a grama é verde–verdíssima

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Lá pelas três da tarde, depois que envio meu pacote de publicação do dia, saio para uma longa caminhada. Preciso esticar as pernocas, arejar. Tento fazer isso duas vezes por dia, mas normalmente acabo fazendo só nesse horário da tarde. Dou uma volta enorme pelo centro do campus, circulo uma área bem extensa de gramado, chamada de Quad. Agora que os dias estão prazeirosos e bonitos, a grama fica salpicada de gente, deitada, sentada, dormindo, estudando, comendo, usando o computador, conversando, jogando frisbee ou bola. Gosto da maneira com que as pessoas aproveitam as áreas verdes, os gramados. Muitos, a maioria estudante, nem usam uma coberta, nada. Sentam direto na grama gelada, tiram os sapatos, relaxam.
Domingo caminhei pelo arboretum da universidade na hora do almoço. São três milhas de pista dupla ladeando um riacho bem comprido, onde tem patos, tartarugas. E uma vegetação extensa com espécies de todos os lugares do mundo, árvotes, arbustos, todo tipo de plantas, flores, e grama, muita grama, espaços enormes de gramado que se estendem para os lados do campus. Nesse domingo cruzei pelo caminho com muitas famílias, casais de namorados ou de idosos, gente com cachorros, bebês no carrinho, todo mundo feliz e sorridente, aproveitando o dia lindo. Nos gramados havia gente dormindo, lendo, namorando, tomando sol, e muitos fazendo picnics, uns com cestinhas, outros com coolers, e ainda os improvisados com take outs de restaurantes ou supermercados. Gosto muitíssimo da maneira com que as pessoas aproveitam as áreas verdes, os gramados. Vejo com simpatia esse despojamento, esse jeitão “nonchalant” de fazer uso intensivo das áreas públicas, aproveitar a natureza, o sol, e deitar e rolar.

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bichos

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Caminhando pelo Arboretum, vi aquele cavalo no estábulo balançando a cabeça pra lá e pra cá, pra lá e pra cá, num ritmo constante. Até caminhei com o corpo virado pra poder olhar por mais tempo, pois ele não parava—cabeça pra lá e pra cá, como se estivesse dançando, ouvindo música no IPod.
Primavera, lindas flores, vento, mosquitos voando na direção da minha boca, colam no batom, gasp, cusp. E um deles voou pra dentro do meu olho—do olho! Pensem bem nisso.
Tenho pavor de pensar que aranhas viúvas negras estão morando na minha casa. Vi uma aranha na minha horta no ano passado. Ela era preta com um corpo meio avermelhado. Achei que era uma viúva. Pirei! Hoje vejo uma semelhante na minha cozinha, indo pra debaixo de um armário. Pirei em dose dupla, dentro de casa! E os gatos, cadê aqueles vagabas que deveriam estar caçando bichos invasores? Tenho que matá-la, tenho que matá-la antes que ela desapareça! Joguei rapidamente uma folha de papel toalha em cima da aranha e …PLEFT, pisei em cima. Que sensação HORROORRRIIVERRRR! Eu não sirvo pra matar nada—nem aranha, nem barata, nem formiga. Sou uma bocó mesmo.

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comfy

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Eles A-DO-RA-RAM!
Cada um na sua— o Roux na vermelha, o Misty na azul. Se bem que o Roux, vocês já sabem, faz o Misty sair da caminha dele e entra só pra dizer que pode. Mas tirando essas pequenas travessuras, está cada um na sua, ora esparramados, ora encaramujados, sempre com aquelas caras blasés de gatos mimados.
Por que não pensei nisso antes?

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um estilo que é meu

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Quando vi a foto desse look no The Sartorialist, parei, como se para na frente de um espelho. Esse é o meu estilo, sem tirar nem pôr. Não sou eu, mas poderia ser, se eu morasse em Milão, e ainda tivesse a idade dessa menina.

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No meio da couve-flor tem a flor, tem a flor

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Que além de ser uma flor tem sabor…ôô
O inverno voltou, com ventania. Choveu florzinhas, que caiam de todas as árvores, espalhando uma densa camada de pétalas delicadas pelas ruas. Choveu granizo que, como toda chuva de granizo, atraiu as pessoas às portas e derreteu em minutos. Ventou muito, fez frio e fez sol, confundindo os passantes, que nunca sabem como se vestir apropriadamente nesses dias de transição.
O jantar foi uma fatia de pizza e um kiwi. Corri. Banho. Maquiagem. Brincos que só saem da caixinha em raras ocasiões.
Foi meu único show da temporada de inverno. Digam que foi sorte, ou pauzinhos sutilmente mexidos a meu favor. Eu não ando trabalhando muito no Mondavi Center, porque à noite estou sempre cansada, e quero tentar caminhar e tentar cozinhar, ler, ver um pedaço de filme. Mas me enlistei para trabalhar na apresentação do Gilberto Gil.
Tudo me parecia uma miragem— numa noite fria de primavera em Davis, o ícone da Música Popular Brasileira que embalou nossos anos de adolescência e inicio de vida adulta, bem ali no palco, cabelos grisalhos longos em tranças, túnica e calça branca, cantando Maracatú Atômico. Foi um show longo, delicado e bonito. Fui dormir tarde e estraguei o meu dia seguinte. Mas quem disse que não valeu a pena?

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e tem também os patos

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Esquilinhos saltitantes, patinhos quaqualantes na linda cidade de Davis. Os esquilos eu já disse—são uma praguinha, apesar de bonitinhos. Todo santo dia eu quase atropelo um com a minha bicicleta. Ou ele quase me faz ter um acidente. Outro dia ficamos, eu e o esquilo, naquele impasse, vai não vai, pra onde mesmo, páro ou viro, sigo ou retorno? Até que eu pedalei em frente e fiz o xingamento oficial: praga dresgranhenta!
Os patos também são dignos de nota. Já sairam até no jornal O Globo! Eles residem na cidade onde os carros param para eles atravessarem a rua. Mas pérai, o que os patos estão fazendo atravessando a rua? Pois é, vejam se não é uma praga. Eles pertecem ao Arboretum da UC Davis, onde eles têm riachinho, comidinha, morrinhos, arbustos a vontade. Mas eles estão felizes lá? Claro que não. Uns patos rebeldes resolveram explorar outros territórios, então eles andam pela cidade, atravessam a rua, a avenida, vêem dormir na grama do meu jardim, fazer seus totôs e infernizar a vida da gente com seus quacks. Vejam bem, esses patos são mimados, eles são metidos, eles quackam pra você, de maneira agressiva quando você passa por eles. Se bobear eles te bicam. Mas o pior é o caos que eles causam no tránsito da cidade. Toda hora tem lá um micro engarrafamento, porque um casal de patolinos resolveu atravessar a rua da maneira mais tranquila, e às vezes indecisa, do mundo. Todo dia eu vivêncio ou observo uma cena dessas, que é uma fonte de angustia para os motoristas, que precisam tomar o máximo de cuidado para não acabar fazendo um splosh-splash numa dessas criaturas.
Não é realmente bucólico?

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hello, vera!

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e o céu do Napa Valley…

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I know we’ve come a long way, we’re changing day to day

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But tell me, where do the children play?
Minha tia Anah me disse uma vez, do alto dos seus quase oitenta anos, como somos incrívelmente ingênuos na nossa juventude, achando que nada nos atingirá, que nada de ruim vai nos acontecer, e que não vamos morrer, nem envelhecer. Ela me contou que tinha absoluta certeza – ah, imagina! eu não! nunca vou ficar velha! Mas ficou. Abriu-se uma ampla janela na minha consciência e comecei a perceber o que nunca tinha percebido e ando pensando em coisas que nunca tinha pensado antes. É mais ou menos como quando chegamos na puberdade e deixamos de ser crianças. Perdemos a carinha infantil, o corpo se transforma, os hormônios borbulham, o psiquê muda e é aquele dramalhão, rios de risadas e lágrimas descontroladas. Acho que temos uma outra fase bem semelhante na nossa maturidade, depois de anos com a mesma cara e corpo, coisas começam a mudar e começamos a ver nossos pais refletidos no espelho, os hormônios borbulham novamente, o psiquê muda e começa tudo de novo, só que desta vez com uma perspectiva bem diferente. Estou justamente aqui. No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho.

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time is [not] on your side

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Eu usei muita mini-saia. Até nos invernões canadenses, com meia grossa, valha-me deus! Mas lá pelos trinta e oito eu cansei. Não foi bem cansei, mas saquei que não tinha mais nada a ver, não ficava mais legal, me dava um ar estranho, não combinava mais. Aposentei as sainhas, mas não aposentei as saias, que uso muito e adoro. Eu não sou um exemplo de nada, pois sempre fui muito pudica com meu corpo e eclética na minha maneira de vestir. Mas se tem uma coisa que eu juro que tenho é sitocomêtro. Posso até dar bafão por estar com uma aparência de palhaça, mas nunca vou cair na armadilha do pseudo-sexy-vulgo-baranga.
Domingo, num café em Calistoga, vi essa mulher com cara de ter no mínimo uns sessenta anos vestida como uma garotinha de dezesseis, com uma micro-saia cor-de-rosa de babados e sapatos brancos de salto altíssimo. As pernas finas, longas e brancas salpicadas de pequenas veias azuís. Ela estava acompanhada por um tipo vestido de calça de tergal e sapato cor de creme. Ele pelo menos não estava chamando a atenção. Cada um faz o que quer, se veste como quer, mas sempre com o mínimo de dignidade, que é imprescindível.
Eu tenho certeza que aquela cena da mulher de sessenta anos vestida com uma adolescente é o mais puro reflexo da pressão que sofremos todo-santo-dia, vivendo numa sociedade onde só o jovem, o sexy e o bonito tem lugar ao sol. As pessoas fazem coisas ridiculas para tentar congelar o tempo, que infelizmente é implacável e cruel. Só escapa da velhice quem morre jovem.

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o passado não condena