quadros e paredes

*

Minha casa ainda tem paredes virgens, paredes brancas, paredes limpas. Eu olho revistas, tento me inspirar, mas ainda não consegui o feito de decorar as muitas e muitas paredes desta casa. Sem falar que eu sinto um certo receio de pregar pregos, fazer furos. E pra pendurar o quê?
Mas a situação não é tão terrível quanto eu penso, pois já tenho algumas coisas penduradas: um quadro lindo e original, presente de uma amiga pintora, pendurado com tachinhas e sem moldura na parede da cozinha, outro quadro, que foi um achado, de preço, moldura e cores, pedurado em cima da lareira, algumas fotos p&b do meu pai e do Robert Doisneau na sala de tevê, vários quadrinhos com aquarelas de Veneza e quadrinhos com reproduções de pintores espanhóis que meus pais me deram de presente pendurados no corredor e no quarto de hóspedes, além de preciosos desenhos do meu filho Gabriel que ficam enfeitando uma parede do meu quarto.
Mesmo assim, a casa insiste em parecer nua. Então hoje saí numa missão de encontrar quadros para vestir algumas paredes. Consegui colorir um pouco a sala de jantar e até estou com um quadro extra, que não sei onde pôr, pois além do receio de pregar prego e fazer um buracão medonho, ainda tem o problema da indecisão. Imaginem uma libriana tentando equilibrar tudo harmoniosamente, nada pode ficar fora do lugar, nem torto, nem descombinando. É uma verdadeira tortura, pois o meu desajeitamento colide de frente com a minha librianice e tudo vira um martírio… Pregar pregos na parede não é fácil. Agora só falta o Ursão olhar e falar que não gostou de nada…

  • Share on:

a vida na tomatolândia

*

Essa é a época que você vai me ouvir oferecendo alegremente, quer uns tomates? E afirmando orgulhosamente, eles são da minha horta! Essa é também a época que eu vou chegar em qualquer potluck com uma bela salada, de tomates, é claro. Here is a tomato salad! Tomato salad, anyone? Fresh from my garden!. É o típico verão na tomatolândia. Saladas de tomate, tortas de tomate, molho de tomate para pizza, molho de tomate para macarrão, tomates secos, sopa de tomate, pão de tomate, bruschettas com tomate, suco de tomate, macarrão com tomate, arroz com tomate, tomate, tomate, tomate! Vai um tomatinho aí?

  • Share on:

a anta nada bem

*

Depois que a minha mãe me informou que as antas são exímias nadadoras não posso mais dizer que “nadei como uma anta”. Nadei como uma rinoceronta, então. Me senti tão devagar e pesada, além de ter sei-lá-como dado um mal jeito no ombro. Nem gosto de imaginar a cena visualizada por quem estava no cimento, olhando pra rinoceronta se estabanar e esbaforir na água. Estava demais, desanimador.
Meu coach diz que eu sou muito negativa, que sempre acho que estou pior do que realmente estou. I can’t help it, nasci assim pessimista, daquelas que sempre acha que o copo está meio vazio. Mas ele disse que estou bem e eu reclamei que não quero ser corrigida nos micro-detalhes. Estou acumulando detalhes pra aumentar a minha má fama. Mas eu vivo repetindo pra mim mesma e pra quem quiser ouvir que o fato realmente importante é eu estar diáriamente naquela água, nadando, nem tanto como uma anta, muito mais como uma rinoceronta.

  • Share on:

lucky charms

*

luckycharms.jpeg
luckycharms1.jpeg
» feitos pela Juju num dia de verão em dois mil e três…

  • Share on:

pegadas

*

Eu queria saber quem circula pelo meu blog, como, onde e por que. Eu queria saber quem realmente são os tais pára-quedistas, o que eles vêem procurar aqui, o que querem, por onde entram, por onde saem. Não são os leitores, os que vêem aqui pra ler, que acompanham as histórias, os escritos. São os que nem sabem que isso é um blog.
Curiosidade pasmou o gato! Meusenhordocéu, que coisa horrorosa! Essa gente chega em massa, vêem procurando por coisas inimagináveis, não sei como bloqueá-los. Já coloquei todos os scripts pra evitar que os procuradores de palavras e imagens chegem aqui ou no Cinefilia, mas não obtive sucesso. Ou melhor, consegui tirá-los das minhas páginas principais. Mas neste final de semana tive uma visão geral dos blogs e choquei com a invasão literal que essa gente faz pelos arquivos. Eu achando que só quem queria me ler chegava aqui e me espantei com o movimento de feirão nos fundos dos meus blogs.
Agora já sei quem vem, quando, como e por que. E estou um pouco abalada. Não quero esse baile funk acontecendo no meu quintal. Me senti invadida quando vi todas aquelas pegadas….

  • Share on:

um monte de gato

*

Porque eu tenho um blog com arquivos posso saber que há exatamente um ano o gatonildinho Roux chegava aqui em casa, pelas mãos da Debbie do Feline Lifeline. Ele chegou magrelo e cuidadoso. Sempre xereta, sempre amigável. Durante o processo de adaptação, levou não-sei-quantos chega-prá-lá do Senhor Misty, que gruniu pra ele até dizer chega. Ele nunca fez um gesto agressivo, nunca fez absolutamente nada com relação ao outro gato, que não fosse uma tentativa alegre de aproximação e conhecimento. Até hoje, as aproximações do Roux com relação ao Misty são para brincar e ser amigo, mas o Misty não quer saber, rejeita e despreza o pequeno e alegre Roux. Fazer o quê?
Os gatos do Gabe e da Mari estão sozinhos. Vamos dar comida pra eles, hoje e amanhã. Eles estão muito mais amigáveis com relação à estranhos agora que têm muito mais espaço [pra fugir!] na casa nova. Eles foram, adotados com cinco meses de diferença e têm a mesma idade. Apesar de não terem a mesma personalidade, são amigos, muito amigos, inseparáveis. Eu queria esse tipo de relacionamento entre o Roux e o Misty, mas acho que é bem difícil um gato quietão e cheio de manias de dez anos, ser amigo de um espivetado de dois anos. Admito que falhei na minha boa intenção de transformá-los em companheiros.

  • Share on:

nota dez

*

São pequenos momentos rechedos de acontecimentos que de imediato se fazem passar por trivial e sem muita importância. O valor real de tais momentos só será atribuído mais tarde, baseado no nível de bem estar e sorrisos que a lembrança deles evocar.
Como aquela correria pela estrada numa tarde tórrida de verão, com as janelas do carro abertas, cabelão esvoaçante, George Harrison tocando no rádio, minúsculas sementes pipocando pelo asfalto e rechicoteando na lataria e no vidro. E no final uma alegria imensa de rever alguém que estivera ausente.
Ou o caminho iluminado por uma gigantesca lua cheia, depois de degustar uma salada de tomate e dois copos de vinho branco, dirigindo cuidadosamente, com vontade de rir pela estrada escura, o ar condicionado ligado, Fred Astaire cantando youlikepotatoandilikepotahto no cd player. E no final uma alegria imensa de rever alguém que estivera ausente.

  • Share on:

na casa de praia

*

Nos filmes, sempre nos filmes, o verão é aquela época de sentar na varanda para ler e beber limonada, arrumar um amante como o Paul Newman, vestir um vestido branco, nadar pelado no rio, dirigir por estradas poeirentas numa pickup vermelha, comprar revistas, beber cocktails na sala, encontrar amigos de infância, ter uma epifania, costurar uma colcha, andar de bicicleta, comer pêssegos, fazer um cruzeiro de navio, preparar um picnic, planejar um assassinato, jogar pedrinhas no riacho, correr com o cachorro pela praia, jantar num diner às onze da noite, beber cerveja no barco, ouvir Blues em discos de vinil, assistir a um desfile e se isolar na casa de praia branca.
Eu sinto que estou passando o meu verão de filme isolada numa casa de praia branca, onde vou ficar sem contato com a humanidade até o outono chegar.

  • Share on:

o passado não condena