escrevi uma vida

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Quanta coisa que escrevi aqui nos últimos anos. Se eu tivesse tido um bebê quando iniciei esse blog aos 39 anos, hoje aquela criança teria 21 anos, seria um adulto. Outro dia mergulhei um pouquinho nos arquivos deste blog, 2002—2007 e dei muita risada, relembrei de um monte de coisas que tinha esquecido. E como era ter 42 anos e estar perdida, sem profissão? Muita gente não entende meus comodismos, como aquela menina de 22 anos que perguntou espantada se eu estava há 15 anos na mesma posição, no mesmo emprego. Sim, estou––respondi calmamente, porque ela não sabe o quanto me custou chegar aqui. Tentei fazer muitas coisas e amo fazer o que faço agora. Na verdade, estacionei mas não parei.

Me tornei uma pessoa bem mais prática, muito mais organizada e infinitamente mais tranquila.

Só gostaria de ter mantido o senso de humor, porque eu era engraçada. Meio pateta, muito atrapalhada e às vezes equivocada, mas muito espirituosa e perspicaz pros detalhes divertidos da vida. Fiquei mais série. E talvez mais correta.

 

Hoje eu trabalho período integral em casa, e então nado sempre que posso. Nadei praticamente todos os dias no segundo e terceiro semestres da pandemia. Depois ficou tudo muito complicado, eu tinha que acordar à meia-noite pra me registrar e resolvi que não nadaria nos finais de semana. Quando não nado, eu faço caminhadas. Como ontem [que tive almoço com meu chefe a a amiga] e hoje [que teve três reuniões, back-to-back]. Nesta época do ano é uma delicia caminhar, porque a gente não fica suando e a paisagem está estonteantemente linda. O outono sempre foi minha estação do ano favorita aqui. Mas com o tempo aprendi a gostar de todas, até do longo e tórrido verão, que está cada vez mais longo e mais tórrido. Aprendi, antes tarde do que nunca, a apreciar a lado bom de tudo.

Com a pandemia acrescentei muito mais coisas na minha lista de afazeres. Outro dia o Uriel falou pra mim, ah, mas você não precisa fazer tanta coisa se isso tudo te cansa ou te estressa. É verdade. Mas estou numa vibração de tentar fazer tudo o que posso, porque a areia do tempo está escorrendo rápido e comecei a ver o que nunca tinha visto antes: a finitude. Então cozinho comidas veganas, faço fermentados, asso pão de fermentação lenta, desidrato legumes e frutas, planto e germino sementes, e enquanto faço tudo isso escuto livros que pego da biblioteca pública ou compro no audible. E leio livros no kindle, alguns no papel quando tenho a chance. E escuto podcasts, leio inúmeros artigos, me interesso por JEDI, meditação, feminismo, política, tanta coisa pra aprender e praticar. E ainda faço voluntariado. No futuro posso olhar pra essa época e talvez dizer que foi a mais produtiva da minha vida. E o futuro nem está tão distante assim.

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