ça va…
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Estou na Ecole de Agriculture de Montpellier esperando monsieur Urso assistir a uma ou duas palestras. Depois vamos fazer um tour por fazendas produtoras de frutas e uma vinicola. Chegaremos ate a fronteira com a Espanha. Nao sei se vou gostar de fazer esse passeio com um bando de engenheiros cientistas de todos os cantos do mundo, mas estou com uma atitude positiva.
Explorei a peh todo o centro historico da cidade, que eh lindo, lindo, lindo. Caminhei tanto que chegou a doer as costas. E ontem sentei sozinha numa brasserie numa das mil pracinhas pelas ruas tortuosas da cidade e pedi le plat du jour com pommes frites et un verre de vin blanc. Depois l’addition s’il vous plait, merci!
Nas caminhadas sinto falta dos banheiros publicos, que aqui sao raros e muitas vezes sao pagos – 40 ou 50 cents pra usar um dabliuce fedorento.
Segunda-feira jantamos num bistro tipico. A comida era boa, mas nao era otima. Valeu pelo ambiente e conseguimos pedir tudo porque estavamos acompanhados de um americano que arranhava um frances. Mas estou me virando com gestos, apontando e decorando rapidamente algumas palavras. O sotaque eh que mata – un tartellete de framboise et un de ficos. Tenho dificuldade de entender os numeros, mas acho que as pessoas percebem o meu esforco e ajudam, mesmo com o ingles ruinzinho da maioria. Respondi a uma pesquisa no cafe da manha do hotel. A moca muito simpatica e com um ingles sofrivel me disse que aqui no sul da Franca eh mais dificil encontrar pessoas fluentes em ingles, o que eh mais comum em Paris. Ja deu pra perceber…
Temos nos perdido constantemente com o carro. Nos perdemos ate pra sair e entrar no estacionamento do hotel. Esta me dando nos nervos big time. Mas a sinalizacao aqui eh completamente caotica, nao conseguimos entender o sistema. Nao se consegue ler nomes de ruas do carro, entao o mapa nao serve pra quase pra nada. Vai-se a esmo, apostando na sorte. Eu temo as entradas e saidas das cidades. Pegamos o percurso no Michellin online passo-a-passo, mas nao adianta. Sexta-feira vamos a Orleans e depois de volta a Paris. Ja estou angustiada pois sei que vamos nos perder. Experiencia inescapavel na Europa.
Acabei de perceber que estou com uma mancha de pasta de dente na blusa. A sala esta enchendo de engenheiros e engenheiras. As conferencias devem ter terminado e vamos almocar. Voilà!
bon jour! merci!
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Bon jour e Merci sao as palavras que mais temos falado por aqui. Isso quando nao ficamos com aquelas caras de bananas, sem saber o que dizer ou fazer. Pra mim esta sendo uma licao de vida, pois quem mandou ser preguicosa e nao ir fazer um cursinho de frances. Rodamos mil e quinhentos quilometros em tres dias. Saimos de Paris, dormimos em Lyon, visitamos Cannes e Nice, passamos por Monaco e almocamos na Italia. Voltamos por Marseille e agora estamos bem acomodados em Montpellier, onde o Urso tem trabalho pra fazer e ja se enfiou na université, enquanto eu exploro a cidade e passo mais carao por causa do meu frances pior do mundo. Mas estou me virando, comendo e vou ate nadar agora a tarde numa piscina olimpica publica. Comer eh parte do passeio. Tenho devorado paes, queijos, yogurtes (aaah, ce ci bon!!!!), vinhos…. preciso mesmo ir nadar!
Muitos mitos cairam pra mim. Eu tinha certeza que os franceses eram anglofobicos mas tenho visto uma inundacao de cultura americana – comida, lojas, musica e teve (todos os programas dublados, argh!). Sem falar que estavamos com medo de falar ingles em Paris – porque todo mundo dizia que fazer isso era pedir pra ser ignorado ou maltratado – mas pra nosssa surpresa os franceses ofereciam ajuda gentilmente em ingles quando nos viam baratoes tontos completos – perdidos e com caras de quem tinha mesmo atravessado um continente e um oceano. Nos ajudaram no metro e nas ruas, nos desejaram boa estadia, tres jolie!
Estou no computador do hotel com um teclado em frances que esta me deixando louca e a catacao de milho esta realmente dificil…. Aqui se fuma muito, em todo lugar e os fumantes sao maioria, nem ousamos fazer cof cof quando alguem acende um cigarro na nossa cara. A gasolina eh cara e os pedagios na estrada sao uma coisa de louco: voce paga por cada quilometro de estrada percorrido. Viajar de carro aqui eh caro e nos com mentalidade das Americas, onde temos espaco e estradas, precisamos nos adaptar. Muitos cocos de cachorro nas calcadas, ainda nao pisei em nenhum, torcam por mim. Au revoir!
the happy road
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Quero baguettes, amendoas, nougat, azeitonas, aliche, petit-fours, fruta cristalizada, mel de lavanda, casseroles, croissants, carneiro, uvas, legumes provençais, suco de pêra, champagne, ervas, pães, bolos, doces, tapenade, omeletes, cocktails com pastis, cassis, frutos do mar, panquecas de grão-de-bico, salada niçoise, ratatouille, crepes, queijos e vinhos, muitos vinhos, pelas estradas da nossa rota francesa.
o que você está fazendo?
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É por isso, entre outras coisas, que eu gosto MUITO dela! O que podemos fazer a partir de agora, porque já se escreveu o suficiente sobre o trágico episódio, não?
escapuliu!
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Estávamos vendo tevê por horas, quando decidi descer para fechar portas, apagar luzes, antes de ir tomar banho e deitar. Deixamos a porta da sala aberta durante a tarde, para arejar, só com a porta de tela fechada. Assim que pus os pés na sala entrei em total pânico vendo a porta de telinha entreaberta! Gritei, os gatos sairam, os gatos sairam, aímeudeusdocéu! O Uriel desceu correndo, foi pegar a lanterna, eu passei os olhos pelos pontos onde os gatos costumam ficar – tapete do hall, cadeira da cozinha, cadeira da sala, tapetinho da porta da cozinha – e avistei somente o Misty pançudo deitadão. Ele não saiu, ele é obediente e não faz nada que o Roux faz, por orgulho ou despeito, não importa, o que importa é que ele não saiu. Então o autor da arte de abrir a porta e escapulir foi o espevitado Roux. Me deu um desespero, o quintal todo escuro e eu pensando que se esse gato besta pulou a cerca e seguiu em direção ao shopping ou ao Arboretum, poderíamos perder ele para sempre. Foram uns minutos de pânico, eu rodopiando pelo quintal escuro e berrando Roux, Roux, Roux, mesmo sabendo que o pateta nem sabe que o nome dele é Roux. De repente o sujeito chega todo correndinho e serelepe vindo da direção da horta. Ouviu a minha voz e veio. Não pude acreditar na arte que esse gatonildo aprontou, abrindo a porta de tela sei-lá-como e vistando o quintal por não-sei-quanto tempo. Deve ter sido a aventura da vida dele. Agora está fazendo plantão na porta de vidro – fechada – da sala. Nananinanão, seu espertinho! Agora não vou dar a chance para você treinar suas habilidades fugitivas.
um minutinho da sua atenção…
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Estou com a boca toda machucada, porque resolvi ler jornais e artigos online e fiquei me mordendo toda de tristeza e nervoso. Perdi até a inspiração para escrever os meus papos-furados de sempre.
Fomos à uma festa e logo que chegamos um casal que nem conhecíamos já estava saíndo. Eu, bocuda, falei bem alto – so early? Como quem quer dizer, já estão indo embora? Nossa, levei uma carcada fenomenal do meu marido na frente de uma platéia. Onde já se viu eu querer interferir na decisão dos outros de ir embora ou ficar. Durma-se com um barulho desses!
Voltando para casa pelo Arboretum depois do trabalho, encontrei uma das designers gráficas do grupo e ela veio conversar comigo. Eu vinha comendo um pacote de palitos, desses estilo grissini, salpicados de sementes de gergelim e estava com a boca e dentes todos enfarofados. Que mico! Tive que falar e sorrir com a boca espremida, porque tenho verdadeiro horror de pensar que a outra pessoa está vendo a farofa dentro da minha boca!
Olha, gente pesquisadora, só uma coisinha: é penteado e não pentiado. E é fralda e não frauda.
da boca pra fora
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Esse é um assunto recorrente, mas não pude deixar de rir quando li o Wagner comentando que toda vez que entra aqui, nota que meus escritos e fotos são sobre comida. Pra quem ainda não sabe, comida é um dos meus assuntos favoritos, logo depois de cinema, é claro! Mas eu falo muito mais do que cozinho ou como. Falar é mesmo o meu ponto fraco!
Eu tenho duas amigas com quem converso muito e sempre sobre comida. Trocamos receitas, dissecamos ingredientes. Uma delas é da área de ciência dos alimentos, então eu aprendo muito com ela. Outro dia nós passamos umas duas horas caminhando pelos corredores do Corti Brothers em Sacramento, olhando ingredientes e comentando sobre eles. No Corti Brothers tem tanta variedade de feijões e lentilhas, além das massas, das latarias, dos vinhos…. Oh, é bom demais! Outra coisa que eu amo é ler livros sobre comida, de receita ou de história. Nem uso muito os meus livros pra seguir receita passo-a-passo, mas eles são uma fonte inesgotável de inspiração. Minha fascinação por esse assunto fica bem clara quando você entra na minha cozinha e vê logo ali no canto a minha biblioteca culinária . Eu posso nem cozinhar muito bem, mas estou incrívelmente bem informada!