One Cool Canadian
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Caí da cama às 8:30am para cozinhar um feijão preto, que inventei de fazer uma feijoadinha para a festa de hoje. É mais uma despedida. Mais amigos indo embora, voltando pra terrinha.
Nossa vida aqui no estrangeiro, num campus de universidade, pode ter a trilha sonora com aquela música dos Beatles:
You say goodbye and I say hello
(Hello Goodbye Hello Goodbye) hello hello
(Hello Goodbye) I don’t know why you say goodbye, I say hello
(Hello Goodbye Hello Goodbye) hello hello
(Hello Goodbye) I don’t know why you say goodbye
(Hello Goodbye) I say goodbye.
Why why why why why why do you say goodbye goodbye, oh no?
Pois é….. Pra mim não é! Escolher é uma tortura. Eu às vezes gostaria de contratar alguém pra fazer certas escolhas por mim.
Nossa casa nova tem seis anos de idade e os ex-proprietários abusaram da coitada. Eles tinham seis filhos e dois cachorros fazendo o que bem quisessem lá dentro. Quando nós fomos ver a casa pela primeira vez deu até depressão ver o estado do chão dos quartos, que está forrado com carpete. A impressão que deu é que as crianças derrubavam leite com chocolate e coca-cola nele, tantas eram as manchas escuras salpicadas por todo canto.
Bom, resolveu-se então que trocaríamos o carpete. Queríamos chão de madeira, como no andar de baixo, mas o preço é cinco vezes mais [pra cobrir mais de mil square feet de área] e agora não vai dar. Vamos ter que repôr carpete mesmo.
Então ontem fui na loja designada pela imobiliária, que fez todas as casas da village [são trinta casas] originalmente e que sempre faz esses serviços recomendada por eles. Fui escolher a textura e a cor. Fiquei obviamente completamente tonta dentro do lugar, enquanto o vendedor trazia amostras e mais amostras de carpete. Acho que deu pra perceber na minha cara a indecisão, pois ele me deixou trazer as malinhas de amostra para casa.
Vamos ver agora, temos que decidir até segunda-feira…. E eu estou num sofrimento atroz!
Um tempo atrás eu vivi uma experiência estranha. Uma pessoa em quem eu confiei me roubou. Um roubo besta, numa situação tão patética que foi difícil para mim acreditar que aquilo realmente acontecera. Porque a pessoa tem um monte de probleminhas, eu fiquei até com pena…. Putsz, roubar uma tranqueirinha tão besta e perder minha amizade e minha confiança. Coitada dessa pessoa.
Estava um dia comentando o assunto com alguém e dizendo que a pessoa precisava de ajuda, pois era cleptomaníaca [roubar assim, no impulso e depois me encarar numa boa como se nada tivesse acontecido, só pode ser né?] e ela respondeu “que cleptomaníaca que nada! aquilo foi SACANAGEM mesmo!”.
E não é uma coisa irritante essa mania que a gente tem de querer arrumar desculpa pro comportamento sacana dos outros? É um tal de botar panos quentes e desculpar por causa disso ou daquilo: porque a pessoa vive numa família disfuncional, ou porque tem problemas com o marido/esposa, ou porque está sem grana, ou porque tem enxaqueca, ou porque é muito sensível, ou porque tem saturno na casa um, ou porque tem uma doença, ou porque está desempregada, ou porque tem saudades do Brasil, ou porque está estressada ou deprimida.
Dá licença, né? Vou concordar que Sacanagem é Sacanagem…… e pronto!!!!!
* nesta foto não dá pra ver o ‘barrigão’, mas eu estou no oitavo mês de gravidez, esperando ansiosamente pelo meu baby Gabe!
Eu já costurei muito. Não por talento, mas por necessidade. Eu não gostava das roupas que eu via nas lojas e, na época, tudo me vestia mal. Então eu inventava meus próprios modelitos, inspirada pela minha prima Heloisa, que também fazia suas próprias roupas e era uma estilista nata [daquelas que dobram o pano aqui e ali, cortam lá e acolá, passam umas costuras e tchãn nãn, o paninho se transforma numa roupa linda e diferente!].
Costurar não é uma atividade prazeirosa pra mim, mas é um treino de perseverança e paciência. Eu costuro torto, não gosto de desmanchar erros, me irrito com troca troca de linhas e agulhas e não tenho percepção pra enxergar a peça se formando, as partes se juntando para montar um todo. Mas mesmo assim eu me aventurei nesse caminho e costurei muita roupa para mim [agora imagino o mico que eu pagava andando com aquelas maravilhas feitas em casa..], pro Gabriel [coitadinho…..!] e até fiz umas camisas pro Ursão, que bondosamente usava as ditas pra trabalhar. Também fiz almofadas para os sofás, cortinas para as janelas e até uma vez minha mãe me pagou para eu fazer um pijama para ela! Eu era ousada!
Lembro de uma novela com a Vera Fisher, onde ela era a Jocasta e usava umas blusinhas de cetim de gola alta. Ah, eu fiz um monte daquelas… de todas as cores! Fiz até uma de encomenda pra alguém que viu e gostou, mas no nervoso de fazer tudo direito cortei o pano todo errado e tive que ir na loja comprar outra metragem e no final não ganhei nada com aquilo.
Mas era divertido! Apesar de irritante……
Ontem fui buscar a máquina de costura que comprei da Juliana. É uma portátil e ela me deu um monte de panos e linhas. Me animei toda! À noite, deitada na cama, olhei um livro de quilt e patchwork que eu tenho e fiquei pensando em algumas idéias. Eu decidi que não vou comprar presentes de Natal pras minhas sobrinhas neste ano. Elas tem tudo e nenhum presente que eu compre vai ser algo que irá fazê-las vibrar. E depois com a história da casa a grana vai estar curta por um tempinho. Entao quero fazer os presentes delas….. Pensei numas coisas legais, como uma Rag Doll [uma Emília] para a Paula, que tem quatro anos. Outro dia eu vi a Alice agarrada numa e achei muito legal. E pra Júlia, que tem nove anos, pensei nuns saquinhos pra ela pôr sapatos, carregar coisas. Estou toda cheia de idéias. Quero ver se vou conseguir colocá-las em prática, afinal faz mais de dez anos que eu não costuro. Vai ser divertido e…. irritante!
Realmente eu não entendo esse ‘teatro’ que é o relacionamento entre as pessoas. Pra mim parece brincadeira que alguém pode pensar que eu não estou percebendo o jogo. Será que quem manipula, mente, usa, abusa, descarta, acredita que ninguém está percebendo? Ou será que sou só eu que ando com tolerância zero para hipocrisias e investidas caras-de-pau?
Dia de ventania é sempre um dia caótico. Hoje, além do vento, está nublado, frio e chuvoso. Eu estou procurando um documento antigo do INS que alguém inventou de pedir agora e não acho. O Ursão tem uma pasta de documentos que é uma bagunça indescritível. Eu não achei o papel que eu precisava, mas achei umas fotos de passaporte velhas. Uma delas é do Gabriel, de 1997, que ele tirou para o segundo passaporte dele [já vencido, graçasadeus!!]. Ele está bonitinho, mas está vestindo uma camiseta com os dizeres “Everyday Of My Life I’m Forced To Add Another Name To The List Of People Who Piss Me Off” . E essa foto foi para um documento que ele usou por cinco anos….. Me deu um ataque de riso!!!