ilusão coletiva

*

Dois dias de temperaturas amenas e sol brilhando, a paisagem já mudou. Me refiro também à paisagem humana. Os gramados da universidade se encheram de gente, todo mundo escarrapachado no verde, tomando um solzinho. Uns lendo, outros comendo ou dormindo, uma menina fazendo macramê, um cara sentado com as pernas em lótus e braços levantados em posição de ioga embaixo de uma árvore. Vi apenas um meditando porque estou na UC Davis. Se estivesse na UC Berkeley veria pelo menos uns dez. E gente dançando, que esses ainda não vi aqui. Mas verei, quando o verão realmente chegar. Acontece que ele ainda não chegou! Mas o povinho não quer nem saber e já trocou até o guarda-rupa. Da janela da minha sala posso observar a movimentação do centrão do campus e só tenho visto chinelos e mais chinelos – uma invasão de pernas brancas e pés pálidos nunca vistos antes. E shorts, mini-saias, blusinhas de alcinha, óculos escuros, chapéu de palha, garrafinhas de água…. Peraí, peraí, calma, né, people! Mas o caso é que de tanto olhar pra esse visual verânico da minha janela, acabei convencida que fazia realmente um calorão e saí para almoçar sem levar o casaco. Cheguei em casa tremendo de frio e com as mãos roxas. Foi só dar uma esquentadinha que rolou uma histeria geral. O que esse pessoal vestindo chinelo está pensando da vida?

  • Share on:

sofre, glamourete, sofre

*

A blusinha é linda, mas não ficou tão linda em você, além do que ficou um pouco apertada. Isso importou? Claro que não, pois você comprou a blusa assim mesmo. Como poderíamos explicar esse seu comportamento?
Marque uma ou mais opções:
[ ] Consumismo cego
[ ] Falta de noção
[ ] Teimosia
[ ] Gene recessivo dominante
[ ] Prazer histérico em jogar dinheiro no lixo
[ ] auto-imagem ilusória
[ ] macumba
[ ] demência galopante

  • Share on:

não custa nada perguntar

*

Preenchendo os formulários do income tax no escritório do H&R Block:
– vocês querem doar três dólares pra campanha presidencial?
– não, claro que não!
– de jeito nenhum!

  • Share on:

dando o pira

*

Mudanças acontecem. Hoje estou sentada no sofá da sala de tevê. É mais ou menos como se eu estivesse dizendo, estou dando pulos e jogando a bola numa argola de basquete. São coisas que eu nunca faço, ou fazia.
À tarde escrevi rápidamente para uma amiga e no meio da mensagem usei uma palavra forte que eu não usava há séculos: soterrada. Estava soterrada de trabalho. Ainda estou. E pra mim isso não é ruim. Sou como uma viciadona, bring more, more, mooooooore!!!!!!
Sei pelos meus arquivos que no final deste mês a vida já vai estar bem mais florida. Outro dia fui olhar pela janela do meu banheiro whyinhell a cachorra do meu vizinho latia tanto, e vi surpresa flores roxas na trepadeira que se expande cada vez mais na moldura da porta do quintal.
Depois de sete anos usando as minhas botas DcMs favoritas durante o outono e inverno, comprei um par novo de DcMs iguaizinhas as velhas!
Pisei no rabo do Roux, saiu até um chumaço de pêlos. Coitado, mas o tonto fica dando pinotinhos em volta de mim querendo brincar e eu rindo tropecei no tapete, nele, e pléft no rabão. Foi uma miação e correria….
Eu devo ser uma geek pra achar engraçadíssimo o que os geeks falam ou fazem. A verdade é que fico dando gargalhadas ouvindo os diálogos mais surreiais, tais como – eu perdi um computador, você viu algum por aí? – não, não vi, sou cego.

  • Share on:

acabou!

*

Ainda me lembro de um mês de fevereiro, só não lembro de que ano, que passou tão devagar que me deu angústia. Parecia que aquele mês não iria acabar nunca, os minutos viravam horas, as horas dias e os dias simplesmente não terminavam. Este mês de janeiro foi um repeteco daquele tal fevereiro. Nossasenhora, como esse mês passou devagar pra mim. Quando me toquei que ele ainda tinha trinta e um dias, desanimei – mas não teve trinta e um dias em dezembro? Porca miséria! Mas como tudo que tem um começo tem que ter um fim, o mês de janeiro finalmente acabou. Aleluia, irmãos!

  • Share on:

lost & not found

*

Perdi meu humor no mall. Esclareça-se primeiramente que eu faço visitas anuais à malls, porque detesto esse esquema de compras e tenho crises de melancolia nos corredores desses lugares. Fui à um mall aberto, desses que devem ter sido criados para o clima ameno de Los Angeles e foram replicados pelo país afora. Exatamente nesses onde se morre de frio no inverno e se derrete de calor no verão. Fui porque estava animada querendo comprar coisas bonitas, mas desanimei rapidinho quando comecei a ver um mundo de coisas feias, todas em tamanho Small e Super Extra Small. O que está acontecendo neste país de gente comprida e larga, onde o tamanho predominante nas lojas de roupas é o Small? Além da feiúra, da mesmice e da escassez de coisas bacanas no meu tamanho de mulher grande, me irritou incrivelmente a música tocando em volumes quase insuportáveis dentro das lojitas féxions. Perdi a concentração pra olhar qualquer trapo que fosse. Com isso perdi também o meu humor e casquei fora. Só volto no próximo ano, quando já tiver apagado da memória a visita de hoje.

  • Share on:

o rato e o blog

*

pearls20060121046729.jpg
» eu não canso de dizer que Pearls Before Swine é o melhor e o mais engraçado! se você ainda não conhece, clique, amplie e role de rir…..

  • Share on:

caí como uma pata

*

Mais ou menos de dez em dez anos alguém me vende a ponte do Brooklyn. É normalmente uma situação muito bem esquematizada, que me deixa completamente atrapalhada e da qual não consigo me esquivar. Abri a porta para um fulano que me viu na cozinha e abanava as mãos como se me conhecesse pela janelinha da porta. A conversa durou apenas alguns minutos, quando só ele falou: contou que era do Mississippi, ralando pra se tornar não-sei-o-que, através de um programa que não pesquei o nome, disse que tinha quarenta e cinco anos, sacou sei lá de onde, num gesto rapidíssimo, uma foto que me mostrou dizendo ser ele com o neto, gesticulou muito, com a cara cada vez mais próxima da minha, elogiando o meu sorriso sem-graça, fazendo todos os salamaleques possíveis e me mostrando uma papelada encardida com títulos de revistas e um monte de nomes de pessoas listados com letra de mão. Já recusei assinar revista pra inúmeros tipos que vira e mexe batem na minha porta com o mesmo papo. É sempre pra ajudá-los com os estudos, ou com um emprego e são todos um coitados. Mas esse era o rei dos coitados. Disse quase chorando, não faz isso comigo, quando eu já totalmente confusa afirmei que não iria comprar nada. Consegui finalmente fechar a porta depois de colocar uma nota de vinte dólares na mão dele, que anotou desengonçadamente não sei o que num papel amarelo, me fez escrever nome-endereço-profissão num outro e se mandou naquela pressa, enquanto eu passava por um episódio de confusão mental, pensando se tinha ou não caído num conto do vigário. De repente me toquei que a única letra diferente na lista de nomes-endereços-profissões de doadores era a minha e estou até agora matutando se a assinatura da revista que eu supostamente doei para um grupo de crianças vai mesmo chegar lá, ou se vai somente virar vinte mangos extras no bolso de um malandro.

  • Share on:

não sou o seu contador

*

Uma coisa que eu considero o fim da picada da grossura é gente que fala de dinheiro como se estivesse falando do tempo. Em cinco minutos de conversa você praticamente teve acesso à conta bancária e orçamento da figura. Você não sabe se o tipo gosta de maçã ou banana, mas sabe quanto ele ganha, quanto ele gasta, com o que ele gasta, onde ele faz o imposto de renda, como ele é esperto e sempre tira vantagem financeira de tudo, quanto ele paga de conta de luz, quanto isso, quanto aquilo, quanto aquele outro. Eu escuto com uma resistência enorme, porque na verdade não quero realmente saber. Tento fazer um lalálalálalá mental, que nem sempre funciona, então tome números, engula cifrões e faça a digestão se puder.

  • Share on:

aah, paraíso!!

*

Não é à toa que eu ADOROOOO viver aqui! Leiam nos arquivos, ali no Same Day in Other Years, eu descrevendo um show de Blues que fui num bar, onde NINGUÉM fumava lá dentro. É paraíso ou o quê??
– – – – – – –
da BBC Brasil:
O Estado da Califórnia se tornou o primeiro americano a classificar a fumaça produzida por cigarros como “poluição tóxica” do ar.
Com essa classificação, determinada na quinta-feira pela agência governamental responsável pelo controle da qualidade do ar, a fumaça do cigarro fica na mesma classificação dos gases produzidos por carros a diesel.
Isso pode permitir que o Estado amplie as restrições sobre o fumo.
Para a agência, muitos estudos científicos ligam o fumo passivo ao aumento de risco de uma série de doenças, que vão de câncer a problemas respiratórios.
A Califórnia já é um dos Estados – e um dos locais no mundo – com as maiores restrições ao fumo.
Foi o primeiro Estado a proibir o fumo no local de trabalho e também foi pioneiro na proibição do fumo em restaurantes e bares.
Um estudo recente mostrou que apenas 16% dos californianos fuma, mas que 54% dos adultos e 64% dos adolescentes estão expostos ao fumo.

  • Share on:

o passado não condena