take notes

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Os dias vão indo mais ou menos assim: trabalho, trabalho, trabalho, um fora aqui, outro ali, o que me deixa razoavelmente preocupada [tenho um belo e pesado saturnao no ascendente caprica!], mas ninguém parece pensar que é o final do mundo. Ontem ouvi um conselho – fique calma, nada disso aqui abala as estruturas do planeta. Mas às vezes me sinto como se estivesse na beirinha de uma piscina olhando fixamente para a água, refletindo sobre as condições de temperatura e possibilidades de flutuar ou afundar, e vem alguém e me empurra bruscamente, não me oferecendo a opção de fechar o nariz com as pontas dos dedos ou mesmo dar uma respirada extra. É vai ou vai, e eu vou!

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the night of the hunter

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Pra quem quiser saber: me acabei de chorar, de encharcar o travesseiro e ficar com dor na cabeça e no maxilar, vendo um filme dirigido pelo Denzel Washington, Antwone Fisher. Não sei por que faço isso comigo, assistindo à esses dramalhões terríveis, nem entendo por que sou tão sensível à qualquer história que tenha criança, velhinho ou, pior, animal sofrendo.
Antes de começar a ver Antwone Fisher eu já tinha chorado e já tinha mudado de canal bruscamente, enquanto enxugava as lágrimas na manga do pijama e murmurava, por que somos tão maus e crueis com os bichos? Juro que só vi uns dez minutos de Two Brothers, de Jean-Jacques Annaud, que conta a história de dois tigres irmãos.
Estava revendo o magnífico A Place in The Sun, parte de uma homenagem do TCM à Shelley Winters, que morreu na semana passada. Ela está odiosa e repugnante, Montgomery Clift está lindo e idiota, e Elizabeth Taylor linda, linda.
Agora revejo outro filme da Winters, onde Robert Mitchum com “love” e “hate” tatuado nos dedos vem se apossar do dinheiro roubado pelo marido morto da caipira Shelley Winters.
Filmes antigos são o máximo. Posso revê-los dez mil vezes que nunca canso. E esse post deveria estar no Cinefilia.

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roteiro

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Ontem trabalhei como uma enlouquecida. Não parei desde a hora que cheguei, às oito da manhã, até hora que saí, às cinco da tarde. Aos pouquinhos as responsabilidades vão sendo jogadas nas minhas costas. Na hora que chega um projeto novo – e agora praticamente tudo é novo, me dá um mini-pânico, pois as explicações são escassas. Mas eu faço mil perguntas pentelhas e acho o meu caminho. Mas cansa, se cansa!
Hoje preciso achar um hotel em north Lake Tahoe. Meu marido tem essa mania irritante de decidir tudo na última hora e nunca olhar mapa, reservar hotel. Da última vez que fomos a Tahoe já não era mais temporada, mas agora, pleno janeiro de nevascas, quero só ver. Minhas amigas estão numa casa alugada, mas por causa da indecisão do cara, tivemos que optar pelo hotel.
Está faltando fotos por aqui, né? Imagens alegram o ambiente, mas infelizmente não estou tendo tempo de fotografar nada, mal consigo escrever aqui. As poucas fotos, tiradas na sorte ou recicladas de outros carnavais estão no Chucrute com Salsicha, onde eu escrevo sobre o melhor assunto do muuuunnndoooo!!
Eu não consigo ir visitar minha amiga, pra quem fiz um presente que o gato maluco [quem?] já furou o pacote, nem fazer tricot, nem ver os filmes do Netflix, nem ler revistas, nem ajeitar a minha casa como antes, mas faço uma encomenda enorme de livros de culinária que nem abri ainda – minto, abri dois. Por que não consigo ser uma pessoa ponderada e normal?

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todo dia de semana

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Meus dias se iniciam às seis e meia da manhã, que nem consigo dizer ‘manhã’, pois ainda está escuro. Venho pra cozinha com dois gatos pulando entre as minhas pernas. Ponho uma xícara com água no microondas pra fazer meu café com leite e um waffle na tostadeira. Vou até a laundry e pego os potinhos e a lata de rango felino. É um excitamento, uma coisa tão dramática que dá a impressão que os bichos ficaram uma semana sem ver comida. Eles correm pra laundry quando me vêem caminhando pela cozinha com os potes e se arranjam no tapetinho, sempre na mesma posição: Roux pra direita, Misty pra esquerda. Eu volto pra cozinha, termino de preparar meu café, que é minguado, pois não tenho apetite logo que acordo. Sento e bebo o café com leite enquanto leio e-mails, bloglines. Enquanto isso os mortos de fome devoram o rango, o Roux tudo de uma vez só, o Misty fazendo pausas de lord pra lavar as patas, como quem usa um guardanapo de linho. Eu ainda estou na cozinha lendo quando começa a função do banheiro. Todo dia é a mesma coisa e todo dia eu fico rindo alto, considerando o meu permanente mau humor matinal. Primeiro vai o Roux, que faz tudo escandalosamente. Esse gato não faz nada discretamente, come fazendo barulho, caga e mija fazendo barulho, atá pra andar pela casa ele faz barulho. No banheiro dá a impressão que ele vai virar a caixa de cabeça para baixo. Finalizado a aliviação geral da fome e dos intestinos, ficam os dois caminhando pela casa, como que procurando coisas pra fazer. Se encaram, o Roux dá pulinhos, tenta dar um bote no Misty, que sai correndo injuriado. Um tédio de vida…. Nessa altura já são sete e alguma coisa e eu subo pra tomar banho, me arrumar. Rotina de gato é divertida de se observar, mesmo com um humor azedo, às seis da madrugada.

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no escuro

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Não pensem que eu desisti. Continuo dando as minhas braçadas e pernadas, só que agora é sob a luz da lua. Não vou negar que achei estranho. Aliás, estranhíssimo. Mas fazer o quê? Não consigo ir nadar às seis da manhã, então tem que ser às seis da noite. Tudo escuro, um friooo, eu visto o meu maiô esbagaçado, porque biquini com frio e lua não dá, e tchigun. Invés das nuvens de floquinho, sol quentinho, passarinhos e aviões militares cruzando o céu azul, é aquele breu, um preto salpicado de estrelas, tudo tão escuro que mal vejo as árvores. E a escuridão se mistura com o vapor que sai da piscina, criando um climão diferente. Mas tudo isso não é nada, comparado com o meio metro de caminhada do vestiário pra piscina e da piscina de volta pro vestiário. Preciso trazer um chinelinho, porque o pé dói de pisar no cimento gelado. E o que não está gelado? Sério, é um sacrifício maior do que eu acharia que poderia tolerar. Mas a visão de uma mulher-saco-de-batata sentada numa cadeira de frente para a tela de um computador por quase oito hoas diárias me faz superar o frio e o escuro. Na verdade eu sempre admito alguns minutos após o primeiro mergulho, que essa hora dentro da água, mesmo no escuro da noite, é bom demais, bom demais.

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Save Our Ship

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O dia começou com chuva e uma mijaneira sem fim. Não sei quantas vezes fui ao banheiro, só pela manhã. Tive um workshop nesse meio tempo, com um grupo de writers da UC Davis. Sou uma writer, alright, mas não trabalho exatamente como writer. Tudo, absolutamente tudo que foi falado lá eu já sabia. E choveu, fez sol, choveu, fez sol. Minha bike não tem pára-lamas, então amarrei um saco de loja na traseira, pra não ficar com a bunda molhada. Ficou uma coisa bem tosca, mas me safei. Logo depois do almoço o servidor pifou. Senti um cheiro de fio elétrico tostando, mas estava tão concentrada no html que nem pensei em falar nada. Era o cheiro do servidor afundando. Depois disso desenrolou-se ali na minha frente uma daquelas cenas de submarino americano na Segunda Guerra, quando os japoneses atacavam. Eu não entendia nadinha do que os programadores estavam berrando em estado frenético, mas vi que o website inteirinho estava down. Major disaster! Mas o dedicado comandante geek salvou o submarino, que emergiu são e salvo. A partir daí ficou claro que a bruxa estava solta e até o meu editor de html resolveu dar um bug inconsertável e irritante. A técnica decidiu instalar uma versão nova, perdi as preferências, que ela não salvou de propósito e gastei o resto da tarde reconfigurando tudo. Então pra encerrar o dia que começou com chuva, resolvi fazer uma receita nova da Martoca Stewart pro jantar e não ficou muito boa. Como eu sempre digo pra desculpar as minhas capenguices culinárias, até que ficou saboroso, mas o visual, ai valha-me a deusa.

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medalha de lata

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É uma caracteristica da minha personalidade que eu ainda não sei se é qualidade ou defeito. Eu não sou uma pessoa competitiva e isso realmente não me incomoda. Vou no meu passo, do meu jeito, não estou muito preocupada. Faço o que tenho que fazer e quem quiser passar na minha frente, que fique à vontade. Pode nadar mais rápido e melhor do que eu, ou falar e escrever melhor, e ter lido mais livros, e ter mais amigos, e ter visto mais filmes, e ter visitado mais cidades e mais países, e saber muito mais coisas – pode saber tudo aliás, que eu não vou pensar que preciso me esbaforir e me estabanar toda pra poder chegar na frente e ser melhor que ninguém.

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fancy a game of curling?

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Eu faço parte de um grupo de mulheres que se reune uma vez por mês para uma conversa agradável. São americanas, inglesas, francesas, hungaras, filandesas, canadenses e brasileiras. Os assuntos são divertidos e variados, já que todas são mulheres interessantíssimas e a maioria já viajou pelo mundo. Hoje tivemos uma reunião e eu entrei no meio de um assunto, quando uma contava de um casal – ela canadense, ele inglês – que viveram muitos anos aqui em Davis e agora estão no Canadá. Eles enviaram carta com foto dele posando ao lado de um impressionante membro da Polícia Montada no dia que virou cidadão canadense. Todas riam porque uma contou que o juramento foi feito na correria, pois ele estava atrasado para uma partida de curling. CURLING? CURLING! Curling, minha gente! Dei muita risada, pois desde que saí do Canadá que não ouço falar desse jogo bizarro. Nem vou tentar explicar o que é, porque ninguém vai entender nada mesmo. A não ser que você seja canadense, ou more ou morou por lá. Dai é quase certeza que você já participou de uma partida de curling, ou pelo menos parou diante da tevê pra coçar o queixo e se perguntar – que debilóidice é essa?? Se não é, não foi, não está, não esteve, não há palavras que expliquem esse tal de Curling.

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beep beep beep

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Fui fazer umas comprinhas e em toda loja que eu entrei ou saí que tinha o alarme de segurança na porta eu bipei. Na primeira vez alguém da loja veio conferir se não tinha algo com a tag eletrônica afixada. Eu não devo ter cara de ladra [bom, nem a Winona tinha], pois ele me deu uma piscadela e fez sinal pra eu seguir em frente. Nas outras lojas foi um constrangimento total. Numa delas primeiro soa o alarme bem alto e então uma voz feminina fala em tom ameaçador algo como pare imediatamente e retorne para o interior da loja [e vá pagar o que você está tentando roubar]. Na entrada tudo bem, mas na saída vi atrás de mim uma platéia de pescoços esticados e rostos surpresos me olhando, enquanto eu com a maior cara de atabaque tirava o casaco pra ver se tinha algo nele, ou em mim. Falei entre um sorriso amarelo e uma cara de patza sem-graça, i don’t know why i keep beeping, e casquei fora do pequeno shopping center antes que eu acabasse sendo revistada por seguranças não muito amigáveis em alguma salinha secreta nas imediações.

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what the fcuk?

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Eu tenho uma calça legal. Ela é de veludo cotelê verde oliva, boca larga, cintura baixa, um charme. Eu adoro essa calça, que comprei já faz uns três anos uma thrift store fina [thrift store fina é um oxímoro, eu sei!]. A tal calça é da fcuk, uma loja inglesa que andou na moda, ou ainda está, não sei. Entrei numa delas em Londres, na High Street em Kensington e saí correndo, assustada com os preços. A minha calça fcuk custou oito mangos. E é lindésima. Mas estou aqui divagando porque ela tem uma peculiaridade que até hoje não consegui entender. O ziper dela fica na esquerda. Fui checar as calças de homem pra ver se elas abriam pra esquerda, pois pensei, vai ver comprei uma calça masculina – comigo tudo é possível. Não, as calças de homem têm zíperes na direita, como as das mulheres. Sempre que abaixo ou levanto o zíper da minha calça fcuk penso intrigada – será porque a loja é inglesa? ou porque a calça é pra canhoto? ou está com defeito e por isso acabou no oxímoro? ou é só pra ser diferente. Quem sabe? E quem se importa com esse fcuk mistério?

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o passado não condena