The fashionable me
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Vi lá na Cris e também vou fazer!
What to Wear: fake fur
What NOT to Wear: colant de lycra, macaquinho de plush e leggings de malha com alça nos pés
What to Shoe: mary janes da Keen
What to Bag: uma variedade, dependendo da ocasião e do humor
What to Denim: low rise boot cut
What to E-Bay: posters antigos de cinema
What to Tee: preta básica
What to Accessory: xales largos e colares compridos
What to Bargain: gadgets e utilidades de cozinha
What to Jewelry: brincos de pressão vintage
What to Makeup: hidratante, batom, blush
What to Fragrance: Ajubá da Chamma da Amazônia
What to Hair: Be Curly da Aveda, para manter as ondas
What to See: qualquer filme dos anos 30
What to TV: TCM
What to Listen: Blues, Dylan
What to Read: livros de culinária, M.F.K.Fisher, Julia Child, Elizabeth David
What to Eat: pizza feita em casa, saladas
What to Drink: água & vinho
Esta sou eu
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Pintei o meu cabelo de preto e não estou me reconhecendo no espelho. Vou ao banheiro muitas vezes durante o dia. E é lá – ou indo ou voltando, que penso na maioria das coisas que escrevo aqui. Vou porque bebo muita água. E faço caretas, espirro, limpo o nariz, cruzo as pernas, suspiro, bocejo e bufo. Isso herdei do meu pai. Quando estou concentrada em algo que não está dando certo, eu bufo. Depois que me toco que tem gente em volta, vendo e ouvindo minhas bufadas. Estou zumbi porque não dormi muito bem. Sonhei, acordei, chorei, fiquei com uma cara de pinguça. Vesti um macacão jeans e uma blusa branca, porque ouvi alguém dizer que um blues man se vestia assim, todo dia. Eu não sou um blues man, mas gosto de pensar que sou. Estou preocupada, eu sou assim, me preocupo e sofro por antecedência, fico nervosa, estressada, me acabo. Depois tudo dá certo, ou nada acontece, e eu fico com aquela cara abestalhada, sorrindo com todos os meus dentões. E choro de alivio, de alegria. Mas sempre choro, disso eu não escapo. E esquento a moringa, me chateio. O dia nublou quando eu fiquei sabendo da morte do cachorro. Nada escapa, nada passa batido. Sou preguiçosa. Queria ter aquele pique de atleta, correr uma maratona, escalar uma montanha, esquiar. E saber analisar. Escrever uma tese de doutorado, mas tenho vergonha do que escrevo. E sou impaciente e imediatista, quero tudo agora, escrever agora, publicar agora, ler agora, chegar agora, acabar agora.
seis? seis!
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Tão brincando comigo, hein? São realmente SEIS anos escrevendo aqui? Uffh, arffe, bluff, fuuhn….. Não cansou ainda?
Dylan não toca mais guitarra
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Eu vi o Dylan pela primeira vez em Sacramento em 1999, quando ele dividiu o show – não o palco, felizmente – com o Paul Simon. Foi a realização de um sonho de muitos anos. Depois disso virou rotina. Em 2001 eu vi O Show mais bonito, que aconteceu exatamente um mês depois dos ataques terroristas. O público estava emocionado, Dylan estava inspirado. Em 2002 eu fui ao melhor show, quando dancei com Dylan e realizei um outro sonho, de ficar bem pertinho dele. Em 2004 ele veio até a minha cidade e deu um concerto na UC Davis, quando meu marido reclamou que não estava entendendo nada que o Dylan cantava e eu concluí o óbvio – que ninguém entende o que ele canta. Foi um bom show, apesar do Dylan nem ter se mexido no palco, mas isso os fãs entendem e aceitam. Ontem fui ver Dylan em Sacramento, no mesmo lugar que vi ele pela primeira vez em 99, na quadra de basquete dos Kings, o Arco Arena. Eu não gosto daquele lugar, acho insípido, não é a melhor venue para um show como o do Dylan. E para a minha surpresa, teve uma banda muito jovem abrindo o show. Dylan entrou com a mesma banda que o acompanha há anos – os rockabillies de terno burgundy, camisa e chapéu pretos. O cowboy Dylan estava de jaqueta branca, cabeleira grisalha desalinhada, que ele ajeitava entre os números. Vestiu um chapéu para Highway 61 Revisited e não tirou mais. Ficou no keyboard o show inteiro, de costas para o lado direito da platéia – ufa, eu fiquei de frente pra ele! Fez um show limpo, bem amarrado, seguro, previsível, misturando velhos hits, com hits novos do seu album recente. Depois da última música, ele voltou ao palco para agradecer aos aplausos. Sempre daquele jeitão dele, que os fãs já conhecem e nem estranham. Eu gostei de tudo, claro! Acho que vai ser difícil eu não gostar de um show do meu ídolo mor, um cara que eu venero e adoro há tantos anos.
* Dylan e sua banda em Sacramento, Califórnia – 18 de outubro de 2006.
Set list: Maggie’s Farm – Just Like Tom Thumb’s Blues – High Water (For Charley Patton) – When The Deal Goes Down – Tweedle Dee & Tweedle Dum – Tangled Up In Blue – To Ramona – It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding) – Rollin’ And Tumblin’ – Ballad Of Hollis Brown – Highway 61 Revisited – Nettie Moore – Summer Days. Encore: Thunder On The Mountain – Like A Rolling Stone – All Along The Watchtower.
war is not the answer
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Não lembro onde eu estava indo no sábado pela manhã quando passei por eles. Do outro lado da rua a fila enoooorme do restaurante japonês já estava formada, longa e jovem, caras de estudantes, asiáticos, em pé por horas para encher o bucho de sushi. E na calçada oposta aquele grupo silencioso enfileirado, também em pé, imóveis, sérios, muitas cabeças com cabelo branquinho, olhavam para o outro lado, ou não olhavam pra nada, mas estavam ali – como é rotina, todo santo sábado desde que essa guerra podre começou – protestando silenciosamente, segurando cartazes, deixando claro que são contra, como eu, como você. Só que eles passam todas as mannhãs, de todos os sábados, ali naquela calçada, mostrando que não concordam. Passei por eles pensando nas palavras da Angela Davis, que disse à uma platéia lotada no teatro da universidade na semana passada – ninguém precisa ser um herói, mas todo mundo pode fazer alguma coisa, ser um pequeno ponto, participar fazendo pequenas coisas, num esforço conjunto para uma grande mudança.
iê-iê-iê
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Tenho visto muitas meninas pelo campus vestindo mini-saias. Algumas na bicicleta, pedalando como podem. Essa é uma moda que vai e volta. Vi muitas saias curtíssimas nas lojas – até vi uma nem muito curta, que me lembrou umas saias que eu fazia cortando e costurando calças velhas. Acho que a primeira mini-saia que usei depois que deixei de ser criança, foi uma feita por mim mesma, com uma calça cortada e emendada. Eu tinha essa mania de criar minhas roupas. Tinha – felizmente perdi esse entusiasmo anos atrás e agora me contento em comprar compulsivamente e possuir quatrocentas mil peças descombinadas. Mas mini-saias estão fora do meu guarda-roupa já faz tempo. Eu ficava bem nelas, por causa das minhas pernas longas. Usava as saiocas até no invernão canadense, com meia-calça grossa e botas. Mas num belo dia começei a me achar estranha vestindo saia muito curta. Uma coisa que eu tenho horrorrr, pavorrrr, terrorrrr, é de virar uma mulher madura sem noção. Você pode ter quarenta e cinco anos e ser jovial, liberal, moderna, papo-firme, divertida, exótica, simpática, excêntrica, super chique, diferente, estravagante, engraçada, bonitona, interessante. Só não pode ser ridícula, e foi por isso que eliminei as saias super curtas do meu guarda-roupa. E não sinto a menor falta!
um visual very psicodélico
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Minha chefe veio me falar uma coisa – eu sentada, ela em pé, eu olhando pra ela, e ela gesticulando e fazendo um movimento de corpo pra frente e pra tras. Fui ficando zuretra, minha vista embaçou, fiquei tontíssima, vendo tudo atrapalhado. Quando ela saiu do meu raio de visão, respirei aliviada e enquanto recobrava a minha visão me convenci de que deveria ser proibido por lei usar blusa branca com listras pretas desiguais – grossas e finas misturadas – para vir trabalhar! Ainda estou com o estômago embrulhado.