non sequitur
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Muitos shows novos na tevê e alguns não tão novos, mas que eu nunca tinha assistido. Li algumas reviews e resolvi sair do casulo dos filmes e ver o que estava acontecendo nos outros canais.
Assisti até um Will & Grace , que fazia séculos que eu não via….
Ellen DeGeneres agora rem um talk show diário, mas é no horário da tarde, então acho que não vou conseguir ver. Mas fiquei curiosa, porque parece que o programa é muito legal. Eu adoro a Ellen!
Queer Eye For The Straight Guy é fabuloso! Tem muito desses shows de make over por aí – eles transformam a pessoa ou a casa da pessoa. São tantos desses programas, que mais um não iria fazer muita diferença. Mas fez, porque em Queer, um grupo de cinco rapazes gays [the 5 fab!] transformam a vida [casa, roupa, comida, organização e cuidados pessoais] de um homem comum, hetero, of course darling! Os rapazes literalmente pegam um brucutu e fazem um polimento básico….. ensinam o cara a ser um homem cheiroso, arrumado, prendado…. oh, dear, um sonho!!! E eles são bonitos, charmosos, sabidos….. Gostei muito do show!
Também gostei do sitcom da Whoopi Goldberg, chamado apenas Whoopi. Ela é uma excelente comediante e sabe ser hilária quando quer [como foi fantástica no xaropão Ghost e praticamente roubou o filme]. Nesse sitcom ela está totalmente politicamente incorreta. Até um “son of a bitch” eu ouvi! Ela é uma cantora “one hit wonder” que tem um hotelzinho em Manhattan, com um ajudante iraniano chamado Nasim que é a escada para quase todas as piadas com teor político… Nada mais inapropriado para os tempos de hoje, do que ter o coadjuvante fazendo piada com terrorismo, árabes e persas. Uma das piadas :
[irmão da Whoopi] – você tem que cortar as despezas do hotel, porque na atual situação ninguém anda viajando…
[Nasim] – o meu povo anda viajando!
O irmão dela, um advogado desempregado, ex-funcionário da Eron, é um negro que age como um branco e tem uma namorada branca que age como negra. Whoopi não deixa passar nenhuma oportunidade de fazer piadas com temas de racismo e dá algumas patadas no presidente Bush. O formato da tevê talvez não se adapte muito bem ao estilo da Whoopi, mas pelo menos o show dela trouxe temas novos para a comédia de telinha.
Terminei a classe de verão que ontem mesmo eu estava iniciando aos trancos e barrancos. Assistimos a um vídeo, entregamos o último paper para o professor, todo mundo aplaudiu [aqui os alunos fazem isso quando acaba uma classe que eles gostam…] e vim pra casa relembrando o sonho que tive durante a noite, no qual eu tirava um “zero” no essay. Comigo a neurose é sempre total, nada escapa…
Pra celebrar meu final de quarter, marquei hora pra cortar o cabelo e aproveitei e para fazer as sobrancelhas… incrível como esses detalhes mudam a cara da gente! Andei por downtown, encaroçei em lojas, bebi um thai iced tea com tapioca e manchei a blusa branquinha com pingos cor de laranjão.
Vou aproveitar essa semana de “férias” pra começar a estudar pro GRE, porque na outra semana eu já começo outra classe. E la nave vá….. Só não sei ainda pra onde!
Não sei que cara eu e o Ursão temos quando estamos ao lado do nosso filho, mas vira e mexe acontece uma história assim:
[#] 1992 – aeroporto de Congonhas – embarcando para o Canadá – no balcão da Polícia Federal.
– Precisamos da autorização pro menino poder viajar.
– [pânico] Autorização?! Mas que autorização? Ninguém nos avisou disso…
– Sinto muito, mas sem a autorização dos pais ele não pode embarcar….
– Pais?? Mas nós somos os pais dele!!!
– Ahhhh….. então tá tudo certo…..
[#] 1996 – na festa de formatura de oitava série do Gabriel – Fezoca e Ursão felizões escoltando o filho no corredor da escola.
– Hey Gabe! Where are your folks?
– Right here [apontando para os dois bolhas sorridentes ao lado]
– Oh! Nice meeting you guys…..
[#] qualquer ano, hora, lugar.
– Ahn, essa é minha mãe….
– Ohw!
– Ahn, esse é o meu pai…
– Uhm!
– Ah, esse é o meu filho…..
– Ahw!
Minhas caminhadas matinais pelo Arboretum da UCDavis são muito agradáveis. Enquanto dou meus passos apressados vejo famílias de patinhos e gansos no riacho, os cavalos nos estábulos da universidade, pássaros de todos os tamanhos e cores, centenas de esquilinhos que insistem em me atropelar, algumas lebres orelhudas e…….. ratos!!!
Esses ratos destoam da paisagem, estragam com o humor de qualquer um e já são considerados uma praga no Arboretum. A Alison escreveu sobre isso uns meses atrás. É realmente irritante e parece que as pessoas que vão ao Arboretum dar comida para os patos estão contribuíndo para que os ratos cresçam e apareçam.
Comentando essa história toda com o Ursão, ele não concordou com a parte em que eu relacionava os alimentadores dos patos com os ratos.
– isso não tem nada a ver…..
– ué, por que?
– porque as pessoas não dão comida pros patos no Arboretum..
– como não? eu já cansei de ver gente dando comida pros patos lá…
– eu tenho certeza que ninguém alimenta os patos lá..
– como você pode ter essa certeza?
– porque está cheio de placas pedindo “não alimente os patos”…
– ha!!
Ai, ai, ai, meu marido não é deste mundo… Ele acredita que se há placas pedindo “não alimente os patos”, as pessoas não vão alimentar os patos…..
Descobri uma coisa importante: eu não posso tomar café à noite….
Ontem eu finalmente resolvi estrear meu novo livro The Joy of Cooking e fiz uma torta de maçãs tradicional…. Daí resolvemos tomar um café de noite de domingo no quintal, para aproveitarmos o excelente tempo fresco que chegou no sábado como uma benção dos céus! Pra acompanhar a torta de maçãs e um delicioso pão de azeitonas, eu bebi uma xícrona de café com leite. O resultado foi que perdi o sono e fiquei num estado de alerta total até 2:30am!
Aprendi a lição…. Antes tomar café à noite não era problema. Mas agora é!
São quatro estudantes do outro lado da rua tirando FOTOS da minha casa!!! Estou ouvindo elas dizerem ‘this one is pretty’. Concordo, mas a foto é pra que, hein???
Ontem eu vi um documentário sobre John Steinbeck na tevê e lembrei de um texto que escrevi no verão de 2000, um pouco antes de iniciar esse blog e tive vontade de republicá-lo. Quem ainda não leu, terá a chance. E quem já leu, poderá ler de novo….!!
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Eu tenho um impulso obsessivo de escrever sobre o meu cotidiano e os lugares onde vivo. Muita gente deve pensar que esse meu esforço resulta em peças e pedaços de pseudoliteratura autobiográfica sem nenhum valor, a não ser o de alimentar o voyeurismo escondido por trás das subscrições de listas de discussão e visitadores anônimos de homepages pessoais. Mas eu já estou começando a visualizar uma real tendência dentro desse meu hobbie despretensioso. É realmente um talento poder escrever sobre o comum – ou melhor, fazer do comum algo especial. Ser jornalista e ser escritor podem ser conciliados. Por quê não? Eu descobri alguém que fez isso com maestria, que contou histórias do lugar onde nasceu, de onde viveu, de pessoas comuns e vidas comuns, misturou história com ficção, foi correspondente de guerra, ganhou um prêmio Pulitzer, um prêmio Nobel e declarou que “escrever é tão essencial como respirar”. Conhecer a obra literária desse homem e depois um pouquinho da sua vida, me enriqueceu e me inspirou, deixando uma certeza de que todo estilo literário é viável e válido, desde que você acredite nas palavras que estiver colocando no papel.
John nasceu na pequena cidade de Salinas, na Califórnia, em 1902. Filho de uma família economicamente estável, ele teve uma infância rica em atividades físicas e intelectuais. O Vale de Salinas é uma das áreas mais ricas em agricultura do país, chamada de “a saladeira americana”, por suas imensas terras cultivadas com hortaliças e também frutas. Foi neste vale, próximo das cidades litorâneas de Monterey, Pacific Grove e Carmel que John Steinbeck viveu por muitos anos, inspirando-se na vida cotidiana desses lugares para escrever livros clássicos como Cannery Row, Tortilla Flat, The Long Valley, The Red Pony e The East of Eden. Em 1937 Steinbeck ganhou um prêmio Pulitzer com o seu extenso relato da vida dos migrantes na Califórnia durante a grande depressão. The Grapes of Wrath foi aclamado, mas também enfrentou a fogueira e a classificação de ‘literatura comunista’, por seu conteúdo de crítica social e exata descrição de um período de pobreza terrível na sociedade americana. Seus livros viraram best-sellers, filmes e peças de teatro traduzidos em inúmeras línguas por todo o mundo. Suas palavras foram transmitidas em papel, em ondas de rádio e imagens de cinema e televisão. Durante a Segunda Guerra Mundial John Steinbeck foi correspondente de guerra, e dessa experiência nasceram outros romances de ficção, como Once There was a War. Em 1962, o escritor recebeu o Nobel de literatura e seus críticos foram tão cruéis, duvidando do seu merecimento deste prêmio, que fizeram com que Steinbeck nunca mais escrevesse uma só linha de ficção, até a sua morte, num ataque fulminante do coração em 1968.
Na primeira vez que visitamos Monterey nos encantamos com o carisma e a história da famosa rua Cannery Row. Quando voltamos para casa, corri para comprar o livro de John Steinbeck que contava a vida das pessoas comuns dessa comunidade de pescadores, trabalhadores das enlatadoras de sardinhas, vagabundos, prostitutas e o biólogo marinho Doc. Ler Cannery Row podendo visualizar na minha mente o lugar onde a história passava-se foi uma delícia. A leitura correu solta, foi divertida e eu nem imaginava, ainda naquele meu primeiro encontro com John Steinbeck, o quanto iria me emocionar com seus escritos, suas histórias e seus personagens inesquecíveis. Foi com Of Mice and Men que meu queixo realmente caiu. Este foi um livro que mostrou o estilo descritivo e a riqueza literária de um escritor que hoje é o orgulho dos californianos e leitura obrigatória dos estudantes no colegial.
Nesta nossa última visita à Monterey resolvemos deixar a paisagem estonteante da costa marítima para trás um pouco mais cedo e rumamos em direção à Salinas, onde visitamos o National Steinbeck Center e a casa estilo vitoriana onde o escritor nasceu e cresceu. Esse pequeno shortcut valeu mais do que esperávamos. Passeamos pelas exibições interativas do centro durante horas , vendo imagens, textos, ouvindo e tocando, descobrindo mais detalhes sobre a vida de um grande escritor dessa terra estrangeira que agora nos acolhe. É difícil para a minha pouca habilidade literária e minha pobreza retórica descrever meus sentimentos e pensamentos durante as horas que passei imersa nas letras dos livros e idéias de Steinbeck. Inspiração e motivação são as únicas palavras que me vêem à cabeça. Ali, naquele museu das palavras, senti que posso ser jornalista e também posso escrever poéticamente sobre as plantações de tomates [como Steinbeck fez com as de alface]. Me senti motivada para contar minhas histórias do cotidiano, relatar o que eu vejo, minhas impressões e minhas experiências, colocando tudo no papel, porque esse é o meu talento e o meu prazer. Escrever é realmente tão essencial como respirar.
[*adorei tudo nessa música do Zeca Baleiro….]
Eu não sou cristão
Eu não sou ateu
Não sou japa
Não sou chicano
Não sou europeu
Eu não sou negão
Eu não sou judeu
Não sou do samba
Nem sou do rock
Minha tribo sou eu
Eu não sou playboy
Eu não sou plebeu
Não sou hippie,
hype, skinhead,
nazi-fariseu
A terra se move
Falou galileu
Não sou maluco
Nem sou careta
Minha tribo sou eu
Ai,ai,ai,aia,ai
Ié, Ié Ié Ie´Ié
Pobre de quem
Não é cacique
Nem nunca vai ser pajé