na tonga da mironga do kabuletê

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Quando os fogos de artifício começaram a pipocar, eu já estava deitada, de luz apagada, vendo Sergeant York na tevê. Fizemos uma maratona atrás de um restaurante aberto para almoçar. Acabamos no supermercado, comprando ingredientes para preparar um rango brejeiro em casa mesmo. Vimos de relance os bicicletistas pedalando por downtown. Esse foi o nosso 4th of July.
Estou no quarto de hóspedes, onde vou ficar até agosto. Sou sempre protagonista de histórias bizarras. Precisa de uma? Me avisa que eu tenho muitas. Uma nova inquilina mudou-se para a nossa guest house, fechou as janelas, ligou o ar condicionado e não desligou mais. O trambolhão, que dá para o nosso quintal e pras janelas do nosso quarto, faz um barulho insuportável. Ela não paga eletricidade. E não aceitou o nosso pedido de desligar o treco durante a noite. Quiprocós pra cá, quiprocós pra lá, foram quase dois meses estressando e arrancando os cabelos, até finalmente conseguir que ela nos desse uma explicação. Ela não desliga o a/c e abre as janelas porque tem alergias, e um cachorro de três pernas. Dois bons motivos para infernizar a nossa vida e nos fazer mudar de quarto. Já recebeu o convite para retirar-se. Muda-se em agosto, quando poderemos finalmente voltar à vida normal, como abrir as janelas do nosso quarto à noite e almoçar ou jantar no nosso quintal.
Hoje, péssima notícia vindo da minha dentista. Como eu odeio essa raça de profissionais. Nada pessoal, entendam.
Mas que gente fina, culta e civilizada, hein?
A hipocrisia, a hipocrisia máxima: fulanetes que criticam e ridicularizam nos outros, coisas que são igualmente criticáveis e ridicularizáveis neles mesmos. Que tal começarem a se olhar de vez em quando num espelho, queridos?

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*sou a Miranda desta casa

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Fui com meus amigos ver The Devil Wears Prada. Eu estava esperando um final menos Frank Capra, mas não tinha outro jeito. Ela escreveu o livro, então estava mais do que óbvio que tinha cascado fora do mundinho fashion. Sinceramente, acho que não há mais glamour algum, nem quase idealismo nenhum na profissão de jornalista. A massa escreve pra plebe, por isso é que tablóides e revistas de fofoca são tão populares. Paramos numa esquina depois do filme e conversamos sobre carne de laboratório, crueldade com os animais, fome no mundo, a futura provável pandemia da gripe aviária [freak out total!], the Big One, An Inconvenient Truth, Al Gore, Nike na China, sweatshops, Banco do Brasil, Natura, jornalistas assassinando a gramática, advogados escrevendo em grego, e até Michael Moore. Não pegamos realmente o espirito da coisa – The devil honey, wears Prada darling, why is it so hard to understand?*

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I could have been a contender!

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Acho que foi a primeira vez na minha vida que mergulhei numa piscina olimpica, dessas onde os atletas treinam e competem. Me deu uma sensação muito estranha, de ser pequena, ou então, do mundo ser muito grande. Pensei no potencial das pessoas, que pode ser estimulado e desenvolvido, ou não. Será que eu poderia ter sido uma atleta, nadando pra valer numa dessas piscinas super fodonas? Não sei, nunca vou saber.
O propósito de estarmos ali é para treinarmos o percurso longo. A piscina olimpica da UC Davis tem o dobro do comprimento da nossa piscinazinha dos Aquatic Masters. E é muito mais funda, e muito mais larga. Cinco nadadores, que na nossa piscina iriam ficar apertados, nem conseguiam ficar muito perto. Não tem apoio, nenhum nadador profissional fica se apoiando na beiradinha. Me senti “overwhelmed” pela quantidade de água, pela distância, pela magnitude do esporte levado à sério e às últimas consequências.
Nadei por trinta minutos, olhando para frente e para os lados, observando cada detalhe diferente: o painel de faixas de metal pintadas de branco com uma cruz preta – a target da virada, a distância das bandeirinhas de finalização, as marcas no fundo da piscina, até o gosto da água, que era estranhamente salgada.
Tenho até o final de agosto para aproveitar essa oportunidade de nadar olimpicamente e me sentir grande outra vez, ou de fazer o mundo voltar ao seu tamanho normal. Nadar no mesmo ambiente dos atletas, com minhas pequenas e humildes aspirações de comum mortal.

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Rebecca

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Por alguns meses andei me sentindo como a personagem do filme de Hitchcok, a moça simples e tímida casada com o viúvo da mulher inesquecível. No filme, descobrimos chocados que Rebecca não era a mulher maravilhosa que parecia ser. Espero um dia descobrir isso sobre a Kathy.
Até agora a impressão que eu tive da Kathy é a de uma pessoa super confiante, competente, cheia de contatos, uma mulher de carreira. Na metade das vezes que respondo ao telefone tocando no meu desk, é alguém procurando por ela. Toda vez que alguém me ensina algo novo, ouço o nome dela ser mencionado – Kathy costumava fazer isso assim. Este era o jeito que a Kathy fazia. Nunca perguntei onde está Kathy, pra onde ela foi e por que ela deixou a posição dela aqui neste projeto, onde fui contratada para substituí-la. Sou a segunda Mrs. de Winter, a que veio depois, que preencheu o espaço vazio deixado por Rebecca.
Hoje saí da minha probation de seis meses e fui oficializada na posição que ocupo desde inicio de janeiro. Já troquei o nome da Kathy pelo meu em todas as guidelines, já anunciei que ela não trabalha mais aqui para dezenas de vozes anônimas que digitam o meu número buscando por ela. Estou limpando o código sujo e pesado que ela deixou pra trás. Me mudei definitivamente e com certeza logo vou fazer com que todos se esqueçam de Rebecca, ops – como era o nome dela mesmo? Ah, Kathy!

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saí deste post, pois ele não te pertence

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Passei o dia montando umas páginas novas sobre inimigos naturais [das pestes das plantas]. Juro por deuso que algumas das fotos me perturbam, perco o apetite, ainda não me acostumei, faço caretas de nojo, ali sozinha olhando pra tela do computador.
Acho que só eu que vai trabalhar na segunda-feira. Todo mundo tirou o dia de folga pra emendar com o 4th of July. Eu não posso, pois estou economizando dias de férias pra dezembro. Pisc!
O sapato tão fofo, da mesma numeração que todos os meus outros sapatos [9], me faz ficar com um pé minúsculo, como se eu fosse uma freak de circo. E mancha os meus pés de preto. Fiquei muito chateada…
Estou sem tevê. Desconectei tudo para mudar o móvel de lugar e agora não consigo reprogramar o controle remoto, que é a base de tudo. Ontem dormi vendo um dvd do Gary Cooper no computador. Improvisão que não vai funcionar mais.
Estou tentando com todas as forças não me estressar. Fechei todas as janelas.
Mal posso esperar para daqui a pouco, tchiguunn……!

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Se eu morrer, não me enterrem na lapinha

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Eu sei que tem gente que não se estressa pelas coisas que eu me estresso. Infelizmente sou uma chatonilda e talvez eu morra por causa disso, enfartada pela irritação produzida por essa falta de noção generalizada que parece ter impregnado parte da humanidade. Todas as histórias já torraram, e vão com certeza esturricar.

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é goool!

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Não tem jeito mesmo. Nasci brasileira, portanto estou fadada a carregar os estereótipos nas costas pelo resto da minha vida. Samba! Carnaval! Futebol!
Todo santo dia o diretor do programa para o qual eu trabalho vem comentar os jogos da Copa comigo. Comigo! Imagina. Estou acompanhando os quiprocós e resultados pelas manchetes, mas não estou assistindo aos jogos. Não é a minha praia. Mas mesmo assim virei confidente do americano-australiano, que acha que eu bato aquela bola.
Hoje ele me mandou um vídeozinho cômico por e-mail – a seleção italiana treinando pra enfrentar os australianos. É pra conformar-se rindo, já que a Austrália foi eliminada. Daqui a pouco ele vem aqui no meu desk, comentar o jogo perdido e o jogo ganhado. Ele diz que quer ver Brasil e Portugal na final. Já pensou? Se isso acontecer, me verei metida numa verdadeira confa….

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insistente

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É claro, pois não custa nada lembrar – AQUI, AQUI, e agora também AQUI !

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o passado não condena