coisas que facilmente se realizam
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A jornalista me mandou todo o material de um artigo para eu colocar online na seção de notícias. Veio junto uma foto com uma família de porcos selvagens. Não sei por que, não me perguntem por favor, mas tive um ataque de riso, até chorei, mal conseguia me concentrar, olhando pra carranca daqueles bichos.
Fui ao banheiro no Kerr Hall e tinha uma barata viva, craquelenta e antenuda bem na porta, só esperando a melhor oportunidade para adentrar o recinto. Fiquei possessa, entrei na latrina falando alto – murtaqueoparir, uma barata! assim não dá! E não dá mesmo, afinal aquele é um prédio na renomada Universidade da Califórnia. Na volta, outra barata – irmã, tia, amiga daquela, desta vez na porta do meu prédio. Eu quero falar com alguém, chamar os responsáveis, denunciar, chorar de desânimo, pois estou cercada, elas são onipresentes.
Na hora do almoço os gatos acordados e no andar de baixo da casa, muito estranho. Sentei pra comer e comecei a ouvir um barulhinho no teto da cozinha. Tremendo, subi até os quartos, desarmada e na ponta dos pés. Pensei em sussurrar – tem alguém aí? Mas resolvi ficar quieta e pegar o que ou quem quer que fosse no flagra. Imagina! Me deu um cagaço literal. Não vi nada, nem ninguém, mas confesso que não olhei bem. Será que era um rato? Fui escovar os dentes com aquela atitude desconfiada. O Roux se postou em pose de bote, olhando com aquela cara de gato que viu algo em baixo da cama. Desci as escadas correndo, vesti o casaco e me pirulitei de casa, pedalando a bicicleta pelas ruas o mais rápido que pude .
A jornalista me olhou e disse – você está com uma cara de quem está prestes a chorar. É o frio, retruquei. Não sei por que eu sinto tanto frio.