pausa para os comerciais
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De quinze em quinze dias eu preparo uma salada. A de hoje é de grão-de-bico, com tomates, cebolas, azeitonas pretas, pimentão vermelho assado e ervas. Pão sourdough e um chardonnay gelado pra acompanhar.
Roux passou três dias pulando atrás de uma mosca que entrou desafortunadamente na casa no domingo. Hoje a coitada já não estava mais nem voando e eu dei um golpe de misericórdia com a sola do meu chinelão – plaft! Fim.
Eu ando completamente horrorizada com o que ando vendo e lendo por aí….
A higienista me deu parabéns, pois segundo ela eu tenho os dentes mais limpos do que a maioria. Não que isso signifique que eu não tenha mais que ir lá, muito pelo contrário. Um elogio, mas agora vamos marcar outra visita para daqui a três meses?
Livros lindos, lindos que ganhei da minha mãe e meu pai. São dois, Adoro! e Adoro o Brasil! Inspiração.
Estamos nadando numa piscina pública, enquanto a nossa passa por limpeza e manutenção. O lugar parece um clube de campo e os vestiários não têm teto, então os nadadores e nadadoras tomam banho e se trocam no sol. E eu trancada no dãbliucê, of course!
Contagem re-gres-si-va-a!
respeito é muito bom e todo mundo gosta
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O chanceler da UC Davis se inspirou numa idéia da NPR – National Public Radio, para lançar um projeto bem interessante no dia da convocação para o inicio do ano letivo na universidade. O projeto é o My Personal Compass e foi baseado no This I Believe, um programa que coleta e divulga opiniões pessoais diversas.
No website do programa, pode-se ler qual o objetivo da emissora reeditando um programa similar da década de 50. Por que divulgar um apanhado de opiniões divergentes e diferentes? Pra que proporcionar aos ouvintes uma variedade de pensamentos e credos? A resposta chegou pra mim neste parágrafo.
“… their goal is not to persuade Americans to agree on the same beliefs. Rather, they hope to encourage people to begin the much more difficult task of developing respect for beliefs different from their own.”
Me pergunto como seria se os empunhadores da bandeira da verdade parassem um pouco de bradar razão e tentassem desenvolver um pouquinho de respeito pela opinião alheia. Escutar, ponderar, respeitar.
No Direction Home
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Martin Scorsese é realmente um goodfella. Não só porque ele é um grande diretor de filmes inesquecíveis, mas também porque nos passa aquela idéia de que é um cara simples, um vizinho ajudando com palpites úteis, um tio carinhoso que dá abracos, um parente simpático que envia cartões de Natal, um amigo que ouve suas histórias com atenção. Acho que eu me sentiria à vontade na frente dele, falando com ele ou para a câmera dele. Penso que Bob Dylan também se sentiu à vontade, pois acho que nunca o vi em filme assim tão feliz, relaxado, falando sem restrições, sem aquela cara de esfinge que é a sua marca registrada.
No filme-documentário de Scorsese No Direction Home: Bob Dylan, que a rede pública PBS está mostrando em duas partes, Dylan se revela. Pra uma fãnática como eu, foram duas horas de puro prazer! O filme se concentra nos primeiros anos da carreira de Dylan, de 1961 à 1966, quando ele se eletrifica e é criticado e chamado de Judas pelos seus fãs.
As pessoas aqui me olham com uma cara de incredulidade quando eu, uma brasileira, revelo a minha paixão pelo Dylan. É realmente inexplicável o que aconteceu comigo desde a primeira vez que ouvi uma das músicas dele – que deve ter sido Lay Lady Lay, quando eu ainda era uma pré-adolescente. A música desse artista tem um poder sobre mim que ultrapassa as barreiras da língua e do entendimento. Eu fui fã do Dylan por anos, sem entender uma única palavra do que ele cantava. Eu sempre digo que o meu único interesse em aprender inglês – que nem vinha carregado de muita dedicação – era para entender o que o poeta cantava. Consegui finalmente, porque acabei acidentalmente virando uma estrangeira. Hoje posso dizer que não só a música, mas a poesia do Dylan fala diretamente para mim. Tudo o que ele canta faz sentido, toca um sino, me faz sorrir ou chorar, me carrega junto.
Exagero, não? Que nada. Ontem, assistindo à primeira parte de No Direction Home: Bob Dylan, tive uma epifania explicativa para essa minha história. Logo no inicio, contando como descobriu a vitrola com um disco de música country dentro, Dylan conta como o som daquela música fez ele se sentir uma outra pessoa, como se ele tivesse nascido em outro lugar. Acho que é exatamente isso que a música provoca: penetra nas profundezas do subconsciente e mostra quem você realmente é, o lugar ao qual você pertence e a sua missão neste mundo.
A música de Bob Dylan provocou esse efeito em mim quando eu ainda nem sabia quem eu realmente era e qual era o meu propósito nesta vida. Muitos anos depois eu ainda não me encontrei completamente, mas com certeza a música desse homem tem me inspirado à beça pelo caminho.
uma boa razão
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Ela me perguntou por que eu escrevo e a resposta foi, pelo mesmo motivo que as pessoas comem, bebem, fumam, competem, se drogam….
tomates provençal
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Preparei uma travessa deles ontem, com um montão de tomates madurinhos e fresquinhos que colhi na minha horta e eles fizeram o maior sucesso……
Corte os tomates no meio e retire as sementes. Deixe escorrer por uns minutos. Numa frigideira larga e rasa, coloque uma fina camada de azeite e os tomates virados para baixo. Refogue por uns minutos, retire os tomates e coloque numa assadeira. Misture farinha de pão com uma mistura triturada de salsinha, dentes de alho, sal grosso e ervas provençais. Recheie os tomates com essa farofa. Asse em forno alto por quinze minutos. Sirva quente ou frio, acompanhando carnes ou apenas com aperitivo. C’est très bon!
yawn…..
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Estou, devagarzinho, superando o famigerado jet lag. Ontem e hoje consegui dormir até às sete da manhã. Vitória! Acordar às quatro da matina não é nem um pouco divertido, também porque às seis da tarde já se fica querendo deitar. Pra mim, as voltas das viagens são as que mais me dão trabalho. Na ida, porque estou passeando, a adaptação é menos pesada.
Mas peloamordedeus, onde que eu fui amarrar o meu burro, hein? Eu moro longe pra caramba da civilização ocidental!
snapshots
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Terminei um projetinho que comecei antes de viajar. Uma parede da sala, que vesti com quadrinhos de postais europeus do começo do século vinte. Vi algo similar numa revista e fiz a minha adaptação com molduras super baratotais de uma lojeca de departamentos, que eu repintei com tinta spray prateada. Os postais eu comprei numa loja de antiguidades. Eles são maravilhosos e me fascinam. Gosto especialmente dos que foram enviados – com nome e endereço do destinatário, sêlo, carimbo com data e as impressões do remetente viajante, que descreve em algumas poucas linhas com letra rebuscada em tinta de pena as suas impressões dos lugares visitados.
Também coloquei em moldura uma foto imprimida em papel comum, que achei no meio da bagunça dos meus armários quando eu estava tentando dar uma organizada geral. Tentei imprimir duas fotos de slides antigos que meu pai digitalizou uns anos atrás. Não ficaram perfeitas, mas ficaram interessantes. Uma delas já estava emoldurada, faltava a outra.
Nem sei descrever o quanto eu gosto de fotos. Se eu tiver que escolher entre uma exposição de pinturas e outra de fotografias, nem vou hesitar em escolher a segunda opção. Aqui onde eu escrevo estou rodeada por fotos, em molduras, sobre os móveis, penduradas nas paredes, pregadas com tachinhas em um painel, coladas com durex nas portinhas do meu desk, socadas em caixas, empilhadas pelos cantos esperando um lugar definitivo para serem guardadas. Postais, cartões, fotos, fotos, fotos…. Muitas caras queridas sorrindo pra mim. Olho agora pra uma especial – eu, minha irmã, meu irmão e minha sobrinha numa pose feliz num restaurante, em junho do ano passado. Um raio de sol ilumina o cabelo clarinho da minha sobrinha. É uma visão aconchegante e com gosto de bala de mel.