desátame

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Hoje estou me sentindo apertada e totalmente desconfortável com meu corpo. A tendência é por a culpa disso tudo nos meus fibromas, na minha idade ou no meu sedentarismo. Mas a verdade é que eu sempre fui assim. Lembro de ainda criança sentir um desconforto horrivel com a roupa, de arrancar a calça do pijama e depois já adulta chegar em casa e arrancar tudo que estava vestindo, enfiar o sutiã na fresta do sofá até o dia que paguei um mico vergonhoso com um amigo do Uriel. Eu nunca gostei de roupa, nunca me senti confortável nelas e com a idade, o sedentarismo [e os fibromas] parece que tudo piorou. Eu trabalho sentada por oito horas, eu não posso estar apertada. Também não posso ir trabalhar vestida num saco. Tenho que vestir sutiã e calça, blusa, todos esses horriveis objetos medievais de tortura.
Sempre penso que um dia acabarei como uma personagem do Gabriel Garcia Marques, vestida somente com uma túnica larga e branca, correndo pelos campos, de braços abertos, feliz pela liberdade de não ter que vestir roupas.
Hoje estou me sentindo como se eu fosse uma pessoa enorme, embora o espelho me mostre uma pessoa normal. Estou incomodada, apertada, na cintura, na barriga, nas costas, quero arrancar tudo, como eu fazia quando era criança mesmo correndo o risco de levar umas palmadas da minha mãe, porque isso não pode, de jeito nenhum menina, onde já se viu!

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e agora são oito

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Eu gosto de marcar datas, especialmente para poder ter alguma referência e poder relembrar e recontar quando a memória começar a falhar. O marco importante que quero frisar hoje é que completo oito anos escrevendo blogs ininterruptamente. Oito anos de textos diários sobre a vida, sobre comida, filmes, música, gentes, gatos, meu cotidiano aqui nas terras californianas, como também pequenas e grandes viagens.
Quando eu comecei minhas blogagens, os blogs não eram conhecidos, muito menos populares. Meu e-mail chegava nas caixas dos meus amigos com a assinatura que eu uso até hoje [leia o meu pensamento] e os que iam lá checar o que os meus pensamentos poderiam ser, voltavam encantados e entusiasmados. O The Chatterbox foi mãe de muitos blogs nos primórdios da blogolândia, assim como o Chucrute com Salsicha também acabou sendo mãe de alguns blogs de culinária.
Eu e o meu The Chatterbox saimos em muitas reportagens sobre blogs em quase todos os jornais e revistas brasileiros. Estávamos lá nos primeiros relatos, que acabaram dando inicio à febre blogueira que se alastrou pela internet no inicio deste novo século. Era muito engraçado ganhar aquele tipo de destaque, já que eu estava apenas escrevinhando os meus pensamentos sobre o meu cotidiano e sobre a vida. E é isso que venho fazendo até hoje. São três blogs ativos, oito anos de vida, muitos textos, muitas fotos, informação à beça que já dá pra fazer de arquivo da memória, somado à muitos amigos, muitos encontros e alguns desencontros, pois eles também fazem parte. A soma dos oito é extremamente lucrativa, pois desde o inicio que eu tinha absolutamente certeza de ter encontrado a mídia perfeita para por em prática o que eu sempre quis fazer: escrever para quem quiser me ler.

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quatro zero um

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As quatro da tarde é a pior hora do dia, quando dá uma fome, um sono, uma irritabilidade, um desconforto na bunda, nas pernas e com a roupa. É a hora de puxar e repuxar o sutiã, de desabotoar discretamente a calça, de cruzar, descruzar e levantar as pernas constantemente. É hora de beber água ansiosamente, de pensar no jantar, de ficar zonza com dor de cabeça, de olhar para o relógio a cada cinco segundos e não ver nenhuma mudança concreta. É a hora que já deu, que não se começa nenhum trabalho novo e se estende o término do que estiver pelo meio ou fim, e fazer tudo com o maior desânimo, porque a partir das quatro da tarde só falta uma hora, ou sessenta minutos, para a hora mais legal e alegre do dia, que é a hora de ir pra casa.

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mais um

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primeiro de outubro

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do vinte e quatro ao primeiro

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Oficialmente já é outono, mas na prática estamos naquele período de transição, quando não sabemos o que vestir, casaco pela manhã, mangas curtas à tarde, os últimos tomates e abobrinhas dividindo a cozinha com abóboras de todos os tipos, cores, formatos. Expectativa do que vem pela frente.
No segundo semestre do ano todo mundo da minha família original—pai, mãe, irmãos—faz anos. Não posso esquecer de anotar, ligar. Eu também sou fruto de uma primavera brasileira e hoje amadureço serenamente no outono.
Então ficamos assim, quando a estação realmente pegar velocidade deixando a paisagem dourada, chegará o dia das bruxas, depois o dia de dizer obrigado, e na sequência aquela profusão de festa, festa, festa, festa, que chega a cansar a beleza.
Outubro é um mês marrom, cor de chocolate com tons laranjas e dourados, um cheiro de torta de abóbora, noz moscada e canela. Outubro é o mês mais feliz, o mais bonito, o mais charmoso, tudo, tudo de bom.
Contagem regressiva!

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tudo por causa de um acento circunflexo

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O ano letivo na UC Davis só começa na próxima semana, porque esta universidade adota o sistema de trimestres. Então estava na portinha pra eu me mexer e ir na biblioteca trocar a senha do meu e-mail, que não é só para acessar e-mail, mas também para entrar no novo sistema de holerite eletrônico. Na semana que vem a horda de estudantes vai entupir tudo, provocar filas em todos os cantos, fazer a vida de quem precisa de qualquer serviço dentro e fora da universidade um inferno. Então finalmente me mexi e fui até a biblioteca, onde fica um serviço de contas de e-mail.
Pela primeira vez na minha vida de usuária de senhas, eu esqueci a sequência de uma. E era justamente a do meu e-mail do trabalho. Esse fato pitoresco não estava afetando muito a minha rotina, pois tenho tudo configurado pra lembrar senhas automáticamente. Mas não posso ficar sem saber qual é a senha. Malditinhos programadores que te obrigam a colocar números, letras maiúsculas, letras minúsculas e caracteres. Nessa, como eu uso um teclado internacional pra poder acentuar em português e configurei minha senha quando estava usando o teclado regular, não consigo lembrar a última parte, que termina com um acento. Perguntem se eu anotei a senha. SIM senhores, anotei. Mas perdi o papelzinho também. Conspiração!
Bom, fui trocar a senha que não é uma operação muito simples, porque tem que entrar número de registro e tals, dai alguém te liga, você dá mais datas e números, eles te dão um outro número, daí você vai preencher um monte de outros dados online, até chegar no resultado final. Eu tenho três senhas básicas, que eu uso e reuso, uma adaptada para entrar no meu sistema no trabalho. A única senha que saia fora desse meu esquema de segurança foi exatamente a que eu esqueci. Mas agora já anotei em vários lugares e presta atenção—o acento está no teclado regular. É isso, só um lembrete.

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escrever pra dizer nada

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Sinceramente eu não sei como eu conseguia sentar todo dia e escrever coisas—um resumo do dia anterior, comentários sobre isso e aquilo, historietas e croniquetas, e preencher os arquivos de tantos anos, meses, dias. Hoje passa-se um tempão até que eu tenha vontade e assunto pra escrever. A verdade é que minha vida é bem monótona—casa—trabalho—casa, e o resto é o que está aqui.
Gosto de tascar fora o velho, limpar, trazer o novo. Fiz isso na minha área de trabalho e joguei fora papelada de três anos atrás, badulaques inúteis acumulando poeira. Ganhei um espaço enorme, limpo e iluminado que já me animou com as possibilidades de preenchê-lo.
Final de verão é sempre aquela viajação do camarada Ursão. Ele passou dois dias voltando da Europa. Tá certo que tinha um furacão no meio da história, mas a verdade é que viajar de avião está com os dias contados. Pior pra nós, que amarramos nosso burro aqui na divina terra prometida, que está situada na beirinha do fim do mundo.
Todo encerramento de estação me dá um entojo e eu estou neste estado neste momento. Não quero nem olhar a previsão do tempo, olho com um misto de raiva e inveja os catálogos de roupas lotados de modelitos outonais. No final do inverno nos encontraremos por aqui, para um repeteco desse manjado papo de sempre.

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o passado não condena