após a foto, a queda
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Chegamos em San Francisco e fomos ao Ferry Building Marketplace no antigo porto da cidade, para tentar almoçar. Atravessando a avenidona para entrar no mercado, tirei uma foto do ônibus enquando andava, distraída desligando e fechando a câmera tropecei no meio fio e caí como uma manga podre, espatifada na ilha entre as ruas, na faixa de pedestres. Foi uma queda monumental, pois meu corpo voou e caiu numa posição tão esdrúxula, que eu consegui me machucar dos dois lados. A câmera foi atirada à uns cem metros e eu fiquei deitada lá no chão da avenida mais movimentada de San Francisco, com uma multidão à minha volta, minha irmã toda nervosa e todo mundo com celulares engatilhados pra ligar pro 911. Foi uma experiência bizarra, pois cair tira você do seu eixo e eu me senti vagando numa espécie de limbo por alguns minutos. Não conseguia me mexer, nem levantar, não sabia exatamente o que tinha acontecido comigo. Minha irmã disse que eu falei que não estava me sentindo bem, mas eu não me lembro disso. Fiquei lá esburrachada e prostrada, até eles me ajudarem a levantar e ver o estrago—joelhos e cotovelos estrupiados, roxão na cintura e algum dano nas costelas, que doem até quando eu rio ou respiro um pouco mais fundo. Caí, como nunca imaginei que uma pessoa pudesse cair, num mergulho no concreto, no meio da muvuca, em grande estilo.