coisas que facilmente se realizam

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A jornalista me mandou todo o material de um artigo para eu colocar online na seção de notícias. Veio junto uma foto com uma família de porcos selvagens. Não sei por que, não me perguntem por favor, mas tive um ataque de riso, até chorei, mal conseguia me concentrar, olhando pra carranca daqueles bichos.

Fui ao banheiro no Kerr Hall e tinha uma barata viva, craquelenta e antenuda bem na porta, só esperando a melhor oportunidade para adentrar o recinto. Fiquei possessa, entrei na latrina falando alto – murtaqueoparir, uma barata! assim não dá! E não dá mesmo, afinal aquele é um prédio na renomada Universidade da Califórnia. Na volta, outra barata – irmã, tia, amiga daquela, desta vez na porta do meu prédio. Eu quero falar com alguém, chamar os responsáveis, denunciar, chorar de desânimo, pois estou cercada, elas são onipresentes.

Na hora do almoço os gatos acordados e no andar de baixo da casa, muito estranho. Sentei pra comer e comecei a ouvir um barulhinho no teto da cozinha. Tremendo, subi até os quartos, desarmada e na ponta dos pés. Pensei em sussurrar – tem alguém aí? Mas resolvi ficar quieta e pegar o que ou quem quer que fosse no flagra. Imagina! Me deu um cagaço literal. Não vi nada, nem ninguém, mas confesso que não olhei bem. Será que era um rato? Fui escovar os dentes com aquela atitude desconfiada. O Roux se postou em pose de bote, olhando com aquela cara de gato que viu algo em baixo da cama. Desci as escadas correndo, vesti o casaco e me pirulitei de casa, pedalando a bicicleta pelas ruas o mais rápido que pude .

A jornalista me olhou e disse – você está com uma cara de quem está prestes a chorar. É o frio, retruquei. Não sei por que eu sinto tanto frio.

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olá mamãe! estou no jornal!

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[* clique na foto para ampliar]
Durante todo o processo de troca de e-mails com a repórter, fotografias e entrevista, eu fui cética com relação à minha participação nessa matéria – o que um blog todo em português vai fazer numa reportagem sobre food blogs da cidade? Não tenho a resposta, mas no final gostei muitíssimo da reportagem feita pela simpática Claire St. John. Estou no suplemeno Sunday do jornal The Davis Enterprise [sem link online, infelizmente], acompanhada de outros quatro talentosos food bloggers de Davis.

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o estado do que é recorrente

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São situações difíceis de se explicar. No inverno, por exemplo, eu sinto frio. Muito frio. Eu tremo, eu suo no suvaco de tanto frio. Tenho frio nos pés, no pescoço e nas mãos. Demoro pra esquentar. É um horror, todo inverno, todo inverno. Outra coisa é que todo dia eu sinto fome, especialmente no período entre nove e doze e cinco e sete. É uma fome irritante, que me faz descontrolar e comer coisas idiotas como um sanduíche de peanut butter, ou só a peanut butter com a colher. Nessas horas eu também devoro pizzas, e pão, e queijo, e banana. É um horror, não consigo me conformar! E tem ainda esse negócio esquisito de toda noite eu ficar cansada, sentir sono, querer deitar e dormir. É uma coisa mais forte do que eu. Minha cama tão aconchegante, macia e quentinha me chama – vem, vem, vem. Eu não consigo resistir. Deito, me estico e durmo muitas horas. É um horror, toda noite é a mesma história, toda noite, toda noite!

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whatever happened to…

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Desde que voltamos à trabalhar no três de janeiro que o quiosque de recepção, onde ficava a pequenina secretária, está vazio. Eu sou meio cabeça de vento e também não costumo entrar pela porta da frente, sem falar que tenho pouquíssimo ou nada a ver com a área administrativa do programa, por isso só fui notar a ausência dela quando avisaram num e-mail que ela não tinha regressado dos feriados de final de ano. Numa reunião do nosso grupo de tecnologia, fomos avisados que a mocinha certamente não vai voltar. O certamente é um certo incerto, pois na verdade não há informação. Eu perguntei meio sem graça de parecer enxerida – o que aconteceu, ela teve um acidente ou ninguém sabe? A resposta foi, ninguém sabe.
Pra mim isso é material pra roteiro de filme. Ela saí no feriado prolongado e não volta. Ninguém sabe o paradeiro. Ninguém! Será que ela fugiu com alguém procurado pela lei, está tentando atravessar a fronteira do Canadá ou México, dirigindo há semanas num El Camino azul turquesa conversível, comendo junk food, dormindo em motéis, ligando pra família em segredo de telefones públicos no meio do deserto? Drogas? Sexo? Rock ‘n’ Roll? Ela era uma pequena mulher, loirinha, tatuada, tímida, sempre de salto alto, estranha, como todos nós somos. Nada incomum, nada que pudesse antever o fato que um dia ela iria simplesmente se escafeder.

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sally can’t dance no more

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Tô sabendo que não se deve dar ouvido às matildes, que um cachecol de lã é peça útil no inverno, que em boca fechada não entra mosca, que seguro morreu de velho, que nós tomamos decisões que afetam inexorávelmente o nosso destino, que amizades nascem e morrem todos os dias, que nada é impossível ou imutável, que o café deve ser forte, que devemos sempre dizer obrigado, mas que não precisamos, nem devemos engolir sapos. Tô sabendo que este ano será um casulo verde, que vou me retirar do cenário, talvez não chova na minha horta, mas isso não quer dizer que não vou ver tudo flores. Tô sabendo que certas roupas pinicam e incomodam, que é normal se irritar, que é saudável chutar latas e depois comer chocolate, que chorar é bom, mas que ninguém precisa ficar sabendo.

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continuo ouvindo a sua risada

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“To be or not to be?
That’s the motherfucker question!”

Ha ha ha! Eu sei que se ela ler isso, vai entender a piada e rolar de rir, me mandar muitos pisc, pisc, pisc, e me dizer coisas que vão me fazer rir ou ficar ohmaigod! É da sua contagiante e espontânea risada – ahhh, minha querida fezoca – que eu vou me lembrar sempre, sempre. So long my dear friend, be well, be happy!

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um dia Zz – imitando os gatos

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Está frio, muito frio e o aquecedor portátil estava cozinhando parte da minha bunda e perna de um lado só. Então subi, vim escrever do desktop. Eu não fazia isso há anos – sem brincadeira! Estou viciada na mobilidade e conveniência do laptop. Mas quero contar o meu dia, que foi assim, competindo com os gatos:
4:50am – acordei com o despertador. escuro, frio, um barulhão de vento, temperatura caindo, caindo. fiz um pequeno bowl com aveia, leite e banana em rodelas, comi acompanhado de meio copo de suco de tangerina e duas torradas francesas. li blogs e notícias na cozinha, com o aquecedor esquentando as pernas, ouvi o vento, temperatura caindo, caindo.
6am: fui tomar banho, me arrumei, roupa quente, hidratante, perfume, batom.
6:30: tomei os quatro comprimidozinhos: 1 de 4mg dilaudid, 2 de 30mg halcion, 1 de 25mg phenergan. subi, coloquei o despertador para as 7:55am, deitei na cama, me cobri, apaguei.
8am: ouvi ele me chamando, vamos, Fer! levantei, passei batom, coloquei as botas, casaco, cachecol, entrei no carro, apaguei.
Lembranças nebulosas: estrada indo para Vacaville, consultório do dentista, recepção amigável, quer ir ao banheiro, branco, como está, senta aqui, dentista simpático, tudo bem com você, e o dente, tudo bem, estou com sono, vai ser só uma picada, vira a cabeça pra esquerda, branco, abre a boca bem aberta, branco, branco, branco, tudo bem, agora você vai ver sua dentista, branco, branco, branco, chegamos, Fer, visão da garagem, ele me apoiando, deitei na cama de roupa e tudo, uma caixa cheia de batata frita, põe o guardanapo assim pra não fazer sujeira, não esquece que não pode mastigar daquele lado, tá, comi as batatas, não tomei o remédio, não liguei a tevê, olhei o relógio – quase meio dia. apaguei.
4:50pm: acordei de um sonho, desci, fiz café com leite, torrada francesa com manteiga, suco de laranja. toctoctoc, a inquilina vem fazer uma pergunta sobre o provedor de internet, tudo bem, você está com uma cara cansada. acabei de acordar e tomar o meu café da manhã.

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fashion show

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É sério – se eu ver, hoje ou amanhã, alguém vestindo camiseta ou chinelo de dedo, vou gritar!

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o passado não condena