Nada Reação
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O coach Steve mandou uma das cinco pessoas da raia três passar para a raia dois, onde eu nadava sozinha. Veio uma bofete muito a contragosto. Tudo bem, não quer dividir a raia comigo porque gosta de fazer timinho com outros bofes e bofetes competitivos, então nem se voluntaria. Mas a bofete veio e depois de um set nadando borboleta comigo disse – vou voltar pra outra raia, tá? pra você não se estressar…. [ha ha! no worries, b-i-t-c-h!!] Eu faço uma cara de que estou cagando nessas horas. E estou mesmo…. cagando pra esses bofes e bofetes que nadam na piscina publica de Davis e pensam que são alguma estrela imbátivel da natação nacional.
parada no meio do dia
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Ou melhor, como o dia começou realmente cedo, já estou me sentindo como se estivesse no final da tarde. E são apenas três e meia. Falta muita coisa pra ser feita. Cesta de legumes, cookies no supermercado, jantar, palestra na UC Davis. E umas mil e duzentas coisas pra organizar. Já desisti do arquivo acordeon, pois percebi que a única solução eficiente para a bagunça das papeladas da nossa vida nesta altura do campeonato seria um arquivo de metal, desses do tamanho de um armário, com pelo menos quatro gavetões e muitos fichários.
Hoje foi a primeira vez que vi o chão de terra num canto do quintal…. Antes era somente mato, mato, mato…… e mais mato!
Já há muitos tomates verdes pendurados nos tomateiros. Traumatizada com os eventos do ano passado, todo dia eu checo pra ver se eles ainda estão inteiros. Toctoctoc! O orégano, a menta e o thyme dominam.
Foi uma cena realmente patética, eu chamado o Urso para ver uma estrepolia do gato Roux. Ele parou o que estava fazendo e com um sorriso de orelha a orelha tirava fotos do bicho enrolado num tapete. De repente ele põe a câmera em cima da mesa, olha pra mim e diz – estamos precisando ter uns netos!
o domingo pede caximbo…
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Final de semana tradicional de descanso e passeio está começando a virar raridade, especialmente entre as pessoas que têm uma semana corrida e usam o sábado e domingo para fazerem coisas na casa – limpeza, jardinagem, lavar roupa, compras de supermercado, cozinhar. Aqui em casa os finais de semana sempre foram ecléticos e variados, às vezes uma pequena viagem, noutras vezes trabalhos domésticos e muitas vezes passando como dias normais, cheio de tarefas comuns. Como eu sigo o Urso pai, que trabalha qualquer dia quando precisa – e sempre precisa, passo muitos finais de semana sem me dar conta que é sábado ou domingo.
Acordo às sete da manhã no sábado, na seqüência do Urso, que acordou às cinco para um teste de campo em Winters. O dia fica interminável quando acordamos muito cedo. Li e-mails e blogs, desci pro quintal e dei uma geral na horta, que tinha um pé de tomate tombado e muito, muito mato. Varri as folhas, cortei as rosas, desenterrei uma espreguiçadeira que estava toda empoeirada num cantinho há anos, presente da minha amiga Eli, e sentei no sol para ler revistas. Conversei ao telefone, tomei banho, peguei minha sacolinha e fui ao Farmers Market comprar alface. Encontrei minha amiga voltando de bike de downtown e passeamos juntas pelo mercado, encontramos pessoas e sentamos numa creperia para tomar um suco. Fofocamos e rimos muito. Cheguei em casa e fui fazer o meu almoço, comi muito, vi dvd, tricotei, comi rolinhos japoneses de arroz doce, falei com os gatos, vi fotos da festinha da Catarina, fiz massa de pizza, conversei no Skype com uma queridona. O dia não acabava mais… Jantamos tarde e fui dormir depois de ver um filme muito fofo na tevê.
Hoje acordei às seis da matina com a bunda de um gato na minha cara. Com esses folgados não adianta empurrar, porque eles não se tocam. Pensei, dá licença, hein, hoje é domingo! Coloquei os zémanés pra fora do quarto e voltei a dormir. No verão dormimos com as janelas abertas e o sol bate na cama bem cedinho. Os gatos adoram. Eu uso uma máscara nos olhos, mas gosto da sensação de receber um banho de sol quando ainda estou dormindo. Não tem teste no campo pro Urso hoje, mas tem um paper que precisa ter lido sem falta. Então teremos outro dia normal aqui em casa. Vou nadar, faço um almocinho, termino de ver os dvds, se rolar converso com algum amigo. E amanhã voltamos à rotina da semana… Tudo sempre igual, mas completamente diferente.
o calorão vem aí, lá lá lá!
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Verão no Sacramento Valley não é bolinho. Se você não quiser virar uma uva passa, te aconselho a fazer uma boa compra de loção hidratante, além de um barril de protetor solar fator 60. E carregue um tanque de água quando sair de casa, pois o bafão vai te desidratar rapidamente e quando você se der conta vai estar cambaleando, como numa cena do John Wayne perdido no deserto, naquele filme dele com a Sofia Loren.. [total miscasting]
Quanto aos ambientes internos você não terá muito com o que se preocupar se for um estudante ou pesquisador na UC Davis, onde o ar condicionado está calibrado para dar conforto aos pingüins. A maioria dos restaurantes e espaços públicos fechados tem um bom sistema de resfriamento, com exceção dos supermercados da cidade, onde você precisa de um casaco de esquiador, luvas e gorro de lã pra fazer compras durante o verão.
Mas e as nossas casas? Como é que fica? Olha, o meu esquema, que tem funcionado por oito longos e tórridos verões, é fechar todas as janelas, persianas e cortinas da casa às onze da manhã. E ligar o ar condicionado no mínimo. Isso mantém a casa fresquinha e habitável. O pior que você pode fazer é esquecer as janelas abertas ou tentar abrí-las para arejar antes das nove da noite. Não abra, hein?! Não abra, não abra…… NÃO, por favor, NÃO ABRA…….. ((( BUOOOOOOOFFFFFFFFF)))) …… aaaaaaaaaaaaah!!!!!
seis
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Está tudo bem devagar, mas não tem problema. Vinte e oito graus celsius em Davis neste momento. Dois tomates verdes inauguraram a horta deste ano. Mas o mato cresce impiedosamente. Treinei escrever e pronunciar idiossincracias sem olhar no dicionário. Está errado? Todo mundo tem as suas. Respeite. Gentileza gera gentileza, não é mesmo? Nadei com dor de cabeça. Tá melhorando agora. Acho. Gatos são xeretas. Humanos são controlados. Fofoca é muito chato. Um prazer doentio. Tenho a maior preguiça de escrever. Por isso gosto de listas e frases curtas. Domo arigato, Mr. Roboto. O menino com o chapéu do cat in the hat segurava uma plaquinha – 50 cents for one hat trick. Todo mundo riu, que gracinha. Eu pensei, cada uma! Cores e brilhos. Botões. Um spammer livre e solto, preparem as redes. Vozes simpáticas e seus sotaques. Pilhas de papéis. E-mail, não esqueça do jantar às sete. Cerejas e damascos. Quem espera sempre alcança, mas quem tem boca vai a Roma.
é terça, mas parece segunda
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Levei um susto quando cheguei na piscina e vi um coach, em vez do outro. O que ele está fazendo aqui a essa hora, pensei. Segundos depois caiu a ficha, que hoje é terça e não segunda, que foi ontem, um feriado.
Preciso comprar um óculos com nariz e bigode para ser o Groucho Marx. “Those are my principles. If you don’t like them I have others.”
2:00 pm. Essa é uma hora cruel, quando já fizemos muitas coisas, mas ainda há muitas outras para serem feitas. O meião do dia, exatamente depois de nadar e comer. É aquela hora da parada crucial, da preguiça, do sono, do desânimo. Daqui a pouco passa e toca-se o dia pra frente.
Calor. Caixa do correio cheia de lixo. Reciclar. Olhar a agenda. Telefonemas por fazer. Mensagens para escrever. Contas pagas. Lista de compras. Plicplicplicplic, começou o corte do matagal. Volto mais tarde. Tá bom!