the one with the funny eyes

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“É você a pessoa que está ansiosa para ir para casa?”
“Sim, sou eu mesma!”
Sábado de agito total na cidade, com o Picnic Day na UC Davis, um montão de coisas pra fazer, muitos planos e de repente tivemos que fazer uma visita ao hospital. Estava escrevendo quando minha visão embaçou, ou melhor, quebrou, e não voltava mais ao normal. O Uriel tinha três olhos, o gato tinha quatro rabos, as letras estavam quebradas e eu em pânico.
Como chegamos cedo no hospital, ainda não estava aquela muvuca. Mas nos deixaram esperando um tempão, porque decidiram ligar pra um especialista, já que não acharam nada de errado nos meus olhos, nem no resto. Não era o prenúncio de um derrame, ou de qualquer outra coisa cabeluda.
Fui ficando irritada e agitada, querendo ir embora, especialmente porque me colocaram para esperar a resposta o médico logo atrás de uma mulher que tinha se queimado com água fervendo. Owch! Fui irritantemente rude com uma enfermeira, até que aquele funcionário afetado e rebolante, já meu conhecido deste outro freak episódio, veio perguntar se era eu a figura ansiosa pra ir embora. Eu sempre dou bafões em hospitais, mas me digam, sinceramente, quem é que não quer ir embora de um ER?
No final concluiram vagamente que eu devo ter tido uma variante de enxaqueca, chamada enxaqueca ótica. Era só o que me faltava. Em todo caso, vou ver um oculista nesta semana.

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pausa para apontar o lápis

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Como pode uma tragédia como a do terremoto de 1906 em San Francisco ser celebrada cem anos depois? Vi fotos das comemorações nos jornais e fiquei um tanto pasma. Li não sei onde como os chineses imigrantes foram tratados depois do terremoto, e de como as coisas perderam um pouco o rumo. Seria como celebrar os eventos trágicos do Katrina, daqui a cem anos. Não acho que tem nada pra se comemorar.
Mas do ponto de vista científico, o Uriel estava dizendo que o terremoto de 1906 foi incrívelmente bem documentado pra época. E isso permitiu muitos avanços nos estudos desse fenômeno.
Eu assino muitas revistas. E em todas elas vêm um monte daqueles papeizinhos-formulário, que eles colocam entre várias páginas, pra aliciar mais assinantes. Mas se eu já sou assinante, o que vou fazer com aquilo? Dar pra minha vizinha e tentar convencê-la que vale a pena assinar aquela revista? Isso me irrita pacas. E é simplesmente mais papel pra cesta de reciclagem.
Neste ano, prometo ser mais criativa com as abobrinhas. É uma resolução de verão.
Chamei a pest control company, pois a minha guest house está com formigas. Repensei muito esse meu arranjo bimestral pra tentar acabar com a racinha das formigas e outras pestes indesejáveis. Agora meu cotidiano está imerso em conselhos de como tentar se livrar das pestes primeiramente com técnicas biológicas e culturais, deixando os quimícos como última opção. Não deixei espirrar Round-up nas ervas daninhas, faço horta orgânica onde afogo lesmas invasoras na cerveja, mas quando vejo aquele mundaréu de formigas adentrando o meu espaço, me descontrolo. Mata, mata, aniquila! Não quero nem saber de controle de pestes integrado, ocarvalho!
E a horta, nada ainda.
Duas semanas com um par de sapatos e um de sandálias no shopping cart da loja online, pensando, pensando, até que ontem pela manhã finalmente apertei o botão de finalizar compra. Ah-h! Eu uso o argumento mais do que batido de que sou uma libriana, para justificar essa minha indecisão crônica. Mas sei que deve ser alguma dessas anomalias que vem embutida nos genes. E depois de apertar o botão ainda tem que lidar com a ansiedade da espera, que nem sempre é longa, mas não é a mesma coisa que sair de uma loja com o pacote. Só que desta vez a loja me deu um treat, porque sou boa cliente – tradução: gasto os tubos com eles, e vou receber a encomenda em vinte quatro horas, quer dizer, HOJE!!!!! Ah-hhh!
Nossa guest house alugou para uma moça com um cachorro. Depois de um ano de descabelamentos e irritações, nos livramos dos inquilinos geek orgânicos. Desta vez fizemos tudo através de uma imobiliária e ditamos uma lista bem longa de “don’ts”. Mas permitimos cachorros, gatos e peixes, porque eles não riscam todas as paredes e portas da sua casa com canetinha preta.

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Melhor que Prozac

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24ºC!
Agora é pra valer! Depois daquela amostra grátis fora de hora em fevereiro, a primavera finalmente chegou. E tudo muda, as caras, as roupas, o ânimo, a luz. É muito bom pedalar a bicicleta com o sol no rosto e sentir o calorzinho sem suar. E ver o gramado do Quad salpicado de estudantes lagartixando na hora do almoço. E ouvir música pelo campus. É bom também ter certas surpresas, como a de cruzar com duas vacas de verdade no meu caminho. Elas certamente fazem parte dos preparativos para o Open House da Universidade, o Picnic Day que acontecerá no sábado. A cidade está borbulhante.
E por falar em picinic, hoje faremos o nosso primeiro do ano. Tenho certeza que o parque estará lotado. Pois chegou!

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os gosmentos & os craquelentos

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A reunião era para discutir e decidir a implementação de uma seção nova de links em todas as páginas, de todas as pestes, de todas as culturas. A página aberta na tela, a servir de exemplo, era a de um tipo de ácaro chamado de San Jose scale. Por causa da foto do bicho, estava difícil prestar atenção no que fosse, senão naquela imagem de um tronco de árvore coberto de escamas-vivas. Me fazia lembrar uma perna gangrenada, cheia de feridas purulentas. Só de lembrar, sinto calafrios, arrepios, coceira na cabeça e me pego rangendo os dentes e fazendo caretas de asco e horror.
Essa é uma parte bem chata do meu cotidiano de trabalho, vira e mexe dando de cara com fotos de larvas, ácaros, insetos, fungos, pestes vertebradas e invertebradas, que me fazem saltar da cadeira, ou fechar os olhos num susto e nojo. Os scales são os que me dão coceira. As larvas me dão enjôos, e seus ovinhos me fazem murmurar sons abafados de repulsa e sofrimento. Mas ninguém mais parece se importar com essas imagens – nem no grupo da web, nem no grupo dos escritores técnicos. A perspectiva de que um dia eu também vou me acostumar, me conforta.
Meu trabalho, que se estende numa escala realmente ampla, pode ser resumido basicamente como o de transferir para a web, as publicações técnicas e acadêmicas sobre gerenciamento integrado de pestes. Muita coisa eu adoro fazer, outras nem tanto. Uma das coisas que eu gosto de fazer é atualizar uma seção que eu montei para a assessoria de imprensa divulgar seus artigos. O que eu realmente não gosto é receber o material para mais uma atualização, com um press release de praxe e uma foto em alta definição de uma fruta toda podre com uma lesma melequenta saindo lá de dentro, toda garbosa e em destaque.

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a situação

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Ontem tomei um banho às 8pm e deitei para ver tevê , também decidida à escrever nos meus blogs. Comecei um post para o Chucrute com Salsicha quando o meu marido chegou empunhando um rolinho de massagem, se oferecendo pra me dar um tratamento de relaxamento. Fechei o laptop, recebi a massagem e catapuf…. Acordei hoje às 6:30am.
Muita, muita coisa acontecendo, a mente vazia de idéias, sem inspiração e motivação para escrever. Sem falar que o meu leitor mais importante não está podendo me ler, então estou realmente devagar. Mas continua tudo em pé, aqui, aqui e aqui.

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and these visions of Johanna are now all that remain

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Estou vestindo uns tamancos suecos vermelhos que a sogra do meu filho me incentivou a comprar anos atrás dizendo que eu poderia ” até correr” com eles, se quisesse. Eu mal consigo andar. Ela é norueguesa e deve ter tentado provar a sua teoria dos bons vizinhos mais uma vez, comigo e com os tamancos. Mas estou de bicicleta.
Se eu estivesse no Brasil, poderia contar também com meus pais e irmãos. Aqui, a única certeza que eu tenho é que posso contar com o meu marido e meu filho.
Estou feliz da vida com a volta dessa queridona!
Todo dia eu vejo um pequeno grupo em tour pelo campus. O guia falando e caminhando de costas, olhando para o grupo que caminha de frente.
Comprei um guarda-chuva novo, colorido e largo, depois que o meu inglês made in china foi surrupiado da minha varanda. Parou de chover e abriu um solão.
Não, o Sonny Rollins não é um lambisgóio!!! [*pisc !!!]
Meu cotidiano poderia ser um longo sketch do SNL. [**pisc !!!]
Como se livrar de um Rickdoe pegando no seu pé? [***pisc !!!]
Ouvir um cd over, and over, and over até que é normal. Mas ouvir uma música somente, over, and over, and over, pode ser comprometedor
Tenho uma coisa muito importante e polêmica pra dizer: tem gente que é realmente full of baloney.

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longos dias

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É um troço chato. Os relógios que não se ajustam automáticamente, têm que ser reajustados à mão. Trabalho para o Urso Camarada. Hoje será um dia de confusão mental. Eu olho pro relógio e ainda não entendi como pode ser tão tarde. Entramos em horário de verão. Os dias agora serão longos e eu tenho sentimentos divididos com relação à isso. O negócio é que ainda estamos em climão de inverno, com uma chuva incessante e fria, vestindo casacos, perdendo guarda-chuvas, dormindo de meia, jantando sopa quente. Os gatos já deram o sinal de confusão, dando um escândalo matinal. Acordar uma hora mais cedo, com o relógio marcando uma hora mais tarde, a sensação de que algo está errado e gatos espancando a porta do seu quarto, pode não ser um bom começo para os longos dias que virão.

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cara-a-cara

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Trocamos alguns emails, fui formando uma imagem, uma impressão. A escrita é muito fria, engana, distorce, nunca nos mostra a verdadeira faceta do outro. Depois veio a voz pelo telefone, que já acrescentou uma vivacidade maior, um outro item ao conjunto, e foi dando um contorno muito mais exato. Mas a melhor coisa é o encontro pessoal, quando se dá o abraço, se olha no olho, junta a voz com a pessoa em carne e osso, e se pode ver a personalidade ali escancarada, simpatia à primeira vista! Esqueça os emails. Você não conhece realmente ninguém até ficar cara-a-cara com a pessoa.

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o passado não condena