bike-less

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Dei a última pedalada e estacionei minha bike nas grades de bicicletas bem atrás do meu prédio no campus. Minha intenção era dar uma volta nela todos os dias, pra não deixá-la mais toda empoeirada e com teias de aranha parada num canto. No dia seguinte pela manhã fiquei um tanto confusa quando não achei minha cruiser azul com o trim-trim em forma de joaninha pregado no guidão. Logo entendi o que tinha acontecido quando vi a corrente que prendia a bike na grade caída no chão. Fui vitima de um dos famosos roubos de bicicleta no campus da UC Davis. Os ladrões provavelmente passam, munidos de alicatões, e vão pegando as bicicletas mais fáceis. A minha era. Presa com uma corrente vagabunda, pois nunca pensei que alguém fosse querer roubar uma bike velha daquela.
Fiquei imensamente triste, pois essa bicicleta foi meu meio de transporte por mais de seis anos, carregou sacolas de picnic, foi pedalada pelo meu irmão, fez campanha presidencial, tomou chuva a beça, me ajudou a chegar em tempo record em casa quando o Fedex deixava as esperadas encomendas da Apple no fundo do meu quintal. Pois agora não tenho mais bicicleta. Pior, não tenho mais aquela bicicleta que eu gostava tanto. Fiz a ocorrência na polícia, a bike tinha registro, mas acho que nunca mais vou reencontrá-la. Contando o ocorrido pra minha chefe, eu mesma concluí—esse foi o final de uma era.

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os destaques da semana

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Estou toda animada com o feriado da próxima segunda-feira. Sou proletária?
Foi olhar minha bicicleta que ficou estacionada no campus e ela estava toda empoeirada e cheia de teias de aranha. Dei uma limpadinha e depois pedalei numa voltona com ela e até chorei uma lagrimota, porque eu sinto um pouco de falta de ter essa mobilidade. Se bem que pedalando a bike eu nao via as paisagens que vejo hoje, dirigindo meu carro pelas county roads. Quem pode ter o privilégio de dirigir por campos de tomates, girassóis, melancias, abobrinhas, além de pomares de nozes, amêndoas e de azeitonas no caminho pro trabalho? #eu
Sábado fomos até o Silicon Valley e entramos num restaurante italiano em Redwood City. Sentamos, fui usar o banheiro e quando voltei disse pro Uriel—não quero jantar aqui, vamos embora, vou dizer pro garçon que queria comer pizza e aqui não servem pizza. E assim fiz, mesmo com o sorriso amarelo de vergonha alheia máxima exibido pelo meu marido. Foi meio bafão, admito, porque eles ja tinham colocado pão, molhinho de azeite e água na mesa e ficou todo mundo com aquela cara de nhoque. Mas foi a melhor coisa que fiz. Escolhemos outro restaurante dez vezes melhor e tivemos um jantar delicioso e perfeito. Tem horas que a gente tem que simplesmente fazer o que precisa ser feito.

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Já está ficando muito escuro quando eu acordo às 6am. E como é difícil sair da cama quando ainda parece que é noite!
Dá pra confiar na recomendação de um creme hidratante capilar vinda de uma moça cujo cabelo caiu todinho por causa de auto abuso de tinta e produto quimico?
No restaurante Chez Panisse o tomate só aparece no cardápio nos meses do alto verão, exatamente como na minha casa!
Ganhamos uma melancia super doce [e pepinos, abobrinhas e berinjelas] do quintal do nosso vizinho da frente, o Dude. A horta dele é muito prolífica.
Mostra muito o carater da pessoa ela criticar o trabalho e a capacidade do seu antecessor num emprego.
Caminhando pelo corredor de um prédio no campus vestindo minha saia longa de listras transversais, uma moça que vinha atrás de mim exclamou—your skirt is an optical illusion, i’m tripping! [ha ha ha!]
The Shirley Temple—two parts ginger ale, one part orange juice, and a splash of grenadine, garnished with a maraschino cherry.
Meu vizinho da Elm Street tem uma serra elétrica.

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Gerald & Sara

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The MurphysEstou lendo dois livros sobre um casal que nasceu, viveu e morreu rico e nunca precisou trabalhar. Os dois viajaram muito, tiveram todas as casas do jeito que queriam, reformavam e decoravam antes de mudar, nos lugares, cidades e países que quiseram morar, lançaram modas de vanguarda, deram jantares deliciosos, recepcionaram muitos amigos—que não eram qualquer amigos, mas sim Cole Porter, Pablo Picasso, Scott e Zelda Fitzgerald, Ernest Hemingway, John Dos Passos, Fernand Léger, Jean Cocteau, Dorothy Parker. E despertaram muita admiração, inveja e paixão. Dizem que ela teve um caso com Picasso e que Fitzgerald era fascinado por ela. E ele, um verdadeiro dandy, sempre o mais elegante, o mais generoso, o mais articulado. Não é um livro de ficção, nem roteiro de filme do Woody Allen. Essas pessoas existiram mesmo e eu estou gastando meu precioso tempo lendo sobre a vida delas. Criaturas invejáveis, etéreas, lindas, ricas e que nunca precisaram fazer compras no mercado, lavar roupa ou acordar às 6 am e preparar a marmita do almoço.

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mais um piu

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Tenho algumas inabilidades. Um colega perdeu a irmã super nova. Compraram flores e passaram um cartão de condolências para todos assinarem. Eu pedi ajuda, porque simplesmente não sei o que dizer em alguns casos. Morte é um. Então a secretária me deu várias opções de frases sinceras pra escrever e eu escolhi uma.
Trouxe na minha lancheira chips natureba feito de arroz integral e feijão azuki. #vivo na hippilandia
Tenho 25 livros nas nuvens!
Comprei uma saia longa listrada.
Sparkling viognier e torta de tomate no jantar. #summer
Todo cafona se acha chique. Todo chato se acha legal. Eteceterá.
Um dos meus vizinhos tem uma antena espinha de peixe no telhado. Devem ter esquecido ela lá, pois um troço desses nāo tem mais nenhuma utilidade.
Eu nao tenho tevê no terreo da casa, então minha diversao é sentar na poltrona com um copo de vinho e olhar a escuridao lá fora. E conversar com o gato Roux.
Coloquei na rádio do Elvis na SiriusXM e ouvi ele cantando uma música super groovie que nunca tinha ouvido antes—Polk Salad Annie. E no final deixaram a fita rolando e dá pra ouvir o assédio das fãs, ele rindo e dizendo “me deixem pelo menos respirar!” e o barulhinho dele beijando as moças! 😉
Infelizmente nem sempre posso corresponder ao que as pessoas esperam de mim. Mas sei que tudo ficará como dantes no quartel de abrantes.

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❖ privacidade ❖

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Comecei a nadar numa piscina olimpica “vintage” em Woodland, onde o swim team da cidade treina. A piscina é enorme, super funda, mas dá pra ver que os dias de glória daquele lugar ficaram para trás há muitas décadas. Tudo é bem simples, mas tem o que eu preciso e o que eu queria—nadar livre, sem encheção de treinador te dando ordens, nem gente competitiva metida à atleta te dando pernada e jogando água na sua cara. Nado qualquer dia, nos horários de lap swimming, que são super convenientes pra mim, depois do trabalho. Nado sozinha, numa raia enorme, ouvindo o chuá e tralalá das crianças que treinam do outro lado da piscina no mesmo horário.
E são muitas crianças, de idades variadas. Divido o vestiário com as meninas e está sendo uma experiência bem diferente da que eu tinha dividindo o chuveiro com mulheres adultas. Enquanto a mulherada não se incomodava de abaixar pra pegar o sabonete deixando até as entranhas expostas ou ficar raspando a virilha com a gilete de perna aberta, as meninas são de uma timidez e recato comoventes. As gurizinhas são fofíssimas e pra poder se trocar se enrolam na toalha, fazem quase uma cabaninha viradas pra parede, numa manobra incrível de malabarismo pudico. Me identifiquei pacas com elas!
Outro dia estava me trocando às pressas, enrolada na toalha e virada pra parede dividindo o espaço com duas delas, que me encaravam muito enquanto conversavam. Uma delas nem disfarçava. E eu super constrangida, tentando vestir a roupa com o corpo ainda meio molhado, enquanto elas me olhavam e conversavam entre si, no bate-papinho mais engraçado do mundo. Até que uma delas pronunciou bem alto—I like privacy when I change!
Ri com a boca e os olhos espremidos em silêncio, e em pensamento concordei mil por cento, dando toda razão pra ela, pois eu também gosto de ter privacidade pra me trocar!

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[ where or when ]

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Estou mudando de casa e de cidade, empacotando nove anos de acúmulo enlouquecido que perpetrei quase que impunemente e me preparando para uma outra rotina, um estilo de vida um pouco diferente. Vou sair de uma casa moderna para ir viver numa casa antiga. Vou sair do conforto dos banheiros e armários amplos, com prateleiras inteligentemente bem calculadas, para ir viver dentro de um filme clássico. Serão zilhões de possibilidades!

Tenho conversado com muitos prestadores de serviço, que estão inspecionando a casa nova e a velha e fazendo pequenos consertos. A maioria já vai puxando um papo, fazendo perguntas. Um deles se atrelou num convercê interminável comigo, me contou mil coisas, da cidade onde vou viver, da vida dele, dos filhos. Alguns me deram conselhos bacanas, me falaram palavras super animadoras. Como aquele que me disse—vá para a nova cidade com a cabeça aberta, você vai adorar e vai achar sua tranquilidade.

Nestes últimos dias ando me sentindo num limbo, porque parece que não estou mais cem por cento aqui e lá estou apenas em pensamento. Gasto o pouco tempo que me sobra nos intervalos de desmanchar e empacotar uma casa, olhando imagens, de quadros, de bancadas, de móveis, de papel de parede, as cores, os vasos, e objetos, encantada com todas as milhares de ideias e os zilhões de possibilidades.

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trench-coat days

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Vai chover amanhã e depois e depois e depois e depois e depois e depois. Choveu tanto no domingo, que nem fui nadar. Tempestade tropical. No sábado nadei com chuva gelada pingando na minha cara. NÃO curti! E ainda esqueci meu chinelo de dedo em casa [otraveiz, lasca!] e meu pé doeu de pisar no chão gelado, sem falar no NOJO de por meus pés em contato com o chão absurdinhamente empoçado daquele vestiário de piscina. Belisca, sou eu mesma dizendo que fui nadar no frio e chuva, sem chinelo, num sábado de manhã?
Estou realmente interessada em aprender a técnica de dormir sentada, sem cair da cadeira, sem roncar e dar bandeira de que estou dormindo.
Conversando com uma pessoa, usei a expressão “in the old days”. Pronto, sou oficialmente uma velha.
Barack Obama é a epítome da elegância.
Meu marido, o realista—você sabia que o mel é o cuspe da abelha? Obrigada, dear husband, por colocar essa minhoca se contorcendo de nojinho na minha cabeça.
Um filme com John Wayne onde ele nao é um cowboy, nem um oficial do exercito ou da marinha—Trouble Along The Way, 1953.
O melodrama mais cafona de todos os tempos, soap-opera-ish. Mas tive que ver até o final [feliz, é claro]—A Summer Place, 1959.
Te amo de paixão e mando um beijo no seu coração!

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i had a dentist appointment

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“como respirar somente pelo nariz com a boca aberta”
Não importa o quão hipster, inteligente, bonita, rica, bem viajada, bem lida, perfumada com o aroma exótico mais inebriante, com os cabelos naturalmente cacheados e brilhantes, embrulhada elegantemente em roupas de seda e linho sem um único vinco. Sentada numa cadeira do dentista você é apenas um bocão aberto cheio de dentes com uma língua no meio.
Impossível descrever o quanto eu adoro a minha dentista. Não apenas porque ela é uma delicadeza de pessoa, com as assistentes mais queridas, que massageiam meus ombros e enxugam minhas lágrimas, mas principalmente porque ela agora é licenciada para administrar drogas relaxantes e usar óxido nitroso, o gás hilariante. Quando fiquei sabendo, me manifestei entusiasmadamente: eu quero!
Então pra qualquer tratamento que eu preciso fazer já ficou estabelecido que vou receber o gás do riso. No dia fatídico, deito na cadeira, com um cobertor nas pernas, a assistente bacana massageando meu ombro e dizendo—you’re doing great, e com o tubo de nitro bem encaixado no meu nariz. Inspira, expira, inspira, expira. Não é N2O o tempo todo, a maquininha vai alternando com O2, mas só assim eu consigo descruzar as pernas e relaxar as mãos, que ficam normalmente crispadas quando estou numa cadeira de dentista. Por 45 patacas extras, o gás hilariante vale cada centavo de cada fungada. Já que vou ser reduzida a apenas um bocão aberto cheio de dentes com uma língua no meio, com o gás pelo menos serei um bocão feliz. Lálará!

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o passado não condena