iê-iê-iê
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Tenho visto muitas meninas pelo campus vestindo mini-saias. Algumas na bicicleta, pedalando como podem. Essa é uma moda que vai e volta. Vi muitas saias curtíssimas nas lojas – até vi uma nem muito curta, que me lembrou umas saias que eu fazia cortando e costurando calças velhas. Acho que a primeira mini-saia que usei depois que deixei de ser criança, foi uma feita por mim mesma, com uma calça cortada e emendada. Eu tinha essa mania de criar minhas roupas. Tinha – felizmente perdi esse entusiasmo anos atrás e agora me contento em comprar compulsivamente e possuir quatrocentas mil peças descombinadas. Mas mini-saias estão fora do meu guarda-roupa já faz tempo. Eu ficava bem nelas, por causa das minhas pernas longas. Usava as saiocas até no invernão canadense, com meia-calça grossa e botas. Mas num belo dia começei a me achar estranha vestindo saia muito curta. Uma coisa que eu tenho horrorrr, pavorrrr, terrorrrr, é de virar uma mulher madura sem noção. Você pode ter quarenta e cinco anos e ser jovial, liberal, moderna, papo-firme, divertida, exótica, simpática, excêntrica, super chique, diferente, estravagante, engraçada, bonitona, interessante. Só não pode ser ridícula, e foi por isso que eliminei as saias super curtas do meu guarda-roupa. E não sinto a menor falta!
um visual very psicodélico
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Minha chefe veio me falar uma coisa – eu sentada, ela em pé, eu olhando pra ela, e ela gesticulando e fazendo um movimento de corpo pra frente e pra tras. Fui ficando zuretra, minha vista embaçou, fiquei tontíssima, vendo tudo atrapalhado. Quando ela saiu do meu raio de visão, respirei aliviada e enquanto recobrava a minha visão me convenci de que deveria ser proibido por lei usar blusa branca com listras pretas desiguais – grossas e finas misturadas – para vir trabalhar! Ainda estou com o estômago embrulhado.
Shiuuu!
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Basta uma curta caminhada até o banheiro para eu me interar sobre os business de um tanto de gente desconhecida. Que fenômeno irritante é esse das conversas aos berros nos celulares em público. Eu tenho uma voz baixa, eu falo normalmente num tom baixo, e quando falo no celular na rua, numa loja, eu falo omo sempre falo – sem gritar. Ninguém vai ser obrigado a ficar ouvindo minhas balelas. Mas eu tenho notado muitos gritões por todo canto. Muitas vezes escuto alguém berrando na outra quadra, a pessoa está falando tão alto, que dá a impressão que algo dramático está acontecendo. É uma coisa chata, que gera desconforto. Eu não quero escutar a sua conversa. Dá pra falar mais baixo?
on your left!
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Quando eu estou na bicicleta passando por uma multidão de outras cletas e pernas passantes, nunca sei realmente o que fazer. Vou devagar, bamboleante, pois não quero causar ou sofrer nenhum acidente. Mas é pratica dos bicicleteiros quando passam por um pedestre berrar – on your left/ right! – pra alertar o caminhante que uma bike está vindo logo atrás e vai te ultrapassar. Quando eles vêem devagar ainda dá, mas o duro é ouvir um – on your left! – e ficar zanzando indecisa como uma mosca bêbada por uns segundos, enquando a bicicleta passa a mil pela sua esquerda, quase te atropelando. O aviso de right ou left pode funcionar com pessoas normais. Não funciona comigo, que nunca consigo me posicionar direita ou esquerda assim, num pisco de segundo.
um dia como outro qualquer
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Mais uma vez eu vou dizer que não tenho nada a dizer. Passo meu dia olhando códigos na tela gigante de um Mac cheio de post-it colados, e quando viro a cabeça para o lado vejo bicicletas, bicicletas e mais bicicletas. Alunos apressados perdendo hora pra aula, mudando de sala, de prédio. Quando acordo ainda está escuro. Isso tem me dado um desânimo. Correm os gatos na minha frente, um vai checar a comida, o outro pára no tapetinho vermelho e dá um bote – de leve – na minha perna. Eu rio. Já estou bebendo algumas xícaras de chá durante o dia, alternando com a água. Já preciso de sueters, um casaquinho outonal. À tarde alguém sempre diz – It’s really nice out there! Leio livros, folheio revistas, cozinho e escrevo, ou só escrevo, ouço jazz antigo, vejo filmes na tevê. Hoje vou ao cinema.
Esponja
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Não conseguia dormir pensando nas pessoas dentro do avião, imagens mórbidas pipocavam na minha cabeça por causa das coisas que li. Não é a primeira vez. Sou traumatizada por informações. Não lembro exatamente qual incêndio – o do Joelma ou o do Andraus, mas lembro da foto gigante na primeira página da Folha de São Paulo, mostrando os corpos retorcidos e carbonizados no terraço do prédio. Até hoje quando lembro dessa imagem, começo a suar frio. Eu era uma criança quando vi aquilo e nunca mais esqueci. Tragédias traumatizam todos, ponto. Em todas elas eu sofri e chorei, como se tivesse acontecido comigo. Elas deixam uma sombra, um gosto amargo na boca, um ligeiro pânico. Por que eu fui ler sobre o acidente, e sobre as meninas amish executadas por um pervertido doente? Não quero saber de mais nada, não quero ler nada, discutir nada, ver nada. É tudo uma grande tristeza.
e obrigada
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Muito obrigada à todos que deixaram recadinhos por aqui. Tive um feliz aniversário, mesmo com a tempestade de notícias deprimentes, avião caindo, corruptos e incompetentes se reelegendo, tiroteio em escolas, bombas e desgraceiras gerais. Por isso valorizo e agradeço muito todas essas vibrações positivas!