umassuntoatrásdooutro

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Veio a chuva e o frio pra deixar o dia bem triste e cinza, e combinar com o banzo que dá na gente quando uma visita de família vai embora. Caminhando pela milhonésima vez pela Golden Gate, com aquele vento gelado zunindo e fazendo doer os ouvidos, senti o quanto é forte o meu medo de altura. Pedi encarecidamente, vamos embora daqui! O rei das perguntinhas tolas fez a pergunta errada para um chinês mal humorado. Eu não deveria, mas chorei de rir, porque escuto essas perguntas há anos e sou sempre criticada quando dou respostas atravessadas. Estou fazendo um “plant sitting” nesta semana, cuidando do vaso do meu colega que saiu de férias. A rega é de água filtrada. Uma família de esquilos mudou-se para o jardim que rodeia o meu escritório. Levo sustos com eles, que pulam rapidamente entre árvores e arbustos. Estão sempre naquele croccroc eterno, comendo tudo que encontram pela frente. As máscaras dos posudos caem mais fácil do que se poderia imaginar. Fiquei super animada com uma proposta da minha nora de reservar um dia e juntar amigas que gostam de costura, tricot, beading, e terminar juntas aqueles projetos começados e nunca terminados. Só eu tenho um monte deles acumulados. Estou na espera do caminhão marrom. Histórias pra contar não faltam, o problema é o tempo, e a vontade.

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Dear Olmo Dalco

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Às vezes dá vontade de escrever em formato de diário. Hoje acordei com o barulho do caminhão às 6am. Recebemos uma visita de uma pessoa importante nas nossas vidas e que não víamos há nove anos. Nossa visita trouxe fotos do final dos anos setenta e pudemos mostrar ao Gabriel o pai dele magrelo, cabelos ruivíssimos, com dezesseis anos. Sempre de camisa xadrez, mas naquela época era moda. Ele também viu o tio com quinze anos, parecendo um menino-personagem de filme americano dos anos 40. Disse pra minha nora, essas fotos são preciosas pois fazem uma conexão com um passado muito longínquo. Não quis dizer longínquo de tempo, mas de distãncia física. Lembrei do sentimento caloroso quando vi pela primeira vez uma foto dela criança, abraçada ao irmão fazendo uma cara engraçada, me senti super conectada à ela. Entende? Ontem jantamos carangueijo e camarão num lugar incrívelmente barulhento, mas com vista privilegiada. Fomos comprar presentes. Dormimos com as janelas abertas. Vai chover e minhas lanterninhas de papel estão penduradas entre as árvores, no quintal.

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atire a primeira pedra

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– oi, desculpa, mas você está com a etiqueta da loja colada na perna da calça…
– oh, minha santa filomena, que vergonha!
– que nada, isso acontece! é que seu visual está tãooo fantáaastico, que eu tive que ficar olhando e por isso vi a etiqueta colada…
– super obrigada por me avisar!
Quem já não fez dessas, esquecendo de tirar aquele adesivo comprido que vem nas calças, com numeração e tais. Uma calça de cor escura e com o adesivo na parte de trás, não podia dar outra… Ainda bem que eu não tinha me movimentado muito e essa era a minha primeira caminhada matinal para uma visita ao wanderley.

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Fique louca, nega

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Estava contando os minutos para ir almoçar. Até separei o material para o trabalho que iria começar quando voltasse de casa. Quase levantei da cadeira quando o reloginho digital na barrinha do computador mostrava: 58 min, 59 min. Achei que tivesse tendo um outro episódio de enxaqueca ótica, quando invés de 12:00 PM, os números mostraram 11:00 AM. Pestaneja, pestaneja – mas não é possíveeeel! Sim, é possível sim, que você está sempre se equivocando.

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Sal a gosto

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Todos os sábados, estarei rabiscando os meus assuntinhos culinários , na excelente companhia de tantos bons escrevinhadores.

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eu poderia estar comprando…

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Eu tenho um sério problema com relação à gastar meu dinheirinho com roupas caras. Para sapatos, eu advogo em favor de um bom investimento em pares de qualidade, confortáveis, e que não deixem os pés bolhudos, craquelentos, chulezentos ou em carne-viva. Se bem que muitas vezes sou surpreendida pelo conforto de uma sapatilha de seis e noventa e nove da Target. Mas com roupas eu sou mais turrona. Ninguém ainda conseguiu me convencer que as roupas compradas em lojas caras, no estilo e cores da estação, são melhores do que as que eu compro baratotalzissimas nos outlets, liquidas e pontas de estoque. Elas têm etiquetas com nomes e marcas famosas, e tanta qualidade quanto as roupas de qualquer outra loja regular. Só que custam um quinto do preço. Pra mim isso dá uma certa tranquilidade, pois se eu certamente e fatalmente espirrar molho de macarrão, pingar caldo de laranja, ou enroscar na maçaneta da porta e fazer um rasgo na minha roupitcha de alguns poucos dólares, não vou me descabelar nem um fio.

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TGFS – um passeio de índio na hora do almoço

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Minha horazinha de almoço é preciosa. Vou rápidamente pra casa de bike, tiro os sapatos, falo com os gatos, escovo os dentes, repasso perfume, leio correspondência, relaxo. Eu valorizo esse break no meio do dia. Mas hoje fui obrigada a mudar essa rotina, por causa de um evento anual para os funcionários da UC Davis. É o TGFS – Thank God for Staff, quando ganhamos um almoço indígena no parque, com atividades índigenas para o entretenimento da bugraiada. Nada contra os índios, que devem se divertir muito mais que os funcionários da Universidade da Califórnia, naquele picnic lá onde judas perdeu as botas, com uma comida insonsa e sob um sol de rachar coquinhos.
O dia já começou mal quando quase perdi a carona para a fazenda, onde teríamos mais uma reunião chata com os writers, quando eu fico lutando contra mim mesma para não soltar dez bocejos por segundo e tentando desesperadamente fazer com que meus olhos parem de se revirar de sono e tédio. Voltando da reunião chata, perdemos o comboio da turma que iria caminhar brejeiramente até o local do picnic. Adam e eu, deixados para trás, seguimos sozinhos e atravessamos o campus falando amenidades. Quando chegamos no TGFS eu já percebi a fria. Logo na entrada, um carpete vermelho – isso mesmo, com um bando de gente de ambos os lados carregando cartazes com dizeres cafonas elogiativos, e berrando frases estúpidas como – você são os MELHORES! Outro bando entrava na nossa frente e tirava a nossa foto, como se fossemos celebridades e eles paparazzis. Mas o pior ainda estava por vir. Bem na nossa frente, com a cara toda vermelha e a mão toda suada de cumprimentar um por um dos funcionários, estava nada mais nada menos que o chancellor da UC Davis, Larry Vanderhoef.
Entramos no picnic, arrumamos uma sombra pra estender o quilt que eu levei, pegamos água e comida – que estava bem mais pra menos do que pra mais, comemos, conversamos e voltamos, novamente à pé e pelo caminho mais comprido, torrando no solão da uma da tarde. Não comi nada especial, fiquei com o pé sujo, cansada, suada, descabelada, fiz uma bolha no dedinho, estou achando que estou fedendo e ainda tenho que trabalhar mais algumas horas. Já decidi que não vou ao TGFS do próximo ano. Nem pra poder apertar a mão suada do chancellor e dizer com cara de eu-te-conheco-de-outros-carnavais: ahn, helloow….

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Um dia inadequado para o uso de saias

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Uma das coisas que eu tenho o hábito de fazer logo pela manhã é olhar a previsão do tempo. Isso ajuda a me orientar no que vestir para enfrentar o dia. Se eu sei que vai esfriar, chover, esquentar, nublar, posso me antecipar.
Bom, pensei, hoje vai fazer quase trinta graus, será um dia ótimo para estrear uma das minhas tantas saias compradas e nunca usadas. E vesti aquela saia estampada de um veludinho ultra leve. Mas nada na previsão do tempo me alertou sobre a ferocidade do vento.
Já pedalou uma bicicleta contra o vento? É duro, é difícil! Imagina então pedalar contra o vento implacável, com todo tipo de folha, flor, galho, poeira e fragmentos da natureza voando em redemoinhos, batendo na sua cara, engarfanhando-se no seu cabelo, te cegando os olhos, entrando pela boca, e você ainda ter que se preocupar em segurar a saia, que insiste em se abrir como uma flor e mostrar ao mundo que tipo de calcinha você usa.
Cheguei ao trabalho inteira e até que consegui manter uma certa postura enquanto pedalava bem devagarzinho. Depois de me recompor, espirrar e limpar o nariz por meia hora e beber um chá, fui falar com a minha supervisora para tirar umas dúvidas. A primeira ação dela foi elogiar o meu visú primaveril – que saia mais fofinha! A segunda foi espanar umas flores secas que estavam engruvinhadas no meu suéter.

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o passado não condena