pragas malditas!

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Num ano foram as lesmas e caracóis. No outro ano foram os ratos e agora – é simplesmente inacreditável – tem um gopher esburacando a minha horta e o meu quintal!
Estou completamente desanimada. O bicho fez um estrago consideável na horta e já está avançando pelo quintal. E como eu vou me livrar dessa peste? Só com uma armadilha. Vou ter que ligar pro pest control, pois não tenho estômago pra pôr armadilha e ficar checando e depois me livrar o bicho morto. Gophers são muito parecidos com esquilos – ou melhor, parecem um mistura de rato com esquilo. Como pode uma horta minúscula ser atacada ferozmente todo ano por alguma praga? Se persistência não fosse o meu middle name, eu já teria jogado um cimentão naquilo tudo…..

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limões que ninguém quer

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limaovinagre/meyerlemon

Eu sempre chamei esses limões cor-de-laranja de limão vinagre, mas o Ursão que é entendido em frutas me disse que aqui eles são chamados de Meyer lemon.
O nome muda, mas o sabor é o mesmo, que lembra a minha infância e minhas visitas à Querência Echaporã da minha Tia Anah e Tio Gimenez. Eles tinham uma árvore desses limões ao lado da casa. Esses limoeiros parecem que nascem e crescem como se fossem mato, e toda vez que eu ia lá, eu procurava pelo limões e fazia jarras de limonada.
Aqui eu nunca tinha visto desse limão pra vender, até mudar pro Aggie Village e encontrar duas árvores baixinhas, meio arbusto, na divisão entre a vila e o Arboretum. As árvores não pertecem à ninguém e, melhor, parece que essa variedade de limão é detestada e desprezada pela galera cítrica da cidade. Então sobra tudo pra mim, que adoro e não deixo por menos – todo inverno vou até a esquina com a minha cesta, minha tesoura de horta, luvas de pano e cato um monte!! Cato limão até dizer chega, até a árvore ficar vazia, até o inverno acabar. E faço jarras de limonada, como fazia anos atrás no sítio dos meus tios.

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organize-se, oras!

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Enquanto assistia à um episódio da Martha Stewart Living antes de dormir, fui tomada por um sentimento de choque profundo quando visualizei mentalmente a baderna que são os meus armários e gavetas. Uma dócil e delicada Martha mostrava à plebe rude que assiste ao seu programa os detalhes das gavetas da sua cozinha, quarto, lavanderia, hall de entrada, eteceterá. Todos os ambientes eram réplicas perfeitas de estúdio de uma das casas – a principal, presumo – da mulher mais organizada do mundo. Olhando ela abrir as gavetas da cozinha high tech onde ela faz suas tortas e cookies, tive vontade de chorar. Enquanto nas gavetas dela, tudo era alinhado e separado por espaços, nas minhas só se encontra um utensílio depois de muito procurar e com muita boa vontade. A cozinha da Martha é a cozinha da Martha e a minha cozinha é um verdadeiro balaio de gatos…..
Dormi pensando nisso……
Hoje acordei decidida a tentar organizar certas coisas aqui nesta casa, principalmente na cozinha. O primeiro passo então foi limpar o fogão, pois não consigo pensar organizacionalmente sabendo que o fogão está sujo. Engolida pela onda das tarefas ingratas do dia, como limpar o banheiro dos gatos, lavar roupa, lavar a louça, preparar o rango dos humanos, entre mil outros quiprocós que tinham que ser resolvidos, a organização resoluta e necessária das gavetas da cozinha acabou sendo esquecida. Mas só por hoje… ou até quando eu ligar a televisão e a visão da quase-perfeita Martha vier novamente me assombrar.

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pão é o meu chocolate

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Heis a escolha: uma barra de chocolate ou uma fatia de pão com manteiga? O que você escolheria? Eu, sem piscar, sem dúvidas, sem conflitos, sem pensar duas vezes, escolheria a fatia de pão.

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dia de liquidação

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A notícia corre de boca em boca. Um avisa o outro e a multidão se forma na frente da loja. É uma Good Will situada numa das áreas mais ricas do norte da Califórnia. Dizem os entendidos que somente a Good Will de Palo Alto é melhor que essa. Os ricos e as lojas doam as roupas, sapatos, acessórios e a patuléia ensandecida vai lá comprar tudo por preços de banana nanica. Os preços já são ótimos, mas em dias especiais a situaçao melhora, chegando ao ponto da insanidade. Acontece geralmente num domingo, quando tudo dentro da loja vai custar apenas dois dólares. Qualquer item, já pensou? Eu recebo um telefonema e já estou pronta, roupa quentinha, porém confortável, sapatos que não machuquem e me dêem estabilidade, creme hidratante nas mãos para não ralar a pele no puxa-puxa de cabides.
Chego na frente da loja faltando dez minutos para as onze da manhã. A loja abre suas portas as onze em ponto. Um grupo enorme de pessoas já está plantado à postos, se preparando para a maratona. Encontro minha companhia, um abraço rápido, tudo bem? As pessoas conversam entre si, tensas e excitadas, hei, tudo bem? que dia lindo, hein? parece que vai chover mais tarde, é mesmo, puxa. Enquanto conversam banalidades pra passar o tempo, arrastam as solas dos sapatos no chão, como num aquecimento para a corrida que se antecipa.
De repente uma funcionária da loja põe a cara no vidro da porta, destranca a fechadura, saúda a multidão ansiosa e finalmente abre as portas gerando um movimento único e coeso.
SAI DA FREEEEEEEEEENTEEEEEE!!!!!!!!!!!!! ATACAAAAAARRRRRRR!!!!!!!!
O grupo que até então esperava relativamente paciente a abertuda das portas, entra correndo na loja, CADA UM POR SI, AGARREM O QUE PUDER, SEJAM RÁPIDOS!!!!! Eu entro empurrada pelo grupo e fico uns cinco minutos rodando como uma barata tonta, sem saber por onde começar, o que ver, me sinto massacrada pela quantidade de gente e de coisas. Sempre esqueço de pegar a cestinha, item fundamental para a coleta das barganhas.
De cestinha em punho, vou circulando pelas araras, que são inúmeras e todas abarrotadas de roupas. Até que há uma organização, então eu vou por partes. Primeiro as saias – que eu adoro. Elas são separadas por comprimento e por cores. Duas araras de saias longas, um corredor de saias curtas. Você tem que ter dedos bem treinados, porque precisa olhar roupa por roupa, ver etiqueta de tamanho, marca e agarrar o que você gostar e for mais ou menos do seu número o mais rápido que puder. A cesta vai enchendo e todos seguem olhando as roupas, com a cesta no chão, que agora vai sendo arrastada com os pés transformando o cenário da loja em um imenso balé de pés arrastando cestas em sincronicidade, caras excitadas pegando roupas, checando etiqueta e tendo mini-ataques histéricos de alegria. Um detalhe importante é que essas roupas bem pouco usadas e muitas vezes totalmente novas, são na maioria de marcas relativamente caras e lojas famosas.
E como eu já disse, é cada um por si. Mesmo indo com outras pessoas, ninguém faz compras junto. Encontro com minhas companhias no meio da loja, mostro o que eu já encontrei até aquele momento, elas mostram os achados delas, nos elogiamos – cute! great! beautiful! calvin klein? uau! i like it! eteceterá – e voltamos rapidamente ao nosso garimpo solitário. Experimentar algo? Nem pensar? Conseguir um provador vazio é tarefa hérculea. Tem que esperar, esperar, então pulamos esse detalhe, afinal de contas se você está pagando apenas dois dólares por uma peça e ela não servir, você usa de pano de chão e ainda estará lucrando.
Passamos direto para a longa fila do caixa. Na fila as pessoas socializam, alegres. A tensão passou, mas a excitação triplicou, pois estamos voltando para casa com um sacão cheio de roupas.. quase novas…. com etiquetas que nos custariam o olho da cara se fossemos comprá-las nas lojas regulares…. e se alguma coisa não servir, já sabemos, não sentiremos nem um pingo de culpa!

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folga total

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catsinmybed.jpg

[ está tudo dominado… !!]

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um mar de lágrimas

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Mais uma vez, a mesma cena se repete: chorando aos borbulhões, enxugando as lágrimas na beirada do lençol. The Best Year of Our Lives, de 1946, dirigido pelo William Wyler foi o causador do chororô desta vez. Quando o filme acabou, percebi que o lençol estava todo molhado. Sinceramente, acho que não posso mais ver filmes assim. Desta vez a história de três homens voltando para suas famílias depois de três anos lutando na guerra. Um deles, o marinheiro [Harold Russell], volta com as mãos amputadas, mas bem treinado pela marinha para usar eficientemente um mecanismo com ganchos como se fossem dedos. O outro, um sargento [Fredric March], ex-funcionário do banco da cidade, casado há vinte anos com a esposa perfeita [who else? Mirna Loy] e com dois filhos adolescentes. E o terceiro, um capitão [o bonitão Dana Andrews], que casou-se durante a guerra com uma fulana interesseira e vulgar, volta para o casamento frustrante e para um empreguinho medíocre. O ator Harold Russell ganhou dois Oscars pela sua performance neste filme e era realmente amputado e um veterano do exército. O filme foi um sucesso na época, recebendo um monte de indicações para o Oscar.
Outro dia foi a mesma água, quando eu me acabei de chorar com Mrs. Miniver, também dirigido pelo William Wyler em 1942 e que conta a [longaaa] história de uma família inglesa durante a Segunda Guerra Mundial. Grandes interpretações de Walter Pidgeon e Greer Garson, acompanhados por um cast brilhante.
Por isso eu acho que está na hora de parar de assistir a esse tipo de filme, não? Eu vi uma cena de Hotel Rwanda com o Don Cheadle no Jon Stewart e fiquei tão impressionada que já decidi que não posso ver esse filme. Não é que eu não queira ver, é que não posso mesmo…..
Ontem, pra tentar sair desse mar de lágrimas, vi De-Lovely, que achei bem fraquinho contando a história do Cole Porter, mas que superou-se na apresentação das músicas do compositor e nos números de dança. A final é bem triste [a esposa, amor da vida dele morre, com os pulmões podres e ele tem uma perna amputada], mas pelo menos não conseguiu abrir a minha habitual torneirinha.

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comida & história

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Livros de receitas também são literatura e história. Eu adoro ler sobre os hábitos alimentares do passado e como as pessoas cozinhavam e se alimentavam. Sem querer, encontrei três livros diferentes, de autores diferentes e de épocas diferentes, que fazem essa viagem ao passado. Ler essas histórias é uma atividade extremamente deliciosa, quem diria poder experimentar todas as receitas descritas pelos autores.
O primeiro livro, que comprei usado numa loja em Novato, é o relato de Margaret Rudkin, hoje famosa por ter sido a fundadora da marca Pepperidge Farm, que começou vendendo pães e hoje tem uma variedade interessante de bolachas finas. Margaret escreveu o The Pepperidge Farm Cookbook no inicio da década de sessenta, relatando toda a sua experiência dentro de uma cozinha, que se iniciou quando ela ainda era uma criança, no início do século vinte. O relato da cozinha da infância de Margaret é simplesmente delicioso. Como eles conservavam os alimentos no basement, sem o auxílio de freezers e geladeiras, como os alimentos que seguiam a regra da ‘temporada’ eram preparados em cozinhas simples, sem grandes tecnologias, mais muito eficientes.
O segundo livro é um original, reproduzido exatamente como foi publicado pela primeira vez em 1913. Escrito em linguagem literária e em sequência, como se fosse um romance, por Martha McCulloch-Williams, uma nativa do estado do Tennesse, que tornou-se uma pioneira dos livros de receita. McCulloch-Williams ensina receitas básicas consumidas no sul do país em seu livro Dishes & Beverages of the Old South. Muitas receitas são difíceis de serem preparadas hoje, pois se usava outras maneiras de assar e fritar, em utilitários domésticas que já não existem mais.
O terceiro livro é mais recente, mas o autor Victor M. Valle, um americano descendente de mexicanos, volta muito mais no tempo, republicando receitas de suas avós e bisavós, datadas do meio do século dezenove. Receitas mexicanas maravilhosas, porém difíceis de serem replicadas, tanto por causa dos ingredientes quanto pelas técnicas antiquadas de processar os alimentos. Valle descreve como a avó Delfina matou dois coelhos com uma só cajadada, livrando-se de uma imensidão de pombos que infestava o sótão da casa e ao mesmo tempo reunindo a família para um farto almoço onde prato principal era sopa de pichones [filhotes de pombo no arroz de açafrão]. Todas as receitas das mulheres da família foram preservadas na memória dos que trabalhavam na cozinha. O livro, publicado em 1995, tem o sugestivo título de Recipe of Memory e já me deixou com vontade de fazer uma viagem histórico-gastronômica ao México.

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o passado não condena