os gosmentos & os craquelentos

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A reunião era para discutir e decidir a implementação de uma seção nova de links em todas as páginas, de todas as pestes, de todas as culturas. A página aberta na tela, a servir de exemplo, era a de um tipo de ácaro chamado de San Jose scale. Por causa da foto do bicho, estava difícil prestar atenção no que fosse, senão naquela imagem de um tronco de árvore coberto de escamas-vivas. Me fazia lembrar uma perna gangrenada, cheia de feridas purulentas. Só de lembrar, sinto calafrios, arrepios, coceira na cabeça e me pego rangendo os dentes e fazendo caretas de asco e horror.
Essa é uma parte bem chata do meu cotidiano de trabalho, vira e mexe dando de cara com fotos de larvas, ácaros, insetos, fungos, pestes vertebradas e invertebradas, que me fazem saltar da cadeira, ou fechar os olhos num susto e nojo. Os scales são os que me dão coceira. As larvas me dão enjôos, e seus ovinhos me fazem murmurar sons abafados de repulsa e sofrimento. Mas ninguém mais parece se importar com essas imagens – nem no grupo da web, nem no grupo dos escritores técnicos. A perspectiva de que um dia eu também vou me acostumar, me conforta.
Meu trabalho, que se estende numa escala realmente ampla, pode ser resumido basicamente como o de transferir para a web, as publicações técnicas e acadêmicas sobre gerenciamento integrado de pestes. Muita coisa eu adoro fazer, outras nem tanto. Uma das coisas que eu gosto de fazer é atualizar uma seção que eu montei para a assessoria de imprensa divulgar seus artigos. O que eu realmente não gosto é receber o material para mais uma atualização, com um press release de praxe e uma foto em alta definição de uma fruta toda podre com uma lesma melequenta saindo lá de dentro, toda garbosa e em destaque.

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a situação

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Ontem tomei um banho às 8pm e deitei para ver tevê , também decidida à escrever nos meus blogs. Comecei um post para o Chucrute com Salsicha quando o meu marido chegou empunhando um rolinho de massagem, se oferecendo pra me dar um tratamento de relaxamento. Fechei o laptop, recebi a massagem e catapuf…. Acordei hoje às 6:30am.
Muita, muita coisa acontecendo, a mente vazia de idéias, sem inspiração e motivação para escrever. Sem falar que o meu leitor mais importante não está podendo me ler, então estou realmente devagar. Mas continua tudo em pé, aqui, aqui e aqui.

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and these visions of Johanna are now all that remain

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Estou vestindo uns tamancos suecos vermelhos que a sogra do meu filho me incentivou a comprar anos atrás dizendo que eu poderia ” até correr” com eles, se quisesse. Eu mal consigo andar. Ela é norueguesa e deve ter tentado provar a sua teoria dos bons vizinhos mais uma vez, comigo e com os tamancos. Mas estou de bicicleta.
Se eu estivesse no Brasil, poderia contar também com meus pais e irmãos. Aqui, a única certeza que eu tenho é que posso contar com o meu marido e meu filho.
Estou feliz da vida com a volta dessa queridona!
Todo dia eu vejo um pequeno grupo em tour pelo campus. O guia falando e caminhando de costas, olhando para o grupo que caminha de frente.
Comprei um guarda-chuva novo, colorido e largo, depois que o meu inglês made in china foi surrupiado da minha varanda. Parou de chover e abriu um solão.
Não, o Sonny Rollins não é um lambisgóio!!! [*pisc !!!]
Meu cotidiano poderia ser um longo sketch do SNL. [**pisc !!!]
Como se livrar de um Rickdoe pegando no seu pé? [***pisc !!!]
Ouvir um cd over, and over, and over até que é normal. Mas ouvir uma música somente, over, and over, and over, pode ser comprometedor
Tenho uma coisa muito importante e polêmica pra dizer: tem gente que é realmente full of baloney.

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longos dias

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É um troço chato. Os relógios que não se ajustam automáticamente, têm que ser reajustados à mão. Trabalho para o Urso Camarada. Hoje será um dia de confusão mental. Eu olho pro relógio e ainda não entendi como pode ser tão tarde. Entramos em horário de verão. Os dias agora serão longos e eu tenho sentimentos divididos com relação à isso. O negócio é que ainda estamos em climão de inverno, com uma chuva incessante e fria, vestindo casacos, perdendo guarda-chuvas, dormindo de meia, jantando sopa quente. Os gatos já deram o sinal de confusão, dando um escândalo matinal. Acordar uma hora mais cedo, com o relógio marcando uma hora mais tarde, a sensação de que algo está errado e gatos espancando a porta do seu quarto, pode não ser um bom começo para os longos dias que virão.

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cara-a-cara

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Trocamos alguns emails, fui formando uma imagem, uma impressão. A escrita é muito fria, engana, distorce, nunca nos mostra a verdadeira faceta do outro. Depois veio a voz pelo telefone, que já acrescentou uma vivacidade maior, um outro item ao conjunto, e foi dando um contorno muito mais exato. Mas a melhor coisa é o encontro pessoal, quando se dá o abraço, se olha no olho, junta a voz com a pessoa em carne e osso, e se pode ver a personalidade ali escancarada, simpatia à primeira vista! Esqueça os emails. Você não conhece realmente ninguém até ficar cara-a-cara com a pessoa.

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sigambá, gambamos

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Eu achava que não tinha uma resposta à altura pra aqueles chatos que insistem em inserir em qualquer conversa suas conexões manhattan com ricos & famosos. Mas eu não sou plebe não. Também tenho o meu currículo calçada da fama.
– estudei no mesmo colégio que a mulher do jogador Careca do Guarani.
– fui amiga de uma amiga das filhas da Jane & Herondi.
– morei no mesmo prédio que a compositora do Ovelha e do Wanderlei Cardoso.
– a mãe do Everton de Castro foi nossa vizinha por dois anos.
– meu marido foi entrevistado pelo Rodolfo Gamberini.
– abracei o cunhado do Jimi Hendrix. [essa arrasou Paris em chamas, hein?]
– meu pai é primo de segundo grau do Carlos Manga.
Tô no topo ou não topo?

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por linhas tortas

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Meu exercício de nadar é algo puramente egoísta e solitário. Nado porque adoro nadar, e porque me faz bem. Não nado pra me enturmar ou arrumar amigos na piscina, nem pra competir e ser melhor. Não faço questão de elogios, nem de torcida, nem de aplausos. Gosto de nadar sozinha numa raia e de fazer o que me der na telha. Detesto ser mandada, ser direcionada – faça isso, faça aquilo, assim e assado. Gosto de fazer meu próprio set, sem ninguém me dando dicas. Detesto fazer parte de grupinhos, com aquela enturmação falsa e conversinhas tolas. Adoro refletir e pensar enquanto nado, não fico contando os yards, nem os minutos. Adoro dar minhas braçadas e pernadas mesmo não sendo rápida, nem tendo a melhor técnica. Nadar pra mim é um prazer. Vai deixar de ser quando começarem a me pressionar pra fazer tudo perfeito, num esquema pré-determinado e dentro de regras.
É exatamente a mesma coisa com o meu exercício de escrever.

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o passado não condena