caçando com gato
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Essa nossa casa é um pouco fria. Nós mantemos a temperatura do heater em 69ºF [21ºC] porque senão não vamos dar conta de pagar a PG&E. Então haja meia de lã e tapete para pisar. Um, especialmente, veio bem a calhar. Era um tapete que eu tinha num dos quartos na outra casa e que já estava aposentado das suas funções há anos. Mas aqui eu, sem querer, achei o lugar perfeito pra ele: o banheiro. Porque todos os tapetes que eu tenho são de algodão e esse é de lã, super bom pra pisar quando se saí do banho. O detalhe desse tapete é que ele não é tapete. É uma manta de cobrir cavalos que eu comprei muitos anos atrás numa desses lojas de fazendeiro em Woodland [que vende calça rancheira da Wrangler, chapéu e botas de cowboy]. Fui lá com o Ursão, que estava procurando alguma coisa para a pesquisa dele na época, e me encantei com as mantas de cavalos. Comprei duas, que embelezaram o chão do quarto por muito tempo. Agora virou tapete de banheiro e garanto que não se encontra em lugar nenhum coisa melhor pra se pisar, saindo de um banho quente. E ainda é extra-largo e ocupa toda a extensão da área do chuveiro. Além de ser lindo….. , é claro!!
diferenças
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Com a minha mãe fazendo todas essas classes de inglês, lembrei de uma históriazinha.
Quando cheguei no Canadá em 1992, fiquei um ano fazendo aulas de inglês como uma louca. Eu estudava dia e noite, porque queria ficar o fino da bossa conversando e participando da vida naquele país. Numa dessas classes a teacher uma vez perguntou para a turminha de gringos como que nós chamávamos nossos cachorros nos nossos países. Fido, Rex, Totó, essas coisas…. Todo mundo falou: os franceses, os russos, os romenos, os guatemaltecas, os brasileiros, os alemães e não-lembro-mais-quem…… Até chegar numa dupla de rapazes vietnamitas que estavam com uma cara de que não estavam entendendo lhufas. A professora repetiu a questão, porque pensou que eles não estavam entendendo o inglês. Mas o buraco era mais embaixo. Eles se entreolharam, fizeram uma cara de ‘aijesuis’ e responderam ‘nós não chamamos os cachorros lá no Vietnã, nós COMEMOS eles’.
Burburinho e comoção total na classe, onde ninguém escondeu o susto e o choque. No Vietnã cachorro é comida e não animal de estimação!
queer é punk
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Eu sinceramente não sabia que existiam bandas punks gay. Eu tinha aquela imagem pré-concebida de Sex Pistols e Ramones. Por isso mesmo que estou fazendo essa classe de Punk Rock Appreciation…. E estou descobrindo cada coisa bacana! Minhas aulas são uma delícia. Na última sexta-feira, o professor falou entusiasmado por mais de duas horas sobre bandas queers e grrls. Depois passou um pequeno documentário chamado Queercore e umas filmagens que ele mesmo fez, com entrevistas e shows.
Uma das bandas que ele destacou [e que aparece tocando e sendo entrevistada em Queercore] é a Pansy Division. Eles cantavam explicitamente sobre homossexualismo e causaram espanto, excitamento e revolta. O som é totalmente hardcore, mas eles estão cantando coisas que nunca ninguém tinha cantado antes.
Pardon my French para os PCs que por acaso passarem por aqui e lerem, mas vou colocar algumas das letras.
Em Anthem eles cantam:
“We can’t relate to Judy Garland
It’s a new generation of music calling
We’re the buttfuckers of rock & roll
We wanna sock it to your hole
With loud guitars we’re gay and proud”
E em Cocksucker Club:
“He’s ready to take those fantasies
And make them into something real
And finally do all the things
He’s been dreaming of
He’s joining the cocksucker club”
E em Smells Like Queer Spirit – uma paródia de Smells Like Teen Spirit da banda Nirvana:
“Hello, hello, hello, homo
Here we are now, so fellate us
Roll it on now, lubricate us
Get us off now, ejaculate us
Play Fugazi, Play Repeater
River Phoenix wearing speedos
Yeah, Queer!”
Wow!
E ainda tem letras das bandas “dykes”, que são ótimas!
[*] Na semana passada eu escrevi um texto sobre hardcore, straight edge e o documentário Another State of Mind, mas fiz o favor de me atrapalhar numa idiotice com o browser e fechar o MT com o texto dentro [sem cópia]. Então baubau e eu não tive saco de escrever tudo de novo. Mas toda semana tenho mil coisas pra comentar sobre a classe punk. Só não tenho feito isso aqui…
não está mais chovendo
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Eu fico até tardão vendo filmes do John Garfield na tevê e esperando o Ursolino chegar. Claro que no dia seguinte é um sofrimento acordar… Minha mãe já está de pé, toda serelepe, às 6am. Ela tem classe de inglês diáriamente às 7:30am. Eu tento acompanhá-la, mas não sou animada e ativa como ela, que agora está me puxando para fazer caminhadas. Eu só funciono assim.
Também estou tentando [tentando….] colocar minha correspondência em dia. Como eu deixei acumular coisas dessa maneira? Hoje até sonhei com uma amiga pra quem ainda nem desejei Feliz Ano Novo…. Péssimo!
Finalmente descobri porque meu e-mail e home na Pacbell ainda estão funcionando. Não estarão mais, em breve.
Tenho toneladas de coisas pra ler, um outro tantão de tarefas pra fazer. E ainda preciso aproveitar a companhia da minha mãe. Dá licença então, tá?
está chovendo
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Lembrei que eu queria dizer que eu não tenho mais a menor saco pra esperar páginas lentas carregarem nesta internet. Deu três segundos e não entrou nada, eu fecho a janela e vou pra outra…. É um pouco de ansiedade e muita falta de paciência.
Por causa do jardim, socializamos com quase todos os vizinhos ontem. Até conhecemos o casal canadense que comprou uma das casas na mesma época que nós. Não sabíamos qual casa era, agora sabemos. Eles são antropólogos e canadenses de Calgary, que é uma cidade muitíssimo simpática [onde eu moraria, se tivesse que voltar ao Canadá].
Achei tudo terrivelmente chato na cerimônia do Grammy de ontem…. Fiquei até o fim porque queria ver a tal homenagem que o Bruce Springsteen, Elvis Costello, Dave Grohl e Steven Van Zandt iriam fazer ao The Clash. Foi a única coisa legal. O resto foi tudo prevísivel e monótono.
domingadas
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Me falaram que no Brasil já é quase carnaval. Eu preciso ser relembrada desse momento que já não faz parte da minha vida há muiiiitos anos. E quando fazia, era um tédio…. Queríamos mais era sartar fora para o sítio da tia Anah e ficar lá ouvindo jazz e música clássica até toda a rebordosa passar.
Eu estou com um problema gravíssimo de memória. Consigo lembrar um sonho que tive vinte anos atrás, mas não consigo lembrar o que estava querendo escrever e tinha esquematizado na cabeça, dois minutos atrás. Palhaçada!
Hoje vamos ter uma bacalhoada aqui! Das de verdade, feita com bacalhau da Noruega. Eu faço bacalhoada, mas é com bacalhau fresco. O bacalhau seco eu fiz uma só vez. Comprei uma mini-caixinha no Nugget e paguei uma fortuna. Nós pegamos a mania engraçadinha de falar bacalau por causa da Reidun, pois essa é a maneira que os noruegueses pronunciam bacalhau.
Ontem deixamos o Senhor Misty sair no quintal por uns minutos. Eu fiquei morrendo de medo que ele resolvesse dar um super salto acrobático e pular a cerca [o que seria um fato e tanto!]. Os dois vizinhos têm cachorro. Mas ele foi todo cuidadoso, cheirando tudo e comendo nacos de graminha fresca. Logo eu coloquei ele pra dentro, carregado. Ele odeia ser carregado e depois ficou só na porta, olhando pra gente com aquela cara blasé que só os gatos conseguem fazer.
O Ursão foi finalmente comprar um cortador de grama, que já estamos nos sentindo complexados quando comparamos nosso jardim com os dos nossos vizinhos.. hoho!
Ma Rainey
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Num novo musical da Broadway, Whoopi Goldberg é Ma Rainey, a diva negra do Blues nos anos 20, precursora de tudo que se vê hoje por ai, de r&b à hip hop. A crítica diz que a Ma Rainey de Goldberg falha na parte mais importante, que era a forte presença musical da cantora. Ma Rainey’s Black Bottom parece ser, no entanto, um relato histórico perfeito da exploração dos artistas negros pelos brancos, que foi um cancro no meio artístico norte-americano até datas recentes.
yawn….
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Fui dormir às 2:30am, esperando pelo Ursão, que não tem como ficar mais soterrado de trabalho. Hoje vai passar o dia avaliando fellowships, semana que vem vai pra Washington, D.C. e em breve outras paradas. Ele precisa aproveitar o quarter livre, sem dar aulas, pra fazer outros milhões de coisas.
E eu fico vendo filmes na tevê, porque tenho essa mania de gente casada de não conseguir dormir sem ele ao meu lado.
Hoje vou ficar naquele estado ensonarado. Estou indo ao Farmer’s Market com a mami. Vamos comprar tomates secos e olhar o movimento em downtown.
ator e personagem
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Bob Dylan está como ator num filme. É Masked and Anonymous, onde ele faz o papel de um músico chamado Jack Fate. No site do filme dá pra ver um clipezinho. Estou vigiando os cinemas locais pra saber quando esse filme vai estrear por aqui. Saca só o time que está contracenando com Dylan neste filme: Jeff Bridges, Penélope Cruz, John Goodman, Jessica Lange, Luke Wilson, Angela Bassett, Steven Bauer, Michael Paul Chan, Bruce Dern, Laura Elena Harring, Ed Harris, Val Kilmer, Cheech Marin, Chris Penn, Giovanni Ribisi, Mickey Rourke, Richard Sarafian, Christian Slater, Susan Tyrrell, Fred Ward e Robert Wisdom. Arrasou total….. sem comentários!
Agora li alegremente na Entertainment Weekly que o diretor Tod Haynes [ de Far From Heaven e Velvet Goldmine] está planejando fazer um filme sobre a vida do Dylan. Segundo o diretor, ele ainda não tem o roteiro pronto, mas já tem mil idéias. O filme será uma obra ficcional, com pitadas de fatos reais da vida de Robert Zimmerman. Também não vai haver um ator fazendo o Dylan e sim vários, que viverão diferentes papéis, todos baseados no músico, mas nenhum deles afirmando ser o tal. Parece que Dylan já deu o sinal verde para Haynes usar suas músicas no filme. Esperemos pelo resto!