foi o céu que me oprimiu
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No dia 25 de dezembro de 2016 um peso imenso, que estava me destruindo, saiu das minhas costas e do meu coração e fez minha vida melhorar. Estou me reconectando com algo que era muito precioso pra mim e do qual tinha me desconectado. Ou melhor fui desconectada, sem eu querer, sem eu entender o motivo.
Mais um dia horrorendamente quente. Normalmente faz 40ºC com aquele solão e faz a gente se sentir numa fornalha. Mas hoje estava meio estranho, um céu opaco, uma coisa opressiva. Fui nadar às 11:30 e me senti desconfortável. Comecei a sentir fome e pensar em comida nos vinte minutos finais e tive que parar de nadar. Fui ficando tonta, zonza, tonta, zonza. Sorte que tinha umas bolachinhas no carro. Nadei como sempre nado. Comi no meio da manhã. Não foi fome, foi o calor baforento sobre o céu opressor e opaco. É nessa época que penso com saudade na chuva.
Temos que medicar o gato engraçado, que fala com a gente fazendo caras de nhoque. Não está sendo fácil. Na semana do antibiótico pelo conta-gotas fui arranhada em todos os lugares possíveis do meu corpo, um arranhão pior que o outro. Com o comprimido, que ele PRECISA tomar todos os dias, tem sido uma novela. Outro dia chorei desesperada pensando, meu gato vai morrer porque não consigo medicá-lo! Agora o Gabriel está vindo me ajudar. Pensa que é fácil enfiar um comprimido azul garganta abaixo de um gato? Se ele sobreviveu quatro meses perdido durante um verão, tenho certeza que vai sobreviver à essa doença. Mas uma coisa é certa, não acho que terei mais animais depois desses. É muito brutal perdê-los.
Na próxima semana farei uma viagem de trabalho que pros meus padrões tem tudo para ser um baita passeio de índio. Mas já faz muito tempo que decido abraçar com entusiasmos todas as oportunidades que aparecerem na minha frente. Sei que é possível se surpreender.
novo e velho
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min 17ºC — max 38ºC
No caminho pro trabalho, bem na entrada de Davis, ainda tem um campo com os girassóis sendo lindos. Sempre tinha alguém lá tirando foto! Nesse dia era eu. 🌻
Todo ano eu acho que é o pior ano, com o verão mais quente. Um rosário de reclamações sem fim. Mas na verdade é quase tudo igual. Julho & agosto são de lascar, aceita isso e segue em frente.
Por causa do calor, enchi a piscina dos passarinhos.
O gato que dava botes nos raios de sol está doente. Como esse gato sempre foi fabuloso, amigável, brincalhão, bonachão, resistente, divertido. Estou passada que ele já não é mais o mesmo e que já avisto a possibilidade de perdê-lo.
Os anos passam, os problemas são sempre os mesmos. Dentes, dinheiro. Gato doente.
Minha desculpa esfarrapada pra não levantar às 5:30 e ir caminhar—dormir também faz bem pra saúde.
Ouvir rádio é tão bom, tanta coisa interessante. Escuto mais rádio do que assisto televisão.
Estou ficando cada dia melhor em mandar trabalho de volta pra pessoa completar o que não fez e sugeriu que eu fizesse.
bbq master que vai ter que fazer burguer de feijão pros veganos—veganos odeiam comida!
eu—alguns podem até odiar comida, mas todos amam os animais.
Não sou vegana nem vegetariana, mas sinto tanta compaixão pelos animais, considero que essa gente me representa!
Noutro dia, indo buscar os ovos na fazenda, fiquei atrás de uma mulher dirigindo um carro vermelho com o bumper stickers do Trompfts ––MAGA. Fui xingando, inconformada, até ela virar uma rua e desaparecer da minha vista. Achei aquilo o fim da picada, uma ostentação publica da própria estupidez e ignorância.
Consigo ver do carro, quando passo pelo estrada ao lado do pomar de nozes, as frutas enormes penduradas nas árvores. Logo tem colheita!
dá cá
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Primeiro viajei, depois fiquei doente, depois tive uma operaçãozinha bucal. A sensação é que não conseguiria mais voltar à rotina. Saudade da minha rotina, a vida na bolha, dirigir pelas estradinhas para ir trabalhar, caminhar pela vizinhança, fazer minhas comidas, tentar aproveitar o que o verão tem de bom. O verão, que este ano está uma representação da fornalha. Lembro de ter dias de 28C depois de uma onda de calor. Agora, quando melhora ficamos felizes com 33C. Cada dia mais penso com mais certeza de que não quero passar a minha velhice aqui. Pelo menos neste verão temos água.
Falar me cansa e me deixa com desconforto. Uma ótima oportunidade pra ficar quieta. Mas quem consegue? No almoço já fiquei matracando sobre filmes antigos com o meu chefe. Ele tem muita paciência. Quem aguenta esses assuntinhos? Também porque a impressão que eu tenho é que todos falam sempre sobre o mesmo assunto, como uma onda, uma coreografia coordenada de assuntos que não me interessam.
Não lembrava que tinha ido num show da Laurie Anderson, mas fui sim, e foi este blog me ajudou a lembrar. Na sequência achei essa história divertida, que nunca lembraria se não tivesse escrito sobre o ocorrido. Já fui em muito show, não vou mais.
Decidi fingir que não li a opinião idiota que passou por mim noutro dia. Foi o melhor que fiz. Devo fazer sempre.
the way we were
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Fazia muitos anos que eu não olhava aqueles dois álbuns com fotinhas do meu casamento. São dois livrinhos pequenos, capinha de papel, as fotos enfiadas em lâminas de plástico. Eu não quis aquelas fotos caretas de casamento, nem álbum cafona e caro. Meu pai então pediu pra um amigo dele fazer uns cliques. Ficou tudo muito simples, casual, bem amador. Mas era 1982 e nem tínhamos mesmo todos esses recursos e parafernálias que temos hoje. Fui olhar as fotos pra mandar pra família do Uriel e compararmos nossas caras, no primeiro casamento da família e neste último que fomos, da nossa primeira sobrinha. Não esperava ficar tão chocada em ver as nossas carinhas de crianças. Nós com vinte anos, a inocência, o amor e a autenticidade. Não fui uma noiva comum. Pra época, fui bem diferente. Não usei vestido longo, nem enfeite na cabeça, meu vestido era de gestante, pois estava grávida de cinco meses. O Uriel com a gravata do terno torta e aquela cara amorosa dele, o tempo todo de mãos dadas comigo, como se não pudesse correr o risco de me deixar escapar. Lembro muito bem de não ter gostado de mim em algumas daquelas fotos, pois não gostei de ter me deixado maquiar [e pentear e manicurar], nem do casamento na igreja pra deixar a família feliz, aquela pessoa não era exatamente quem eu era. Mas agora vejo que era sim. Fiquei nervosa durante a cerimônia na igrejinha, mas curti imensamente a festa, que só teve bolo e champagne num salãozinho simples ao lado.
Ninguém comentou nada, mas quero dizer aqui que achei eu e o Uriel incrivelmente lindos e extremamente fofos em todas as fotos. Tão felizes, com tantos sonhos e expectativas. Fica muito mais fácil admitir hoje, com cinquenta e cinco anos, que não somos iguais a todo mundo, formamos um casal bem diferente, mas acho que no final deu tudo muito certo.
os Cartier-Bressons [wannabes]
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Não fotografo mais com câmera há anos. Faço tudo com meu iphone, emprestei [dei] minha câmera e lentes pro meu filho. Faz tempo que simplifiquei a vida. Os iPhones fazem fotos ótimas, dão muito bem pro meu gasto e pras minhas necessidades. Fotografo o que bem entendo—frutas, flores, casas, pratos, gatos, comidas, e coloco no meu instagram. Quem gostar, olha, segue, curte. Não tenho nenhuma pretensão. Nunca me considerei fotógrafa, nunca tive essa ambição, nem essa esperança. Faço apenas porque gosto, acho que tem gente que gosta, e se eu gosto, tá ótimo.
Conheço algumas pessoas que ou se acham fotógrafos ou almejam ser, porque têm câmeras maravilhosas [ou pensam que tem], e saem por ai tirando foto de paisagem e de gente. Quase todos esses auto-intitulados fotógrafos ou almejantes de serem um, são péssimos. Uma estoura todas as fotos que ela faz com uma câmera e lente caríssimas usando Photoshop. Outra usa zoom o tempo todo e tira um monte de foto de gente de costas. Outro tem muito que treinar o olho. E mais um, talvez o pior, simplesmente não tem talento nem sitôcometro, usa flash e transforma todos os objetos que ele clica em pura feiura. Não sou fotógrafa, mas sou bem crítica, não me acho assim tão boa fotografando, mas sei exatamente o que é bom. E essas pessoas que eu conheço e que se acham fotógrafas, simplesmente não são.
Uma delas trabalha com fotografia corporativa. Se acha maravilhosa e critica os outros. Nunca me elogiou, não que precise, mas às vezes eu comento as fotos dela por educação. Uma vez ela chamou de HORROROSA uma foto super bonitinha que outra pessoa, amigos em comum, fez. Fiquei horrorizada. Afirmo constantemente pra ela que minhas fotos são absolutamente sobre meu lifestyle e não sobre técnica e profissionalismo, só pra me remover desse grupinho que acha que é artista.
Sigo o blog de uma moça há anos. Ela vive num país frio que não pertence ao circuitão turístico. Ela viaja bastante, mas não são as viagens que me fascinam. As fotos dela, tiradas com câmera, são absolutamente únicas. Nunca tinha visto nada igual. Não sei se tem alguma técnica, mas as fotos são lindas, mostrando apenas o que ela vê, e nem sempre são imagens perfeitas. Quase não tem pessoas, apenas coisas, paisagens. Pra mim essa moça do país do norte é uma verdadeira artista. Adoro todas as fotos que ela faz, me inspiro nela para ser menos rígida com perfeição, alinhamento, clareza, moldura, beleza e visual tradicional. Talvez por ver fotos como as dessa moça, me sinto tão deslocada desse grupo que quer ser algo que não é, que critica sem olhar o próprio rabo, que tem aspirações sem ter talento, mas não tem a humildade de admitir isso. Outro dia tava pensando que com a popularização das câmeras profissionais e a alta qualidade das câmeras de smartphones, estamos virando um planeta de fotógrafos wannabes. Pior é que estamos seriamente nos sentindo verdadeiros Cartier-Bressons, e digo isso achando que essa onda não é realmente uma coisa boa, muito menos positiva.
nem merecia satisfação
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Tava fazendo minha caminhada de rotina pela vizinhança no final do dia e cortei caminho por uma rua por onde não passo costumeiramente. Tava, como sempre, parando pra tirar foto das flores, quando vi uma velhota branquela de cara vermelha sentada na frente de uma casinha me chamando, fazendo um gesto com o dedo. Atravessei a rua e fui lá ver o que ela queria.
ela—você é de alguma companhia?
eu—companhia? não só tô fazendo minha caminhada.
ela—ahnm, caminhando?
eu—sim, moro aqui na vizinhança, tava tirando foto das flores.
ela—ah, é porque andaram acontecendo algumas coisas por aqui….
eu—ah tá…
Virei as costas, voltei pra minha caminhada e deixei a velhoca lá, confabulando sozinha. Em tempos de Tonaldo Drumpts cheguei a ficar ressabiada quando ela me chamou, pois pensei que ela fosse me dizer—o que você tá fazendo aqui, volta pro seu país! Mas era só uma idiota se achando a Xeroque Rolmes da vizinhança, fazendo a ronda com o olho, sem sair da cadeira, checando os indivíduos “suspeitos” que paravam pra tirar fotos “secretas” das flores.
Um pouco mais pra frente senti um cheiro absurdo de maconha vindo de uma das casas da mesma rua. Realmente, os inimigos são os outros.