As guest houses das casas do Aggie Village são casinhas tri-fofinhas, que pelo jeito são disputadas a tapa pela freguesia! A minha está ocupada indefinidamente pelo meu filho. Mas toda semana eu recebo uma proposta de aluguel, geralmente exposta numa cartinha. A dessa semana foi uma surpresa, pois veio com uma pequena foto do casal , junto com uma descrição de quem eles são e o que fazem. Eu adorei! Apesar de não ter intenção de alugar minha guest house, guardo todas as propostas, porque acho super bacana a maneira como as pessoas manifestam interesse.

Ontem tive um momento de estresse total durante a tarde, com direito a pontadas no estômago, envio de e-mails alucinados, correria pelo campus da UCDavis vestindo chinelo de dedo e camiseta amassada, pânico e delírio!
Felizmente tudo se resolveu rapidamente e eu fechei [com chave de ouro] mais um pequeno cíclo, dentro dos maiores, ainda abertos!
Ufa….

Vi na tevê o filme Insomnia original [norueguês/sueco]. A versão americana me cansou e me deu uma agonia. Gostei muito mais de ver o ator sueco Stellan Skarsgård [de Dancer in the Dark e Time Code ] no papel do policial corrupto e insône, do que o celebrado Al Pacino. Os filmes são idênticos – os americanos não mudaram nenhuma linha, exceto o local [Norte da Noruega virou Alaska] e os atores, claro. Achei o filme norueguês muito mais limpo e conciso, sem tanta firula com o personagem do policial. Também gostei do ator que faz o assassino, Bjørn Floberg, pois ele me convenceu muito mais como o escritor obcecado pela menina, do que o careteiro contido Robin Williams.

Eu já não estou dando conta nem de ler minhas assinaturas de revistas e jornal, mas quando entro numa livraria, uma força maior se apodera de mim e eu tenho que sair de lá com um livro debaixo do braço…
Ontem fui até o ACE comprar suportes para os meus tomateiros, que estão crescendo como pragas e se enroscando por todo canto, se espalhando pelo chão, cobrindo outras plantas. Na volta passei numa livraria que eu adoro – a Bogey’s Books. Eles vendem livros usados e novos e tem aquela atmosfera de livraria antiga, que é um charme!
Entrei lá carregando os pauzinhos e uma estrutura de ferro para os pés de tomate, que estavam atrapalhando a minha navegação pelo espaço da livraria. O atendente era um cara que eu conheci num jantar que fui uns anos atrás na casa de uma amiga. Não sei se ele me reconheceu, mas eu lembrei dele. Um cara estranhíssimo. Lembro de ter conversado com ele um pouco nessa festa. Não lembro o assunto. Logo depois de mim, uma moça carregando uma bengala dessas de cego [mas ela não tinha jeito de ser cega] entrou na livraria e fez os cumprimentos de praxe – “hello, how are you?”. E a resposta foi cheia de detalhes. Ele não estava se sentindo bem, mas não sabia descrever bem o que era, acabara de chegar do médico, estava muito preocupado, o médico é um especialista assim assado, ele falou isso e aquilo pra ele, mas niguém parece entender o que está se passando com ele….. Senti o constrangimento na moça da bengala, rolei meus olhos e fui me afastando, enquanto ainda ouvia o cara chato falar do problema dele pra pobre coitada que só perguntou como ele estava indo…. um “okay” teria sido a resposta perfeita.
Vi tanta coisa legal pelas bancas e prateleiras. Eu fico até nervosa dentro de lugares assim, porque quero comprar tudo. Mas agora aprendi a ponderar e só levei um livro: The Best American Short Stories of the Century, editada pelo John UpDike. Na lista de cem escritores, Ernest Hemingway, Dorothy Parker, William Falkner, Scott Fitzgerald, Elizabeth Bishop, Tennessee Williams, Joyce Carol Oats, Susan Sontag e Flannery O’Connor [minha favorita!], entre outros que eu não conheco ainda.

Lembram das cenas do pager piscando com o número de Deus em Bruce Almighty? Pois eu li na Entertainment Weekly que aquele coincidentemente era o número verdadeiro de algumas pessoas aqui nos EUA. Alguns deles – ironicamente, um reverendo na Georgia e uma igreja em North Carolina – passaram a receber uma enxurrada de telefonemas pentelhudos. E estão pensando em abrir um processo contra a Universal Pictures, que por outro lado argumenta que o número foi escolhido com o maior cuidado… pelo jeito, alguém deixou passar alguns area codes…..

Dor de estômago a noite toda….. eu tenho uma dependência emocional exagerada. Fico assim….

Eu pago cem dólares por mês de taxa de lixo, porque a prefeitura conta a guest house como uma casa extra e cobra em dobro. O Gabriel e a Marianne fazem pouquíssimo lixo e usam a nossa lixeira. Os lixeiros passam só na segunda-feira e pegam o lixo normal e o reciclado em caminhões separados.
Eu comprei uma lixeira nova na semana passada, maior e com rodinhas, pra eu poder levar na calçada com facilidade nessas semanas que o Ursão não está aqui. Hoje tinha um papel laranja colado na minha lixeira. Eles NÃO levaram o meu lixo, porque o container ultrapassou o limite de tamanho deles. A minha lixeira tem 50 galões e eles só pegam até 32 galões. Vou ficar com todo o lixo apodrecendo até a próxima segunda-feira e vou ter que comprar OUTRA lixeira, dentro dos padrões especificados pelos lixeiros….. cacilda!!!!!!
Os lixeiros dos recicláveis não pegam nada que não esteja separado e dobrado. Agora aprendi que não pode usar lixeira maior que 32 galões nem que ultrapasse o peso de 60 pounds [uns 30 quilos]. Também não posso deixar a lixeira a mais de 5 feet do meio-fio, nem posso usar nenhum container que não esteja na lista de ‘containers legais’ deles….
Mas que nojeira, viu…..

Nem posso dizer que é porque é segunda-feira. Eu sou devagar pela manhã todo santo dia.
Ver tevê na cama à noite tem um inconveniente: muitas vezes eu durmo e não vejo o final do filme. Quando acordo já está passando outra coisa. Isso me aconteceu ontem… Estava vendo um filme francês chamado Thieves e capotei. A leitura das legendas ajudou a me nocautear.
Antes do jantar, às 8pm daqui, ligamos para a Dinamarca para acordar o Ursão, às 5am de lá. Ele agora está na França. Trés jolie!
Tivemos uma macarronada com molho de tomates, palmito, alho, basilicão e vinho branco. Parmesão fresco ralado. E salada de alface plantada e colhida pelo Gabriel. Pão italiano com vinagre balsâmico e azeite, queijo cambozola, vinho tinto e suco de uva. Melancia fresquinha de sobremesa. Tudo degustado no quintal, à luz de velas.
Outro dia achei minha câmera polaroide toda empoeirada num canto, abandonada e substituída pela digital. Como somos volúveis……

Hoje é o meu primeiro dia de PI! É a oficialização do verão.
Uma das minhas grandes diversões de verão sempre foi a PI.
Nos meus primeiros meses em Davis, eu ía à pé para a PI, com meu biquini brazuca e meus cabelos em trança. Um dia, deitada, lendo, ao lado de outras pessoas, ouvi dois casais sentados na grama perto das árvores conversando aos berros em português. Levantei a cabeça discreta e ligeiramente, pra ver a cara dos fulanos. Nunca fiquei sabendo quem eram as figuras. Foi o meu primeiro encontro com a nata da falta-de-educação brasileira. Eles comentavam sobre os americanos berrando bem alto:
” Mas esses americanos são MUITO FEIOS mesmo, hein? Olha cada BUNDÃO ridículo! E os PEITÕES então? HA HA HA HA! São uns JABURUS!!!!”
Os homens falavam e as mulheres concordavam e eu – na mira deles – congelei! Eu só rezava pra eles não perceberem meu biquini da Blue Man e meu chinelinho Havaiana….
Olhei para eles, com aquela cara de quem não estava entendendo nada do que eles estavam falando, só pra checar se eles tinham cacife pra criticar bundas e peitos com tanta auto-confiança. Sinceramente, em termos de beleza física eles estavam bem abaixo da média. Mas em termos de grosseria e falta de educação eles se sobressairam! Foram para o trono, teresinhaaaa!

Para cada dez pessoas que entraram neste blog vindos por mecanismos de busca nos últimos dias, oito estavam procurando por Legendas Bruce Almighty. Parece brincadeira…. meu contador deu uma acelerada. Outra surpresa do filme do Jim Carrey!
O resto é o prato variado de sempre:
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[* a grafia das palavras é deles – os buscadores – não minha!]