o arquivo engolirá tudo?

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Será que devo transformar de uma vez por todas este blog jurássico num fotoblog, porque sinto que os assuntos se esvaecem. Vou contar que tivemos uma passagem de ano com a casa cheia de gente, todos alegres, muitos brindes em várias línguas—tin-tin, saludo, cheers, skol! E que rimos muito daquele gato brasileiro que precisa de espaço e a piada virou we are brazilians, we need spaceeee, and take showeeers, and eat meaaaat. Nada de novo no front.
Claro que demos muitas risadas por causa dio meu irmão, que começou a fazer umas caras engraçadas enquanto bebia vinho e deu material pra irmã palhaça e despirocada tirar mil fotos ridículas para divertir a familhoca daqui e de lá.
Quando as visitas vão embora, a casa fica imensa e vazia, somente um eco do ronco gatos dormindo.
E começa tudo de novo. Nenhum ânimo de trabalhar, nem de cozinhar, nenhum entusiasmo iminente, nenhum novo interesse, só as mesmas chatices de sempre, com o agravo de que agora estou muito, muito brava com gente sem noção que acha que o seu trabalho não vale nada, que é só ir clicando e pegando suas fotos, seus textos, como se a web fosse uma grande horta coletiva, onde não é preciso investir nenhum suor e pode-se colher todos os frutos à vontade.
A grande verdade é que estou FARTA de blogs e bloganças. Estou cansada da falta de respeito, das bobageiras escritas e tolices rompentes e queria muito transformar tudo em fotoblogs, com o right click antipaticamente desabilitado.

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resolução

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Estou há anos lutando contra a falta de prática e esquecimento para manter o MEU PORTUGUÊS. Agora vem essa história de que tudo mudou—reforma na língua. Onde já se viu isso? Caem acentos, muda tudo. Olha, me deu um cansaço e uma cefaléia só de tentar ler e entender as novas regras. Então quer saber de uma coisa? Cague-se essa reforma! Vou continuar escrevendo o MEU PORTUGUÊS, como eu aprendi, quase esqueci e continuo tentando manter.

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sigam comendo seu feijão

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Quando a ella escreveu que “é muito bom, quando a gente não precisa mais ter razão. deixar que outros tenham razão e nem tchuns, porque não faz diferença”, eu me identifiquei completamente. Porque ando numa fase em que não tenho mais paciência pra discutir absolutamente nada. O que importa é o que eu penso e faço.
E ando pensando muito no amadurecimento e no envelhecimento. As mudanças, em todos os sentidos, são tão absurdamente grandes que abalam e transformam. Hoje, aos 47 me sinto uma pessoa bem diferente da que fui aos 27 e aos 37. Não é uma coisa ruim, muito pelo contrário. Mas a maturidade vem anexada a uma visão de mundo um pouco mais realista, o que no meu caso se traduz inexoravelmente para pessimista.
Hoje ajudei o meu gato Misty mais uma vez a subir na pia para tomar sua aguinha, porque ele tenta, fica dando aqueles sinais de corpo de que está prestes a dar um salto, mas não consegue. Esse é o resultado da velhice natural somada à crueldade que fizeram com ele, removendo cirurgicamente as suas garras. Um alerta pra quem pensa que declawing não tem nenhuma consequência…
Minha mãe sempre proclamava a frase “ainda tem que comer muito feijão” quando queria dizer que alguém ainda não estava preparado para algo. Às vezes me pego repetindo essa frase mentalmente, quando me deparo por ai com esse mundaréu de gente cheia de empáfia, achando que sabe tudo e que pode dar conselhos, que se coloca um degrau acima do resto da plebe, sendo que na verdade a maior lucidez é perceber que a gente não precisa mais ter razão.

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natalino & o espírito de porco

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Febenezer Guimarães Scrooge Rosa, posso ser, sim sou, assumo minha ranhetice, tudo bem. Pra mim a época de Natal é um período em que o planeta fica dominado por uma força maior. É quando uma onda de insanidade toma conta da humanidade, fazendo com que pessoas outrora comedidas saiam em total despirocagem, comprando, comprando, comprando e decorando a casa com enfeites de gosto duvidosos. Tenho muito medo de adentrar nesse território pantanoso e perigoso, habitado pelos enfeites natalinos. Já gostei mais de Natal, quando era criança e ficava encantada olhando meu pai montar uma arvorezinha artificial com guirlandas prateadas e enfeites vintage; ou quando já adolescente, montava eu mesma a árvore natural fazendo enfeitinhos de pano floridinho no formato de sinos, árvores e bolinhas na máquina de costura. Hoje sou muito minimalista e critica com relação à essa festa consumista. Uma das coisas que mais me oprime são as decorações dessa época. Lojas e vitrines decoradas com mil balagandãs natalinos e as casas—interior e exterior—piscando e pipocando com luzes e guirlandas douradas. Eu gosto de decorar minha casa para as celebrações do Natal, mas costumo fazer isso um ou dois dias antes da véspera. Coloco coisinhas que eu gosto em alguns lugares, às vezes monto a árvore no dia vinte e quatro, mas já não montei a árvore e não foi nem um pouco traumático. A decoração vai ficar espalhada pela casa do dia vinte e quatro de dezembro até o dia seis de janeiro. Já não está bom? Duas semanas de jingle bells, de cores natalinas, brilhinhos, meias penduradas na lareira, estrelas nas janelas. Mais do que isso é pura overdose. Agora me explica o que passa pela cabeça de uma pessoa que enfeita a casa, por dentro e por fora, esperando pelo Natal, no meio de novembro?

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o passado não condena