciosidades neste mundo de blogs. Gente que escreve tão bom de ler, assim como a Ana do Matraquilhos. Ela escreve um texto melhor que o outro e me fez sorrir e viajar pra um Portugal que ainda não conheço e relembrar um Brasil que já ando esquecendo….
Este blog tem uma certa tendência para concentrar-se em fases e assuntos. Isto é uma coisa que me incomoda um pouco, porque corre-se o risco de ficar aquela churumela e chatice repetitiva. Fazendo uma retrospectiva no vocabulário chatterboxiano, posso relembrar meu ano baseado nas palavras mais escritas por aqui.
Casa, gato, horta, tomates, jardim, quintal, janelas, cortinas, flores, punk music appreciation, escola, classes, papers, visitas, farmers market, piscina, lavanda, calor, salmão, nectarinas, Juju e Paula, cinema, viagens do Ursão, lesmas, caramujos, fotos, comida, aulas, professores, apresentação em grupo, notas, pós-graduação, trabalho, formigas, estresse, vírus, tosse, frio, chuva.
Até que foi um ano diferente, hein?
Chove torrencialmente. Minhas latas de lixo vermelhas estão rolando no meio da calçada. Uma das tampas jogada a metros de distância. Folhas boiando na água acumulada no meio-fio. Barulho de ventania nas janelas e de água batendo nas calhas. Aqui não costuma chover tão escandalosamente…..
Acordei com formigas no meu travesseiro! Meu quarto e banheiro parecem um cenário de filme de terror. Chamei o pest control de novo, mas o cara só vem amanhã cedo. O que é isso meudeusdocéu? Minha casa está empestiada!
E pra completar, uma dor de cabeça brutal…. desde ontem. Parece que estou num processo de limpeza, de ter todos os xiliques agora, porque em breve não vou poder me dar ao luxo de parar nem de reclamar de nada.
Assisti Monsters, Inc. pela primeira vez outro dia na casa do Gabriel, enquanto esperava o efeito do veneno das formigas se dissipar. No final, li nos créditos que a Pixar fica aqui pertinho, em Emeryville. E comentei animada “oah! o pessoal da Pixar está em Emeryville!”. Meu filho deu um risinho e falou dando os ombros sem o menor entusiasmo “se você for lá, só vai encontrar um lugar cheio de computadores…”.
Ah, não! Que estraga prazeres……!! Que guri mais corta-barato!
Este é o resultado de uma educação sem histórias de Papai Noel, coelhinho da Páscoa e fadinha do dente. Muita realidade. Nenhuma inclinação para uma vida de Peter Pan. Mas o que ele pensou que eu achava que iria encontrar lá na Pixar? Sulley, Mike, Nemo, Flik e Buzz Light?
Ainda me recuperando. Incrível, mas este deve ter sido um dos piores vírus que já peguei nos últimos anos. A combinação do estresse do final do ano com a tossida que levei na cara fazendo compras fez a minha vida miserável durante as festas de Natal. Mas a verdade é que segurei as pontas no vinte e quatro e no vinte e cinco e caí dura no vinte e seis, logo depois que as visitas foram embora. Dormi muito nestes dias. Vi dezenas de filmes na tevê. Reclamei muito, porque odeio ficar doente. E pra completar, vou ficar tossindo escandalosamente por um bom tempo…. até o próximo ano, com certeza [hahaha!].
Passei o domingo na cama, suando febre e vendo filmes. Hoje fui ao médico fazer uma cultura da minha garganta, que está inflamadíssima. Se for strep throat vamos ter que cancelar a festa de Natal, porque não vou querer infectar meus convidados. O enfermeiro me deu uma máscara, mas já pensou vestir uma máscara durante a festa, a la Michael Jackson? Mas o que está pegando é o cansaço… Pelo jeito nossa ceia será um frango assado do Safeway….
Quando terminamos de mudar os móveis de quartos, eu senti um cansaço enorme. Tá certo que arrastamos meu desk dinossauro pelo corredor para não precisar desmontá-lo. Tá certo que passei aspirador em tudo, subi e desci escada zilhões de vezes, coloquei tudinho no lugar, completando com a arrumação da festa da sexta-feira e a limpeza da casa que fiz à tarde. Mas era um cansaço estranho. E à noite o motivo apareceu: vírus!!! Estou com as pernas doendo, o corpo febril e uma dor de garganta chata. Tudo isso nas vésperas de receber visitas, de ter que preparar tudo para o Natal…. Que troço mais fora de hora, mais inconveniente…. Bom, pelo menos acabou a estadia provisória do meu Mac na mesa extra. Voltei pro meu deskão e já estou no meu novo office cúbiculo, mais preparada para o que der e vier no próximo ano!