Tchau, Tio!

*

Pro meu querido Tio João:
**
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
a nora que eu nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira
Pro meu querido Tio João:
**
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
a nora que eu nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira

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The Rosa Parks Story

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Domingo eu consegui ver The Rosa Parks Story, na CBC. É um filme feito pra televisão, mas estava muito bem feito e caprichado, eu gostei. Todo mundo já conhece a história do boicote aos ônibus na racista Alabama da década de 50. Tem um filme muito lindo, com a Sissy Spacek e a Whoopi Goldberg, chamado The Long Walk Home, que conta a história comovente de como o boicote afetou a vida de uma empregada doméstica negra e a família branca pra quem ela trabalhava. Mas não é todo mundo que sabe que o boicote se iniciou por causa da Rosa Parks. Ela não foi a primeira nem a única a ser presa por se recusar a dar lugar para um branco no ônibus, mas ela foi o pivô dos protestos e do boicote que acabou com a segregação nos ônibus do Alabama. E tudo aconteceu por causa de quem ela era – uma cidadã exemplar, trabalhadora, casada, cristã, bem vista pela comunidade negra. E ela era também uma mulher simples, uma costureira que um dia simplesmente cansou de ser humilhada. O filme centra toda a história do boicote na figura da Rosa, suas batalhas pessoais, o marido, a mãe. No final há uma cena com a verdadeira Rosa que ainda está viva. Ficou uma história delicada e ao mesmo tempo forte e comovente. A Angela Bassett está ótima como a Rosa. Mas eu tenho que ter um desconto quando elogio essa atriz, porque eu tenho uma simpatia enorme por ela. Cada vez mais!

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Alan Lomax

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The Land Where The Blues Began é a minha bíblia do Blues. O autor, Alan Lomax, viajou todo o sul dos EUA na década de 40, pesquisando a música negra, especialmente o Blues. Ele teve sorte de encontrar muitos bluesmen da velha guarda ainda vivos, para dar depoimentos e cantar no seu gravador. Ele também descobriu alguns talentos. O gravador de Lomax registrou a voz inédita e jovem do desconhecido Muddy Water. Lomax procurou em vão por Robert Johnson, mas só conseguir entrevistar a mãe do músico, morto uns anos antes em circunstâncias misteriosas. Foi também graças à Lomax, que o mundo pôde conhecer o fabuloso Mississippi Fred MacDowell.
O resultado das peregrinações de Lomax pelo país, gravando músicos e pesquisando a música norte-americana, resultou num material riquíssimo que foi catalogado pela Biblioteca do Congresso dos EUA.
Na década de 90, o selo Rounders lançou a coleção Alan Lomax , com todas as gravações feitas pelo folclorista, durante os anos que percorreu o mundo colecionando todo tipo de música folk. Eu tenho alguns cds da coleção Southern Journey , com músicas que Lomax compilou em viagens pelo sul dos EUA, na década de 50 e 60. Uma preciosidade!

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that’s why i’m this chatterbox

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Eu sou uma verdadeira matraca! Eu tento não exagerar, mas eu tenho que confessar que adoro falar, tanto quanto escrever. Neste último ano que fiquei sem trabalhar, senti muita falta do contato diário e da interação e conversas com as pessoas.
Na escola temos a vantagem de podermos conversar enquanto trabalhamos. De manhã cedo, enquanto as crianças vão chegando, algumas vindo sentar-se conosco à mesa para tomar o breakfast, conversamos sobre o dia anterior e o dia que nos espera. No playground sempre nos reunimos num semicírculo e enquanto observamos as crianças e atendemos a todo tipo de requisições, vamos papeando. Na maioria do tempo conversamos sobre as crianças, mas também sobra espaço para falarmos de outros assuntos.
Quando as crianças entram pra descansar depois do almoço, sentamos nas cadeirinhas, numa mesa redonda e conversamos. Duas professoras, a diretora e eu. Falamos sobre filmes, livros, viagens, política, todo tipo de assunto. Eu sou a que conta as piadas que fazem as americanas rirem com a cara toda vermelha. Só isso já faz esse trabalho valer à pena, pelo tanto que eu gosto de interagir. E essa escola tem uma variedade enorme de pessoas de diferentes países, idades, religiões, culturas. A matraca adora tudo isso!

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fed up

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Eu quero comprar um tevê pequena só pra mim e colocar no meu quarto. Porque eu não agüento mais ter que assistir jogos da NBA e competições das Olimpíadas de Inverno….. Não tô mais podendo!!!

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so far away

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Ler alguns weblogs brasileiros está me deixando com sentimentos confusos. Tem dias que eu me sinto mais purfa que umbigo de vedete [e por essa expressão antiqüíssima pode-se realmente perceber quão purfa eu realmente estou! Há há!]. Os blogs que falam de programas e personalidades da tv, do cotidiano das cidades e até os que falam de música, me deixam com uma sensação de que eu tenho um imenso vazio de dez anos nessa vida brasileira, que por mais que eu tente não consigo preencher. Normal. Hoje, nós imigrantes temos tantos recursos para estarmos mais perto do nosso país de origem, mas mesmo assim fica esse buraco, porque não se viveu o cotidiano, não se discutiu os acontecimentos no dia-a-dia. E então vamos ficando cada vez mais distantes.
Isso pode até parecer uma coisa ruim, mas realmente não é. Os dez anos de vazio brasileiro foram preenchidos por muita coisa da vida canadense e americana. E eu me considero uma privilegiada por ter essas experiências na minha memória. E vou cada vez mais chegando à conclusão que tenho mesmo que ler o Sacramento Bee, que assistir o 10pm News, que assinar a Newsweek, que saber dos shows e música daqui, da arte que se faz aqui. Insistir em participar de um cotidiano que não me pertence mais é desgastante e frustrante.

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a roupa nova

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Arrumei um tempinho, entre as oito horas corridas de trabalho de ontem e hoje, e fiz um layout novo pro The Chatterbox, que já tava na hora, né? Como o clima está esquentando, as àrvores já estão cheias de brotinhos de flores prontos para estourarem cheios de vida e cores e é tempo de arrumação de armários, aproveitei essa foto que tirei das minhas camisetas e mandei bala! Também porque finalmente parou de chover! [uf..!]

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radical

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A primavera, meio adiantada, já está se mostrando por aqui. Sábado eu vi uma árvore toda florida, em downtown. Era uma só, mas já é um principio. ‘One early bloomer’!!
Hoje nem precisamos de casacos. Só um suéter deu pro gasto. A maioria das crianças só vestia camisetas e reclamavam ‘i’m sweaty’…… Bom, pra ficar realmente suado, só lá pra maio, mesmo correndo do jeito que eles correm!
A Tanya estava me contando da filha dela, de 17 anos, que virou vegetariana. Ela agora tem que cozinhar normal pra toda família e especial pra menina, que não quer que a mãe nem toque a comida dela com a espátula que mexeu na comida dos outros, com carnes! Isso é que eu chamo de radical veggie.
No meu caso, aconteceu um pouco diferente. Eu impus uma dieta radical pro meu filho desde pequeno. Sem açúcar, cheia de naturebismos. Eu tinha horror de chicletes, balas, refrigerantes, comida industrializada. Eu achava que tudo estava poluído, envenenado, cheio de corantes, preservantes, eteceteraetal. Eu fazia tudo em casa. Quando ele foi pra escola, tive que aceitar o fato de que ele iria queria provar o que os outros comiam. Um dia, saindo da escola ele viu um carrinho de garapa [daqueles cheios de abelhas!] e quis experimentar o treco. Eu comprei um copo, fazendo caretas e disse que aquilo dependia dele chegar em casa e escovar os dentes, muito bem escovados, imediatamente. Eu achava o açúcar um veneno mortal. Falando de radicalismos, hein?
Quando ele tinha dez anos, nos mudamos para o Canadá e lá ele fez o que todos os meninos canadenses faziam: foi trabalhar. Pegou uma rota de jornal no final de semana e fazia uma boa graninha [e passava o finde trabalhando de manha cedinho, debaixo do gelo!]. Com esse dinheiro, adivinha o que ele fez? No primeiro ano, ele torrou TUDO em doces, balas, salgadinhos e refrigerantes! Experimentou tudo o que viu pela frente e como ele comprava com o próprio dinheiro, eu não tinha como controlar. Até beef jerk ele comprava! Virou freqüentador assíduo da lojinha de conveniência da esquina. Foi uma catarse! Salvou-se das cáries nem sei como. E ainda tinha o Halloween, quando ele saia com os amigos empunhando uma fronha de travesseiro, que sempre voltava cheia de doces até a boca. Eu tive que aceitar, o que poderia fazer? Um menino criado com arroz integral que tornou-se o fã número um do fluorescente Mountain Dew. Such is life…..

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o passado não condena