o umbigo

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Estou lendo a revista Claudia, que comprei no Brasil e só agora estou conseguindo folhear. Uma das reportagens que li era uma entrevista com a jornalista e empresária Gloria Kalil. Ela fala do seu novo livro sobre etiqueta – Chic[érrimo]. Eu nunca li os livros dela, mas a conhecia de nome.
A revista pergunta qual a principal regra da etiqueta moderna e Gloria responde: “Prestar atenção no outro. Quem só olha para o próprio umbigo não está apto a conviver. E atualmente isso é muito comum, o narcisismo virou um problema social.”
Quando li isso, lembrei imediatamente do encontro que tive com uma pessoa. É uma amiga de longuíssima data, que eu conheci quando ainda era criança. Toda vez que eu vou ao Brasil eu a procuro, mas já sabendo como vai ser a dinâmica do nosso encontro. Só ela fala e somente dela, dela, dela. Ela não pergunta absolutamente nada de mim, da minha família, é como se eu não tivesse vida. E fala o tempo todo dela, das filhas, do trabalho, do carro, do vizinho, do armário, do aparelho de som…..
É super exaustivo, porque você tem que ser agressiva e se impôr na conversa, se quiser falar e fazer ela engolir um pouco dos fatos da sua vida. E eu não entendo por que ela faz isso. Será desinteresse, despeito, defesa ou puro narcisismo?
Minha irmã ficou irritadíssima com esse encontro e com o convercê neurastênico. Quis saber por que eu insisto numa relação assim. Eu também não sei…. Acho que é porque preciso manter essa ligação – mesmo que nada saudável – com o meu passado.

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eu moro numa cidade chamada Davis

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Lembro que quando passávamos férias em família em algum lugar diferente, na volta eu sempre estranhava pequenos detalhes da minha casa e da minha cidade. Duas semanas viajando já eram suficientes para dar essa sensação de estranheza e exigir um certo reajuste. Lembro de surtar com o desenho da cerâmica do chão da cozinha da minha casa. Lembro daquele sentimento gostoso de reconhecer coisas familiares e ir-se reajustando à velha rotina novamente.
Quando abri a cortina da janela da cozinha pela manhã e vi os caminhantes e corredores do Arboretum, com suas caras americanas, seus chapéus, meias brancas – caras mais famíliares para mim do que a das famílias arrumadinhas dos shoppings da Barra da Tijuca – tive a sensação de que estava reentrando no meu cotidiano.
A principio estranhei a brancura da minha cozinha, a claridade da casa, o verde entrando pela janela. Assustei com o matagal se alastrando pela horta, os tomateiros tomando conta de tudo, já lotados de tomatinhos ainda verdes. Estranhei o estranhamento do gato, a bagunça da casa, o cheiro de verdura podre na geladeira, o gosto da água, o cheiro do sabonete, o barulho do trem, o cotidiano que não parou enquanto eu estive fora.
Fomos almoçar num dos nossos “carne-de-vaca” de sempre. Escolhemos o chinês. Dirigimos pela cidade enquanto fazíamos a digestão e decidíamos o que fazer. Minha cidade, Davis. Ela está crescendo, mas como eu nem tinha reparado? Fomos à nossa livraria favorita enquanto esperávamos dar o horário para pegarmos uma sessão de cinema. Ganhei um livro, que ele insistiu em me comprar. Vimos o filme na sala lotada de pipocudos, de mãos dadas, rindo muito. Depois, fomos comprar uma pizza para o jantar. Fiz uma tour pela cidade que ainda estou vendo com outros olhos. A casualidade dos chinelos, a tranqüilidade, as centenas de SUVs, os preços em dólar, o calor seco, a rotina de uma cidade pequena cheia de charme.
Essa sensação de estranhar, reconhecer e reajustar é a melhor coisa do mundo! Pena que dure tão pouco e aconteça somente quando viajamos.

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casa

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Depois de uma viagem longa e cansativa, estou em casa! Aproveitei muito minhas três semanas no Brasil. Fui tão bem recepcionada, tão bem acolhida, que nem tenho palavras para agradecer meus anfitriões – família e amigos. E não sei como me desculpar pelos telefonemas não dados e encontros frustados. Mas haverão outras oportunidades no futuro próximo, tenho certeza!
Agora, tentando voltar à minha rotina, vou ter muita coisa para pôr em ordem!

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feijão com arroz

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Duas semanas sem lavar um prato ou um copo, sem ter que pensar no que fazer de comida, sem dirigir, sem varrer o chão, sem lavar roupa, sem viagens quase diárias ao supermercado, sem uma rotina específica.
Duas semanas tomando guaraná, comendo comidinha caseira, pedindo pizza de carne seca na Monte Bello, comendo pão de queijo recheado, pastel, esfirra, kibe, mousse de maracujá, pão com queijo e presunto, banana macã, fatias de mamão, vatapá, olho de sogra, goiabada cascão com queijo branco.
Duas semanas revendo e conhecendo pessoas queridas, conversando na boa pelo telefone, matando saudades, falando muito, ouvindo outro tanto, rindo muito com as peripécias dos meus sobrinhos, beijando, abracando.
Duas semanas passeando no shopping, fazendo compras com Real, ouvindo música, vendo coisas diferentes na tevê, lendo a Folha de São Paulo, redescobrindo livros, folheando revistas, comprando presentinhos pros meus queridos em Davis, descobrindo mil coisinhas bacanas e novas.
Tenho apenas mais uma semaninha dessa não-rotina . Deixa eu aproveitar!

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caindo na real

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Eu queria desmarcar tudo e não ir, pois São Paulo é uma cidade que me amedronta e me oprime. Coisas de habitante da Terra do Nunca, que tem dificuldades para enfrentar a dura e crua realidade da vida cosmopolita.
Enquanto esperava a carona do meu irmão às 7 horas da manhã, pensava “bem que ele poderia me esquecer e ir pra Sampa sozinho..” . Mas meu irmão veio e me levou pra grande cidade, onde pude fazer a transicão de duas amizades do mundo virtual para o mundo real.
Meus guias e companheiros nessa meu dia em Sampa foram a Garota Urbana e o Guto. Com ela eu fui ao Centro e à Liberdade e com ele fui à Vila Madalena e à Paulista. Choveu até granizo, mas nada atrapalhou o nosso passeio!
Os blogs da Garota Urbana e do Guto são sem dúvida parte da elite da blogsfera, mas pessoalmente eles superam os seus blogs de longe. Eles são muito mais do que mostram virtualmente. São super-bacanas, duas simpatias, dois fofos! Adorei conhecê-los e na companhia deles consegui até desestressar da cidade e aproveitar muito mais.
Pra mim, essa passagem do virtual para o real é um acontecimento, já que não é sempre que eu tenho a oportunidade de encontrar blogueiros brasileiros, mesmo os que vivem nos EUA. É muito bom esse encontro, que fecha o ciclo de conversas de blog, conversas particulares, troca de correspondência [no papel, com selo!] e conversas telefônicas.
Ainda bem que eu aviso que eu sou descabelada, matraca e atrapalhada. Não fiz propaganda enganosa e espero não ter decepcionado os meus amigos com a minha persona fezoca! Obrigada, guris! Pisc!

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ui espique ingrish

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Camelei pelos shoppings de Campinas com a minha irmã procurando por camisetas transadas para levar para o Gabriel e para a Marianne. Eu queria camisetas de malha com desenhos interessantes e decoradas com frases em português. Achei? Claro que não! Nas lojas chiques dos Shoppings Iguatemi e Dom Pedro só se fala inglês, darling….

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Bob Needy

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O cachorro da minha irmã é uma coisinha chetérrima. Não me entendam mal, eu sou gatófila mas curto cachorros [né, Kika?] e não faco discriminacão – ao menos eu tento! Mas com o Bob não dá… Ele é pequeno e preto e, segundo a minha irmã, de uma tal raca americana com uma mini-cara de bulldog e uma atitude extremamente carente. Quando minha irmã e meu cunhado estavam escolhendo um cachorro para o Fausto, foram avisados que essa raca do Bob é a mais carente que existe. Sabe aqueles cachorrinhos que não latem, mas que ficam pulando em cima de você constantantemente e fazendo uma cara de coitados, que invés de dar pena, dá raiva? Eu queria fazer um carinho, chamar o nome dele, mas se eu fizer isso vou ser massacrada, vou ter minhas pernas arranhadas, vou levar uma mijada nos pés por causa do excitamento do Bob Needy. Então eu o estou ignorando…. Poor Bob!
Aliás, a frase que mais se ouve – aos berros – quando ele está por perto é:
– Pára, Bobeeeeee!
Que saudades do meu gato……….!!!!

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destaques destes dias

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A Catarina fazendo ‘não, não, não’ com o pequeno dedinho indicador em riste;
O Fausto rindo das minhas palhacadas de tia Fezoca;
A Lívia de vestido chinês vermelho;
A Lezoca rodeada dos filhos;
A Áurea passando protetor de lábios:
– nossa, que linda!
– ah, mas não tem cor….
A Agnes me mostrando um lindo desenho:
– fiz isso sentada numa pedra
O Ariel dando um depoimento para a câmera:
– o que você acha de dividir o dia do seu aniversário com a sua irmã?
– ah, eu não gosto muito, né? queria que o dia fosse só meu…
A Bebel dancando no saguão vazio do shopping Galeria;
A risada do Jansen;
A Ester me abracando e dizendo que vai me visitar pra poder ver neve:
– dá pra fazer boneco de neve?
– claro que dá!
O sorriso da Cecília;
O entusiasmo da Gra com a educacão dos filhos;
A Isabela devorando avidamente uma rodela de tomate;
A Ju me dando uma forcinha pra desatar um último ‘nózinho’;
As piadas do Carlão;
Os ‘bom dia!’, ‘boa noite!’, beijos e cuidados dos meus pais.

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era a minha cidade

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Caía uma chuvarada à noite e meu pai chamou um rádio-taxi para me levar até a casa da minha sogra. Os carros estavam presos na garagem, que está ganhando um portão eletrônico. Não consigo nem me lembrar da última vez que andei de taxi.
– eu vou na rua Júlio de Mesquita seiscentos e trinta e seis.
– antes ou depois do Centro de Convivência?
– acho que depois, na frente do hospital Irmãos Penteado
– mais pro lado do City Bar?
– acho que sim.
Tentei dar uma de entendida das ruas e locais, pra não dar bandeira do meu total esquecimento sobre Campinas. E não quis dizer que não era da cidade. A conversa foi ficando mais intricada.
– como chove hein? nessa época não é normal chover tanto…
– está tudo de cabeca para baixo, se eu pudesse eu me mandava de Campinas, iria morar no interior de Minas. Campinas está me dando nojo…
– é, está tudo bem diferente mesmo.
– Campinas não é mais dos campineiros… o centro está um nojo, cheio de camelôs.
– é, está mesmo, que coisa né?
– eu não mudo porque meus filhos de 19 e 22 anos não iriam comigo e a mulher, você sabe, sem os filhos não vai…
– é, na década de oitenta eu fazia compras na General Osório e Coronel Quirino, nas boutiques bacanas… e hoje, que decadência hein?
– nem fale! Essa cidade está mesmo um nojo!
O que me salvou de não dar uma bandeirosa de que não moro mais em Campinas, muito menos no Brasil, foi a tour eu tinha feito com a minha mãe pelo centrão de Campinas naquela tarde. Fomos ao Mercadão e depois caminhamos por parte do centro, antes tão bacana e estiloso, e por ruas onde eu costumava caminhar animadamente aos sábados, olhando vitrines, fazendo planos de comprar isso ou aquilo. Vi o finado Cine Windsor, o Largo do Rosário, onde meu avô teve uma charutaria na década de vinte, os Giovanettis I e II, que eu frequentava com meus amigos e com os amigos do Uriel. Vi até o restaurante natural onde eu almocava com o Gabriel, que virou um bingo [aliás, que surpresa: os bingos são iguaizinhos aos cassinos, vistos de fora!]. Também vi muitas lojas e galerias tristemente decadentes, embora alguns lugares continuem iguais, como o Papai Salim, onde eu e minha mãe – caras-de-pau – fizemos uma encomenda pra delivery de duas esfirras e dois quibes!
Campinas mudou e eu, que saí daqui em 1987, não tenho mais aquela intimidade com a cidade. Embora até que me saia bem fingindo que sei de tudo, pra poder manter a conversinha com o motorista do taxi.

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o passado não condena