Angélique Kidjo

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Entrei na seção da orchestra do teatro e a diva africana Angélique Kidjo estava ensaiando com a banda. Vestida informalmente de calça e camiseta, ela dava ordens e dicas, treinava com a menina do backing vocal e cantou quatro músicas enquanto eu assistia em pé, entre as centenas de cadeiras vazias do Mondavi Center. Me senti privilegiada, pois ganhei um showzinho particular de quatro músicas!
O teatro não lotou, mas pra esse tipo de show um lugar lotado não iria ser legal, pois Angélique fez a platéia dançar. O repertório incluiu ritmos africanos, caribenhos e até rock n’ roll, com uma versão de Voodoo Chili do Jimi Hendrix. Além de cantar e dançar, a diva falou muito [um pouco demais]. Contou da sua infância inocente na Africa e do seu choque quando descobriu que os African Americans tinham sido africanos escravos levados à força para a América. Contou como ela decidiu abandonar a carreira de advogada, depois de estudar na Universidade de Paris, para usar a música como instrumento de união dos povos. Contou também que ficou muda e paralisada quando teve que visitar um orfanato de crianças infectadas com o HIV na Tanzânia como representante da UNICEF. Lá ela não quis cantar nem falar, mas as crianças a requisitaram – “queremos ouvir a sua música e preferimos as dançáveis”. Ela ainda falou de paz, terrorismo, que o mundo precisa se unir, que o amor é mais importante e eteceterá. Quase no final do show, ela desceu para a platéia onde cantou uma música caminhando e abraçando as pessoas e depois trouxe todo mundo com ela para o palco.
Tínhamos sido avisados que ela chamaria a platéia para dançar no palco, então foi montado um esquema. Eu estava na porta que dá entrada à uma das laterais do palco, para ajudar a levar os dançantes para lá. Foi um forfé, pois o Mondavi Center é um teatro razoavelmente careta e tradicional, com lugares marcados e mil e uma regrinhas. Apesar da programação do teatro incluir uma variedade impressionante de artistas de todos os cantos do mundo, o assunto ‘dançar’ ainda é meio tabu por lá, por causa da altura das seções e dos esquemas de segurança. Bom, eu já estava no palco junto com a muvuca, quando recebemos a ordem dada pela house manager para fazermos uma barricada na beirada do palco, para evitar que alguém mais entusiasmado caísse de lá de cima. Que bafão! que mico! Tive que ficar no palco por um tempão, dançando timidamente e morrendo de vergonha de estar lá em cima e ainda mais naquela posição idiota de proteger o público! A sorte é que escapei dos holofotes.
Mas tirando o desconforto de ser um ‘dois de paus’ no palco, enquanto todo mundo suava e se rebolava alegremente, fiquei encantada com Angélique Kidjo, que não só cantou e dançou, como pediu abraços de todo mundo que estava lá com ela. Somente no final, quando ela apresentou a banda, que vi que tinha três brasileiros tocando com ela. Li no programa que ela fez colaborações com o Gilberto Gil, além de outras figuras famosas da música brasileira, norte-americana e mundial. Quando terminou o show eu entendi porque ela é chamada de African Diva. Ela é diva pois é realmente grandiosa!

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