quatro zero um

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As quatro da tarde é a pior hora do dia, quando dá uma fome, um sono, uma irritabilidade, um desconforto na bunda, nas pernas e com a roupa. É a hora de puxar e repuxar o sutiã, de desabotoar discretamente a calça, de cruzar, descruzar e levantar as pernas constantemente. É hora de beber água ansiosamente, de pensar no jantar, de ficar zonza com dor de cabeça, de olhar para o relógio a cada cinco segundos e não ver nenhuma mudança concreta. É a hora que já deu, que não se começa nenhum trabalho novo e se estende o término do que estiver pelo meio ou fim, e fazer tudo com o maior desânimo, porque a partir das quatro da tarde só falta uma hora, ou sessenta minutos, para a hora mais legal e alegre do dia, que é a hora de ir pra casa.

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mais um

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primeiro de outubro

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do vinte e quatro ao primeiro

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Oficialmente já é outono, mas na prática estamos naquele período de transição, quando não sabemos o que vestir, casaco pela manhã, mangas curtas à tarde, os últimos tomates e abobrinhas dividindo a cozinha com abóboras de todos os tipos, cores, formatos. Expectativa do que vem pela frente.
No segundo semestre do ano todo mundo da minha família original—pai, mãe, irmãos—faz anos. Não posso esquecer de anotar, ligar. Eu também sou fruto de uma primavera brasileira e hoje amadureço serenamente no outono.
Então ficamos assim, quando a estação realmente pegar velocidade deixando a paisagem dourada, chegará o dia das bruxas, depois o dia de dizer obrigado, e na sequência aquela profusão de festa, festa, festa, festa, que chega a cansar a beleza.
Outubro é um mês marrom, cor de chocolate com tons laranjas e dourados, um cheiro de torta de abóbora, noz moscada e canela. Outubro é o mês mais feliz, o mais bonito, o mais charmoso, tudo, tudo de bom.
Contagem regressiva!

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tudo por causa de um acento circunflexo

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O ano letivo na UC Davis só começa na próxima semana, porque esta universidade adota o sistema de trimestres. Então estava na portinha pra eu me mexer e ir na biblioteca trocar a senha do meu e-mail, que não é só para acessar e-mail, mas também para entrar no novo sistema de holerite eletrônico. Na semana que vem a horda de estudantes vai entupir tudo, provocar filas em todos os cantos, fazer a vida de quem precisa de qualquer serviço dentro e fora da universidade um inferno. Então finalmente me mexi e fui até a biblioteca, onde fica um serviço de contas de e-mail.
Pela primeira vez na minha vida de usuária de senhas, eu esqueci a sequência de uma. E era justamente a do meu e-mail do trabalho. Esse fato pitoresco não estava afetando muito a minha rotina, pois tenho tudo configurado pra lembrar senhas automáticamente. Mas não posso ficar sem saber qual é a senha. Malditinhos programadores que te obrigam a colocar números, letras maiúsculas, letras minúsculas e caracteres. Nessa, como eu uso um teclado internacional pra poder acentuar em português e configurei minha senha quando estava usando o teclado regular, não consigo lembrar a última parte, que termina com um acento. Perguntem se eu anotei a senha. SIM senhores, anotei. Mas perdi o papelzinho também. Conspiração!
Bom, fui trocar a senha que não é uma operação muito simples, porque tem que entrar número de registro e tals, dai alguém te liga, você dá mais datas e números, eles te dão um outro número, daí você vai preencher um monte de outros dados online, até chegar no resultado final. Eu tenho três senhas básicas, que eu uso e reuso, uma adaptada para entrar no meu sistema no trabalho. A única senha que saia fora desse meu esquema de segurança foi exatamente a que eu esqueci. Mas agora já anotei em vários lugares e presta atenção—o acento está no teclado regular. É isso, só um lembrete.

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escrever pra dizer nada

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Sinceramente eu não sei como eu conseguia sentar todo dia e escrever coisas—um resumo do dia anterior, comentários sobre isso e aquilo, historietas e croniquetas, e preencher os arquivos de tantos anos, meses, dias. Hoje passa-se um tempão até que eu tenha vontade e assunto pra escrever. A verdade é que minha vida é bem monótona—casa—trabalho—casa, e o resto é o que está aqui.
Gosto de tascar fora o velho, limpar, trazer o novo. Fiz isso na minha área de trabalho e joguei fora papelada de três anos atrás, badulaques inúteis acumulando poeira. Ganhei um espaço enorme, limpo e iluminado que já me animou com as possibilidades de preenchê-lo.
Final de verão é sempre aquela viajação do camarada Ursão. Ele passou dois dias voltando da Europa. Tá certo que tinha um furacão no meio da história, mas a verdade é que viajar de avião está com os dias contados. Pior pra nós, que amarramos nosso burro aqui na divina terra prometida, que está situada na beirinha do fim do mundo.
Todo encerramento de estação me dá um entojo e eu estou neste estado neste momento. Não quero nem olhar a previsão do tempo, olho com um misto de raiva e inveja os catálogos de roupas lotados de modelitos outonais. No final do inverno nos encontraremos por aqui, para um repeteco desse manjado papo de sempre.

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my brand new [keds] shoes

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Que fizeram bolhas nos meus pés, é claro!
Meus pézinhos de princesa estão se tornando um grande incômodo na minha vida. Já não consigo vestir sapato algum, até os confortáveis me machucam, quem dirá os de salto alto. Sapato vagaba made in china não posso nem passar perto que meus pés já ficam vermelhos. Compro sapatos bons, ortopédicos, de couro amaciado, com sola super estofada, design ergonômico, mas nada disso ajuda. Até os sapatos velhos, já amaciados, me causam bolhas se deixo de usar por um tempo. Tem sapato que simplesmente não dá, ficam encalhados, apesar de lindos, a às vezes até caros. Tenho, além dos chinelos de dedo, três sapatos que não me machucam, entre eles um tênis. Essa sapatilha nova tá com cara que vai ser outro suplício. Ouch!

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e aí, já acabou?

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Eu detesto esportes. Nunca assisto eventos competitivos e não ligo a mínima pra quem ganhou, menos ainda pra quem perdeu. Acho tudo uma chatice monstruosa, não desperdiço um micro-segundo do meu tempo com esportes. Mas as olimpíadas me fazem pensar e lembrar de outra coisa. Durante o tal evento, em 1992, eu estava com a minha casa piracicabana toda desmontada, esperando para embarcar para nossos anos no Canadá. O Gabriel já estava na casa dos meus pais em Campinas, o Uriel estava correndo pra lá e pra cá atrás das últimas e definitivas burocracias e eu passei uns dois dias no apartamento vazio, somente um colchonete fino de solteiro estendido na sala, onde tinha também uma tevê preto & branco que só pegava um canal. E nele passava eventos das olimpíadas em Barcelona. Não lembro de assistir nada em particular, mas a tevê permanecia ligada só para quebrar o silêncio da casa vazia e apaziguar minha ansiedade e angustias com a perspectiva da nova vida que iríamos iniciar. Toda vez que acontece uma olimpíada eu somo quatro anos à nossa empreitada internacional que ficou definitiva e que com essa última completa 16 anos.

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o passado não condena