Bobby Zimmerman Gunn Dylan

*

Eu achava que o nome Bob Dylan tinha acontecido por causa de uma grande paixao do rapaz Robert Zimmerman pelo poeta Dylan Thomas. Mas a mudança do nome foi muito mais superficial e simplória do que eu jamais imaginei. Se não estivesse lendo a história saída diretamente da autobiografia de Dylan, iria dizer alto e incredulamente – “Bull Shit!” Mas a verdade seja dita e aqui está ela, nua e crua….
“One time she asked me why I was using a different name when I played, especially in the neiboring towns. Like, didn’t I want people to know who I was? “Who is Elston Gunn?” she asked. “That’s not you, is it?” “Ah, ” I said, “you’ll see.” The Elston Gunn name thing was only temporary. What I was going to do as soon as I left home was just call myself Robert Allen. As far as I was concerned, that was who I was – that’s what my parents named me. It sounded like a name of a Scottish king and I liked it. There was little of my identity that wasn’t in it. What kind of confused me later was seeing an article in a Downbeat magazine with a story about a West Coast saxophone player named David Allyn. I had suspected that the musician had changed the spelling of Allen to Allyn. I could see why. It looked more exotic, more inscrutable. I was going to do this, too. Instead of Robert Allen it would be Robert Allyn. Then sometime later, unexpectedly, I’d seen some poems by Dylan Thomas. Dylan and Allyn sounded similar. Robert Dylan. Robert Allyn. I couldn’t decide. – the letter D came on stronger. But Robert Dylan didn’t look or sound as good as Robert Allyn. People had always called me either robert or Bobby, but Bobby Dylan sounded too skittish to me and besides, there already was a Bobby Darin, a Bobby Vee, a Bobby Rydell, a Bobby Neely, and a lot of other Bobbys. Bob Dylan looked and sounde better than Bob Allyn. The first time I was asked my name in the Twin Cities, I instinctively and automatically without thinking simply said, “Bob Dylan”. ”

  • Share on:

i am a lonesome hobo

*

Um lindo dia de sol e me animei para ir nadar, já esperando aquele choque térmico entre o vestiário e a água. Não foi tão ruim quanto eu imaginava. Entrei na raia três que estava vazia. Eu não ousaria cometer essa audácia se a piscina estivesse cheia. Braçadas, braçadas, braçadas, bofes de fora, determinação, braçadas, braçadas, braçadas, paro e vejo do outro lado da piscina um cara entrando na minha raia. Pareço ser uma pessoal totalmente anti-social, mas é incontrolável, nessas horas não consigo evitar pensamentos como “oh, não, esse chatonildo vai entrar bem na MINHA raia?”. Eu não sou uma pessoa de grupo, turma, time. Gosto de fazer tudo na minha, sem ter que me entrosar com ninguém. Infelizmente no mundo dos esportes, isso é uma tarefa difícil – e talvez por isso eu não seja o tipo esportivo.
Bom, o cara entrou na minha raia e já começou o plano de enturmação. Sabe aquele tipo “hey ho let’s go!” que deve ter sido ou poderia ter sido um cheer leader na juventude? Pois esse é o Paul, que entrou na água e já começou a montar o time dele comigo, me esperando para iniciar um novo set, fazendo comentários motivadores sobre o meu desempenho, contando raias, puxando papo em todas as tomadas de fôlego. Eu fui logo avisando “you don’t need to wait for me if you don’t want to. i don’t wanna hold you up..”. Mas não adiantou. Ele continuou me esperando alegre, sorridente e pronto pra elogiar meu desempenho e me incentivar no novo set. Eu vou com a onda nesses casos, mas eu não gosto. Sou individualista, gosto de fazer as coisas sozinha, não gosto de torcida, nem de fazer parte de times. Não gosto de socializar quando estou nadando, especialmente com pessoas que eu nem conheço. É como o famoso papo de fila, mas esse tema é história pra outro post.

  • Share on:

Judas!

*

Em Chronicles Volume One, Dylan está narrando uma festa que ele participou na casa de uma sósia da Ava Gardner chamada Camilla Adam, em homenagem ao folk singer Cisco Houston que estava com uma doença terminal. Ele relembra a presença de Irwin Silber, o editor da revista de folk music Sing Out! que tomou parte na esculhambação do Dylan, logo após ele ter tocado suas baladas numa guitarra elétrica no Festival de Newport em 1965.
“Irwin Silber, the editor of the folk magazine Sing Out! was there, too. In a few years’time he would castigate me publicly in his magazine for turning my back on the folk community. It was an angry letter. I liked Irwin, but I couldn’t relate to it. Miles Davis would be accused of something similar when he made the album Bitches Brew, a piece of music that didn’t follow the rules of modern jazz, which had been on the verge of breaking into the popular marketplace, until Miles’s record came along and killed its chances. Miles was put down by the jazz community. I couldn’t imagine Miles being too upset. Latin artists were breaking rules, too. Artists like Joào Gilberto, Roberto Menescal and Carlos Lyra were breaking away from the drum infested samba stuff and creating a new form of Brazilian music with melodic changes. They were calling it bossa nova. As for me, what I did to break away was to take simple folk changes and put new imagery and attitude to them, use catchphrases and metaphor combined with a new set of ordinances that evolved into something different that had not been heard before. Silber scolded me in his letter for doing this, as if he alone and a few others had the keys to the real world. I knew what I was doing, though, and wasn’t going to take a step back or retreat for anybody.”

  • Share on:

os gatos perfeitos

*

O gato Misty é quietão, gosta de comer e dormir, não é muito ativo, não gosta de brincar, tem uma personalidade fechadona. Não é um gato festivo, mas é justamente por ele ser tão na dele que eu gosto tanto dele. Eu sempre dizia que a personalidade dele se ajustava à minha, que não sou aquela pessoa cheia de eletricidade, que gosta de atividades físicas e está sempre ligadona. Eu sou um tipo paradão, como o meu gato Misty.
Mas nem tudo é pão/pão/queijo/queijo nessa vida, né? E eu gostei muito das mudanças que a chegada do gato Roux impôs na minha rotina. O gato Roux nao tem nada de parado. Ele é jovial, super ativo, atrapalhado, confuso e engraçado. Sem querer fui fazendo comparações e percebendo que o gato Roux TAMBÉM tinha uma personalidade que se ajustava á minha. Quem costuma dar com a cara nos postes frequentemente, precisava ter um gato que fizesse o mesmo!
Ele é atrapalhado demais….. Corre e perde a noção do espaço, dando topadas homéricas nos móveis e paredes. Na primeira vez que vimos ele dar uma dessas topadas, ficamos até preocupados. O Uriel achou que ele tinha ficado pancada por ter batido a cabeça com tanta força. Depois fomos percebendo que bater a cabeça é rotina para o gato Roux. O gato Misty tem o hábito perigoso de correr na nossa frente quando estamos descendo a escada. Só que ele tem o cuidado de passar voando pelos lados. Já o gato Roux passa pelo meio das suas pernas e dos seus passos. Ele não tem noção de nada! O que acontece é que ele sempre acaba levando um chute e se espatifando contra a parede. E foi exatamente isso o que aconteceu ontem. Desci as escadas com ele zunindo por entre as minhas pernas. Não sei com certeza o que aconteceu, mas ele bateu primeiro o corpo com toda a fora na parede e a cabeça por último, fazendo um barulhão. Depois ficou um tempão me olhando com cara de assustado, um olho aberto e o outro piscando como se a batida lhe tivesse afrouxado um parafuso…. Eu morri de pena, mas não consegui segurar o riso. Só espero que esteja tudo okay dentro daquela cabecinha. Um extremamente paradão e o outro um total desengonçado. Como eu consegui arranjar gatos tão perfeitos?

  • Share on:

o outono chegou

*

Quando sento aqui pela manhã para ler e escrever, nunca sei o que vai acontecer. Vou ter uma luz inspiradora? Vou escrever algo engraçado? Algo interessante? Uma abobrinha sem medida? Não vou escrever nada? Vou ficar encarando a tela com uma cara de ponto de interrogação? Nunca sei. Gostaria de poder empolgar a platéia todos os dias, mas se até o Dylan faz seus shows medianos, eu posso muito bem me conformar com os meus dias desinspirados, não?
Chuva, ventania e FRIO aqui no norte da Califórnia. Fico nervosa, pensando quando vou poder nadar. Com chuva não tem condições…. Ontem foi um dia gloomy. Fui trabalhar na International House, onde tenho um dia por mês como docente. Não é nada excepcional, eu atendo o telefone [I-House, goodmorning, how may I help you?] e passo os telefonemas pra manager, diretor ou pra sua assistente. Cuido das vendas de ingresso, cartões da Unicef, atendo as pessoas que chegam pedindo informação, digo hellow para todo mundo que sobe para o escritório dos fellowships. E leio o New York Times, faço tricô e converso com a Julia, uma inglesa com um sotaque lovely que gerencia a casa. Ela me conta histórias fantásticas. Deve estar nos seus sessenta e tantos, setenta anos. Tem uma filha da idade do Ursão, que vive em New York. Ela me conta que tricotou toucas para os soldados ingleses na WWII, que foi ao Rio em 63 e dançou o carnaval nas ruas [exatamente como no filme Orfeu Negro, ela diz], que trabalhou na primeira agência de propaganda de Londres. Ela morou perto de onde o meu irmão mora hoje. Na época, ela contou, os aluguéis lá eram baratésimos. Alguns dos seus amigos compraram casas lá, que hoje valem milhões.
Óbviamente que ontem o assunto do dia foi A CHUVA! Como ficamos meses sem ver uma gota cair do céu, quando a água desaba é uma comoção geral! Agora vamos assim, com dias bonitos e dias feios, até lá pra abril. Casacos espanados, echarpes em fila indiana, botas lustradas, guarda-chuvas à postos. O outono chegou!

  • Share on:

ninguém entende o que ele canta

*

Foi o meu presente de aniversário dado pelo meu filho. Antes de começar o show liguei pra ele – obrigada pelos tickets, estamos bem sentados. Eu e o meu guarda-costas!
Não vou poder dizer que este foi um show memorável, como o segundo show do Dylan que vimos, um mês após os ataques terroristas ou o terceiro, quando eu dancei na frente do palco. Mas foi um show bom. O problema foi basicamente o lugar, uma quadra de basquete no campus da UCDavis. Bem diferente de ver o Dylan no maravilhoso e cheio de história Memorial Auditorium, em Sacramento.
Mas ver o Dylan é sempre uma experiência fascinante, pois ninguém pode prever o que vai acontecer. Desta vez, a mesma banda que o acompanha há anos, comportou-se e vestiu-se da mesma maneira de sempre. Down-to-earth fellows, vestidos de terno cinza e camisa preta, chapéus de músicos de jazz, eles tocam e se colocam no palco como uma banda rockabilly. Eles são muito cool!
E Dylan, todo de preto com botas e chapéu de cowboy, passou o show inteirinho no canto esquerdo do palco tocando um pianinho e cantando curvado. A set list foi muito estranha. Eu tive um pouco de dificuldade para sacar que música ele estava cantando. Até as manjadas It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding), Highway 61 Revisited e Don’t Think Twice, It’s All Right estavam difíceis de reconhecer.
O Senhor Urso, famoso por ficar reclamando e tentando me distrair em TODOS os shows do Dylan em que já fomos, levou uma patada injusta. Ele disse – não entendo o que ele canta…. E eu, já toda defensiva argumentei com cara de brava – pois é, no próximo show vou contratar um interprete pra ficar traduzindo tudo pra você: agora ele disse isso, agora ele disse aquilo…. Calei o Urso na lata, mas fiquei morrendo de culpa por ter sido tão ríspida. A verdade é que NINGUÉM entende mesmo o que o Dylan canta. Mas por quê? Será que é porque ele está de saco cheíssimo de cantar as mesmas baladas por mais de trinta anos? Na minha opinião de fã condescendente, acho que é porque ele canta como ele quer e pode. O que é fantástico para uns – ele reinventar suas músicas, é um horror para outros – ficar sem saber what the heck ele esta grunindo.
Mas ele cantou do jeitão dele, sem se mover muito e voltou para um encore que realmente arrasou, com a maravilhosamente manjada Like A Rolling Stone e All Along The Watchtower botando pra quebrar. No final, agarrou um ramalhete de rosas, ficou ali no palco meio cambaleando numa pose de agradecimento de teatro [ele também nunca parece natural interagindo com o público] e saiu apressadamente junto com a banda. Dylan, uma figura pequena, discreta, de chapéu e botas de cowboy, que não se presta a nenhum salamaleque.
Um grupo de meninas ao nosso lado se acabou de tanto dançar durante o show, o que me fez pensar que a música deste poeta nunca vai sair de moda e que Mr. Zimmerman is still ROCKING!

###

Bob Dylan – The ARC – UCDavis – 18/10/04
set list :To Be Alone With You, Señor (Tales Of Yankee Power), Tweedle Dee & Tweedle Dum, Under The Red Sky, It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding), Moonlight, Cold Irons Bound, Just Like Tom Thumb’s Blues, Man In The Long Black Coat, Highway 61 Revisited, Saving Grace, Honest With Me, Don’t Think Twice, It’s All Right, Summer Days
encore: Like A Rolling Stone, All Along The Watchtower

  • Share on:

i see famous people

*

O papo se iniciou casualmente, ela falando a idade dela [trinta e cinco] e eu arrasando paris em chamas com a minha [quarenta e três]. Ela ria de uma maneira gostosa e familiar. Quando começou o papo rock ‘n’ roll, já parecíamos íntimas, melhores amigas de infância. Repeti alto um pensamento que me passara pela cabeça outro dia e que eu relatara provocativamente para o Ursão: “sabe que o Bob Dylan mora na Califórnia? ohmy! qualquer dia desses vou estar andando na rua e vou dar de cara com ele! daí vou com certeza acenar pra ele e dizer ‘hey, Bob! how’s goin’?’ já pensou?”. A resposta do Ursão foi uma cara de angu. Mas ela riu muito! E eu completei meu pensamento dizendo que moro na Califórnia há tantos anos e nunca vi ninguém famoso. Ela não acreditou. Como pode? Eu consertei, bem já vi uma vez aquele menino ator de Wonder Years, um hasbeen child actor. Ela completou, dizendo às gargalhadas que ele não entrava na lista de celebridades classe A!
Daí ela começou a enlistar os famosos que ela já tinha visto pela Califórnia – Danny Glover, Don Johnson….. Ha Ha Ha, foi a minha vez de gargalhar! Don Johnson eu passo. Muita gente famosa vive no Marin County. Eu sei que a Isabel Allende vive lá. Mas eu nunca vi ninguém. Daí veio a ‘bomba’, pois eu estava explicando os detalhes do concerto beneficiente para a Bridge School que Neil Young faz todo ano em Mountain View. É que o filho do Young, que tem paralisia cerebral, está nessa escola. Queremos ingressos para o show deste ano. Estava expressando a minha surpresa em saber que o Neil Young morava aqui no norte do estado, quando ela me interrompeu – “você não sabe? o Young mora perto de Pescadero, eu conheço o cara que é vizinho dele…..”. What???! Nós passamos por Pescadero, numa dessas nossas pequenas viagens de final de semana! Vamos ter que voltar lá!

  • Share on:

o passado não condena