ontem não foi meu dia

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Feriado de Veterans Day. Resolvi ir até a Bay Area pra finalmente comprar as cadeiras baratotais da Ikea porque não tô podendo comprar nada mais sofisticado. Saí de manhã e foi tudo bem até a cidade de Vallejo, quando entrei num congestionamento daqueles. Fiquei uma hora e meia pra fazer um percurso de cinco minutos. Os gênios da engenharia de trânsito nas estradas resolveram fazer obras enormes na ponte do pedágio em Benicia Martinez e provocaram um congestionamento monstro. Até reporteres de tevê estavam lá registrando o fato…… E eu trancada dentro do carro, com a bunda formigando e almoçando bolachinhas.
Dentro da Ikea estava outro inferno…. Fiquei uns quarenta minutos na fila pra pagar minhas cadeiras. Na saída fui pegar um cachorro-quente e a caixa armou tamanha e inexplicável confusão, que eu fiquei esperando mais tempo pra pegar o pão com salsicha do que a minha paciência estava conseguindo tolerar…
Mais trânsito pra voltar pra Davis. A I80 está sempre entupida, isso já é praxe.
Cheguei e fui correndo [literalmente] até a biblioteca da UCD, porque precisava pegar dois textos pra xerocar no Reserve. Mas que olha que “sorte” : eu não tinha moeda suficiente pra tirar todas as cópias, o serviço de cartão estava fechado e a máquina que trocava notas de 10 e 20 por notas de 5 não estava funcionando. Corri até o famigerado departamento de Engenharia Agrícola, para pedir pro Ursão me ajudar com moedas extras ou tirando as cópias na máquina deles. Fomos tirar as cópias lá mesmo e a cultura do engenheiro se manifestou novamente, desta vez na sua obsessão por micros-detalhes. [* relacione esse post com o anterior, onde ele me dá uma bronca por olhar papéis , pra entender o que estou dizendo…]
Voltei correndo pra casa …. A essa altura já estava até suando por baixo do casaco.
Tive que lavar umas roupas, porque deixei acumular e fiquei sem acessórios intimos para vestir hoje. Pus a máquina pra funcionar. Fui ler meus textos. Quando voltei a laundry estava toda alagada!!! Soltou uma borrachinha! Pára tudo e limpa, limpa, escorre a água, seca com panos….. ah!!!!
Fiquei até tarde lendo os textos e acordei hoje uma hora mais cedo pra terminar um dos papers que eu iria discutir com uma das garotas do meu grupo [uma das cheer leaders….] pra uma apresentação que vamos fazer na próxima semana. Pergunta se ela leu o que ela tinha que ler????? Obviamente que não.
Tá…. Me parece que o dia de hoje já começou prometendo parear com o de ontem…….

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cultura

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Eu sou uma esponja! Agora tudo o que faço ou penso é baseado em corporate cultures. Ontem tive que mandar uns faxes e como não tenho uma fax machine em casa usamos a do departamento de engenharia. Enquanto passavamos os faxes eu fiquei olhando as coisas por lá – os desks das secretárias, as outras máquinas, pilhas de papéis – eu adoro coisa de escritório. Botei o nariz pra xeretar uma pilha de papelada variada, coisas que passam por ali todo dia e levei uma carcada. Não era pra olhar, porque esses papéis eram coisas pessoais e privadas. Na hora me deu uma raiva. Pensei na cultura careta e super-estruturada do departamento de engenharia, que fica exposta pra quem quiser ver e se manifesta nas pequenas coisas. Eu costumo dizer que somos “água e vinho”, mas na verdade convivemos e absorvemos culturas completamente diferentes. Eu ainda sou pior, porque não pertenço formalmente a nenhum ambiente de trabalho e ajo muito mais como um espírito livre [e muitas vezes de porco], desencadeando reações do outro lado, que vive atolado em zil e uma regrinhas. Levar bronca por olhar coisas é realmente o fim da picada…. Mas é perfeitamente explicável se analisarmos que o ambiente cultural de um engenheiro deve ter muito menos flexibilidade que o de uma jornalista xereta.

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they’re back….

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As formigas voltaram. Desta vez estão nos armários da cozinha…. Estou lutando contra elas. A garantia do pest-control já expirou. Diosmio, o que é isso?? Parece que vivemos sobre um formigueiro……

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rala, rala e avisa, um minuto de comercial..

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O mais engraçado é que eu me acho uma figura folgada. Mas na hora que tenho que fazer algo sério e pra valer, a minha personalidade obcecada aflora. Eu já escrevi sobre isso por aqui algumas vezes. Nada comigo é light. Se eu gosto de um artista ou escritor, eu tenho que ler, ver, ouvir, tudo o que a pessoa fez. Se eu faço uma atividade [como blogar, por exemplo] tem que ser nos micros detalhes do capricho. Porque eu já sou gringa há muitos anos, não me dou o direito de errar nadinha com a língua, não posso falar errado, nem escrever com defeitos. É exaustivo ser assim.
Passei a sexta-feira e o sábado escrevendo um paper que tenho que entregar na segunda-feira. Dessa vez escrever foi um parto. Nunca escrevi com tanta dificuldade. Talvez seja má influência da minha escrita informal em português. Ou talvez seja normal. Uma amiga me disse “escrever é difícil. em qualquer língua”. Eu que acho que porque é fácil escrever aqui, deveria ser fácil escrever de maneira geral.
Mas quem escreve vai concordar comigo que muitas vezes o texto saí como um mel escorrendo, noutras vezes as sentenças são como blocos de pedra. Depois que o texto está pronto é preciso refrescar os olhos. Eu nunca vejo os erros na hora. Tenho que fazer outra coisa, tomar um ar e daí voltar e corrigir. E sempre gosto que outra pessoa leia e dê palpites.
Ralar é até bom, dá uma satisfação ver o trabalho pronto e bem feito. Mas é importante não deixar isso virar uma rotina obsessiva!

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tradicional

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Não é sempre que eu recebo uma dessas na minha caixa de correio. Até desacostumei de ler nas folhas de papel… Mas receber carta tradicional é uma delícia! Que bom que ainda existem escrevinhadores como ela.

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Ontem recebi essa carta. Não só uma carta, mas uma carta recheada de coisas gostosas! Letrinha caprichada, adesivinhos no envelope, papel decorado, postais de presente e folhas e mais folhas de coisas boas de ler. Quando peguei a carta nas mãos, fiquei sem saber como abrir sem rasgar muito e estragar o capricho do envelope. Peguei minha correspondência no caminho pra universidade e fui lendo pela rua, caminhando, atravessando ruas, tudo sem nem tropeçar. Quantas vezes eu fiz isso no passado, lendo ávidamente cartas que eram aguardadas com ansiosidade. Foi bom relembrar os velhos tempos de correspondência tradicional. Obrigada, garota ! Agora vou ter que responder no mesmo estilo e desenferrujar a minha garranchuda letra de mão.

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soneca

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roncomesa.jpg
[sempre achando lugares diferentes pra puxar um ronquinho…..]

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writing

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Está meio estranho… um silêncio, tudo vazio. Mas eu precisava disso. Fechei a torneirinha das listas de discussões, que enchiam alegremente minha caixa de e-mail diáriamente e me distraiam. Estou num momento em que não estou podendo me distrair. Estou fisicamente abalada com o tanto de coisa que tenho pra fazer. Mas isso acontece porque eu sou assim dramaticamente exagerada, não porque é o fim do mundo.
Saio com dor de cabeça das aulas, porque a minha professora é realmente hyper. Não comento isso como se fosse um defeito, muito pelo contrário. Admiro tudo o que ela faz e como ela faz. Outro dia ela contou que tem trinta e dois anos! Eu gosto de tudo nela: a criatividade, a articulação verbal, o humor, a bagagem intelectual e cultural, a flexibilidade, a informalidade, a simpatia, o carisma, e até a maneira casual como ela se veste e como ela decorou o seu escritório. Me sinto privilegiada por tê-la encontrado, no meio de tantas outras mentes brilhantes desta universidade.
Dá até uma dor de barriga folhear o catálogo da UCDavis e ver quanta coisa interessante pra estudar, quanta gente fascinante pra conhecer e socializar, quanta oportunidade de aprendizado. Mas como não dá pra fazer tudo, escolhe-se apenas um caminho. E eu já estou no meu. Por causa dele eu fico ansiosa, tenho dores de cabeça, falo sozinha pela rua, esqueço de comer, sonho com papéis e me sinto um bicho meio perdido, fora do meu ambiente. E ainda por cima não tô podendo nem me distrair. Mas está tudo muito bom…..

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livração

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Já escrevi um outline do meu personal statement. Fiz isso em três chuveiradas. Eu me inspiro dentro da água. Foi sempre assim. Escrevi o outline na minha cabeça e verbalizei pro Ursão, que achou a idéia toda fantástica! Depois fiquei contando uns causos pra ele, fatos que recordei dentro do chuveiro e que talvez use pra ilustrar meu texto.
Muitos anos atrás, passando férias no Rio, eu estava com as minhas primas numa feira hippie em Ipanema. Naqueles tempos, onde eu ia carregava um livro comigo, era um hábito. E estava sempre lendo. Imagina se eu ia viajar sem um livro…. Só não sei explicar o que eu estava fazendo com um livro na bolsa, passeando na feira hippie! Era o calhamaço Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Marques. Eu não precisava estar carregando o livro num passeio onde não iria ter a oportunidade de sentar e ler. Fora que o livro pesava. Mas eu estava carregando o dito na minha bolsa de couro…. E por causa dele, me salvei de ser assaltada. Numa daquelas muvucas olhando barracas, um ‘dedos-leves’ enfiou a mão na bolsa tentando pegar a minha carteira. Por causa do tamanho do livro, o mané se atrapalhou todo e eu consegui sentir a mão dele dentro da bolsa. Me virei assustada e ele se pirulitou como um cisco….. Depois me deu a maior tremedeira, porque na minha carteira estava, além de todo o meu dinheiro, a minha passagem de ônibus de volta pra Campinas…. Garcia Marques e a minha mania de ler compulsivamente me salvaram!
Isso é uma história que ilustra um caráter. Infelizmente, eu não leio mais com a dedicação e fúria de antes.

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o passado não condena