back & forth

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Sobrevivi à mais dois longos episódios de jet lag, um pra frente e outro pra trás. Saí no outono e voltei no inverno. E subestimei um pouco o frio, depois de achar que nunca mais pararia de suar em bicas. Este ano voltamos ao frio molhado de sempre, depois de um inverno atipico—sem chuva e neve, do ano passado. Um fato bem notável por aqui é que pode estar o frio que for, tem sempre uma criatura vestida só de camiseta [ou chinelo].
Um pouco mais de uma semana para o Natal e a casa já tem luzinhas e vamos até a montanha buscar uma árvore. Óbviamente não estou pensando muito em festa, mas quando chegar quase lá eu vou me organizar, como é o meu estilo.
Em qualquer continente ou hemisfério, o Natal é sem dúvida a celebração com maior abundância de elementos decorativos cafonas ou simplesmente horripilantes. Da neve falsa aos papai noeis infláveis, quase tudo me horroriza. Mas gosto dos nutcrackers e do brilho das bolinhas de vidro.
Minha vida online—quem tá jogando? que show é esse? quem é você? o mundo acaba quando?
♪ ♫ would you like to take a walk? do you think it’s gonna rain? oh, not in California

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<< deed I do >>

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Coisa linda de ver no meu caminho pro trabalho, a névoa densa e bem baixa cobrindo os campos agrícolas. No jornal da minha cidade saiu uma reportagem detalhada sobre os heróicos bombeiros que resgataram da árvore um cockatoo de 24 anos chamado Yuki. Essa vida agitada da roça. E enquanto isso na cidade grande um sujeito mata de maneira extremamente violenta a cunhada e os dois sobrinhos.

Tirei minha máquina de costura do armário e depois de chutar latas para conseguir trocar a linha e colocar o fio na agulha fiz uma coisa incrível—costurei uma saia que eu não usava com uma camiseta que eu não usava e fiz um vestido que nunca vou usar. Yay! Como eu quase não tenho tempo livre pra fazer coisas que gosto, gasto o pouco que arranjo fazendo coisas inúteis. O meu grande problema no momento são as roupas que apertam. Acho mesmo que esse é o drama da minha vida. No dia em que eu conseguir vestir uma meia calça sem me sentir completamente desesperada, serei uma mulher feliz e realizada.

Já posso com certeza escrever um livro de histórias toscas e bizarras do meu relacionamento com a Ogra, a mestra suprema em me mandar pelo caminho errado, fazer coisa errada, escrever e-mail equivocado, me fazer perder tempo e passar carão.

O frio chegou e com ele um cheiro intenso de madeira queimada no ar. Lareiras acesas na vizinhança. A nossa também já estreou. Casinha com fumacinha na chaminé. Tudo por aqui é temático e sazonal, especialmente os convercês informais. O iniciador de conversa de duas semanas atrás era—are you ready for halloween? O iniciador de conversa neste momento é—are you ready for thanksgiving?

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[shake it & break it ]

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Que pessoa normal que vive neste século e ainda nao fez oitenta anos acorda com o Bing Crosby cantanto na jukebox mental? Profissão: faxineira de html. Mulherogra me manda fazer furadas. Daí tenho que ficar me explicando por e-mail pras editoras de conteúdo e nem posso dizer—foi a burra que mandou eu fazer isso! Snapshots da minha vida na roça: percebi há alguns dias um opossum enorme morto bem na entrada da rampa de saida da estrada quando vou entrar no campus. Ele não está com tripas expostas nem nada. Está enroladinho com a cabeça apoiada nas patinhas, parece que está dormindo, superjudiação! Você ingenuamente pensava que aquele blog tava fazendo algo criativo, até ver a mesma coisa sendo feita [há mais tempo] num blog estrangeiro. Vai chover amanhã e depois de amanhã e depois de amanhã. Primeira chuva em meses. Já até esqueci quando foi a última vez que vi cair chuva por aqui—fevereiro? março? A Califórnia é realmente o maior produtor mundial de uva passa. [entre frutas e humanos]. Felizmente não sou a única ridícula da zumba, pois outro dia tinha uma indiana se sacolejando toda na minha frente que peloamorededeus. Sou maria-não-vai-com-as-outras. Clica no X [cancela].

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and dream your troubles away

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Acordar quando ainda está escuro é um dos grandes inconvenientes da vida proletária.
A secretaria novinha almoçando uma maçā. E eu, em plena meia idade, devorando duas fatias de pizza de aliche/mussarella, salada de abobrinha com alface e queijo, figos frescos e pêssegos grelhados.
Lady Astor––If you were my husband, I’d poison your tea. Churchill––Madam, if you were my wife, I’d drink it!

Vi por acaso duas fotos do meu filho todo garboso com flor na lapela como groomsman no casamento dos amigos no Yosemite. Sou a mãe espiando a vida do filho pelo buraco da fechadura, pela fresta na janela ou por cima do muro.
Vi umas fotos sem saber de onde era, mas tava com cara de Califórnia. E era. Los Angeles. Los Angeles tem uma vibe inesquecível, embora eu não sinta amor nenhum por aquela cidade.
Pode chamar Los Angeles de LA, Sacramento de Sac, mas nunca, nunca, nunca chame San Francisco de Frisco.
Tá explicado porque eu não acompanhei a campanha na eleição presidencial de 2008. Só fui lá e votei no meu candidato. Desta vez estou acompanhando e estou ficando muito estressada!
Jornalista da NPR em Sac que faz entrevistas culturais não sabia quem foi Enrico Caruso. Colega americana de mais de sessenta anos que não sabia quem era Fellini, não conhecia o Gary Cooper, nem a Flannery O’ Connor. Simplesmente imperdoável. Em que planeta vivem essas pessoas?
Meu marido viu o histórico voo do space shuttle Endeavour pela Califórnia no campus da NASA na Bay Area. Eu aqui na roça não vi absolutamente nada.
Quem é Emmy?

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[not] always a bed of roses

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Reconheci o mocinho que inspecionou minha casa em Davis antes da mudança. Aquele que me disse—vá para Woodland com a mente aberta que você vai adorar e vai encontrar lá a sua tranquilidade! Foi exatamente o que fiz e foi o que aconteceu. Toquei levemente o ombro dele para dizer que lembrava dele e mencionei o que ele tinha me falado na época. Conversamos por uns minutos. Ele também mudou, de San Diego para Woodland, o que deve ter exigido uma mente muito mais aberta que pra sair de Davis.
Essa história é parecida com a da mulher que comprou minha mesa de jantar quando desfiz minha casa em Piracicaba para mudar para o Canadá. Ela tinha tido uma experiência similar—morou num outro país acompanhando o marido que fazia um doutorado; e me aconselhou a aproveitar cada minuto, sem ficar chorando de saudades do Brasil pois aquela era uma oportunidade única. E foi exatamente o que eu fiz.
Sei que essas coisas são um baita clichê, frases que as pessoas falam umas para as outras e que podem não significar grande coisa ou absolutamente nada se você escolher não ouvir.

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keep up with the Joneses all the time

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Estava 37ºC e eu exclamei—que calor! Só pra ouvir uma alemã retrucar—mas você não deveria estar acostumada com isso, não está no seu sangue?
♪ ♫ meu sangue latino, minha alma cativa, lalaralá ♪ ♫
Se eu tivesse mais tempo iria me envolver nas politicas de Woodland. Principalmente nas relacionadas a comida e agricultura. Ainda mais que agora tem um grupo que está se reunindo e conversando sobre a possibilidade de abrir um food co-op pro condado. E eu queria muito me envolver nisso.
Ouvi no rádio [NPR] que de cada seis americanos, um é latino. E que a maioria desses latinos prefere falar, ler e ver tevê em inglês. Nada como a realidade desalinhando o chakra dos estereótipos.
Velhota de shortinho e sandalhão—eu lido muito bem com insetos, pode deixar comigo que eu mato sem problemas essa barata.
Moça que faz zumba comigo tem uma cara de malvada. Tento não ficar muito perto dela, com medo de levar empurrão. E ela ainda tem umas unhas enormes, no estilo das da Barbra Streisand, pintadas com a bandeira dos EUA ou tons degradês de verde ou salpicadas de purpurina.
Não entendo por que esse povo que bebe café precisa carregar a canecona pra onde quer que vão—pro banheiro, pra reunião, pra instalar o fio, eteceterá.
Tenho certeza que este verão está sendo o mais quente dos últimos anos. Mas se está quente em Paris também, nem vou reclamar. [rsrsrsrs]
Zen and the art of swallowing frogs gracefully.

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once—more?

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—vocês vieram de onde?
—viemos de Woodland ali no condado de Yolo.
—Woodland? é que percebi que vocês têm um sotaque…
—ah, é que somos brasileiros.
Foi um convercê curto com o artista hipongo que vive na vinícola que visitamos no condado de San Joaquin. Ele foi direto ao ponto, porque não é sempre que as pessoas perguntam. Você fica falando com o seu sotaque, que é algo totalmente evidente, e consegue até visualizar os zilhões de pontos de interrogação flutuando pelo ar. Porque o sotaque do português brasileiro ainda não é tão popular a ponto de ser facilmente identificado. Só que quando rola esse tipo de questão, a resposta nem sempre soa correta pra mim, porque o Brasil não tem nada a ver com a história—nós realmente viemos de Woodland, ali no condado de Yolo, e o fato de falarmos com um sotaque é apenas um detalhe.

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〈 perception 〉

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Triple-digit temperatures—a combinaçāo de palavras que mais temo. Quer verāo de verdade, com bafāo sem umidade tipo sauna seca? Vem visitar o nosso central valley e ver a uva virar passa. Ouvi no rádio uma coisa que já sabia: aguentamos o baque do bafão seco de 40ºC daqui muito melhor do que se fosse 32ºC mas com umidade. E o calor tórrido sem umidade durante o dia e as noites frias do nosso clima de deserto deixam felizes os tomates e as uvas.
Na maioria das vezes qualquer vinho que eu beber aqui nessa Califórnia será bom. Uns melhores. O white zinfandel seria o nosso rosé?
Acho que sou a pessoa que mais come no meu trabalho. E a que mais ocupa espaço na geladeira com comida. E a única com uma coleção de talheres, pratos de bambu e xícaras estocados no armário do cubo.
Vida na roça—pensei que era um acidente quando vi três carros de policia, uma caminhonete do animal rescue e uma policial toda alvoroçada correndo pela estrada. Mas era apenas um bulldog fugitivo tentando escapar. O cachorro todo pimpão estava dando um olé nos humanos, pinoteando de um lado pro outro da estrada com a banha da pança balançando. Todos que estavam nos carros riam.
Muitas vezes eu odeio tanto, tanto falar com sotaque. Mas daí me dizem que 40% da população no campus da UC Davis é estrangeira e desencano.
Eu juro que li numa revista TPM que a moça tem um retrato na parede da sala pintado com o seu próprio sangue. Como será que ele foi feito? Ela foi no laboratório e tirou um tubo de sangue, ou pinchou o dedo com o alfinete e foi pingando sangue na paleta do pintor? Eu não sou editora e muito menos tenho o português perfeito, mas lendo essas revistas TPM, que pego de gratis pro iPad, vejo muitos errinhos publicados.
Na reuniāo de trabalho eu falando sem parar sobre o meu gato velhinho que esta doente. ‪#lotionness‬
Sinto muito mas não tenho tempo pra fazer picles com a casca da melancia.

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a vida social [dois]

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A minha participação um tanto quanto ambígua nas redes sociais tem me deixado reflectiva sobre o que tudo isso realmente significa pra mim. Na vida real eu não sou, nunca fui, uma pessoa gregária. Nunca fiz parte de turmas, grupos, clubes, gangues. E na vida virtual eu pareço seguir o mesmo padrão. Comigo também não rola usar apelidos, nem criar personalidade virtual misteriosa, escondida atrás de um avatar místico. Também não consigo usar as mídias para fazer zilhões de amigos, embora faça amizades, mas no meu ritmo e esquema. Frequento todas as rodas virtuais, mas não sou uma figura popular ou notória. Mas isso acontece porque simplesmente não consigo fazer diferente. Vira e mexe me imagino adolescente e as redes sociais como o páteo da escola, onde você pode estar sozinho, com um amigo ou numa turma. Transpondo isso para a vida real, tenho certeza absoluta de que pelo menos metade das pessoas com quem eu tenho contato virtualmente não me convidariam para fazer parte da sua turma. E vez e outra me transporto para um cenario que marcou o inicio da minha adolescência, onde uma dupla de meninas apontando os dedos na minha direção, gargalhava diariamente durante os intervalos das aulas me deixando completamente deprimida e perturbada. Tudo porque eu, que cresci rapidamente e fiquei alta e desengonçada, vestia uma calça fora de moda e que tinha ficado pula-brejo.

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o passado não condena