parlare

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Meu coach de natação fala comigo em português. Ele é americano. Eu lembro que quando vivíamos em Campinas e eu não me interessava nem um pouco em aprender nenhuma língua estrangeira, às vezes eu acompanhava o Uriel nas chatíssimas reuniões do Clube Kiwanis, onde os americanos que viviam no Brasil se encontravam uma vez por mês para destramelar no inglês. Alguns raros brasileiros participavam daqueles encontros e o Uriel era um deles. Eu ía pouquíssimas vezes, porque não entendia inglês e ficava tremendamente irritada quando alguém não falava português comigo. A vida dá muitas voltas e hoje estou na situação inversa. O português é o meu gueto. Eu não me preocupo muito em que língua estou falando, nem me agrupo com ninguém especialmente para destramelar na minha língua materna. Tudo acontece naturalmente, sem muito pensar. Mas eu vejo no meu coach falando português, aqueles brasileiros que, no Brasil, não perdiam uma oportunidade de praticar o inglês quando tinham uma chance. E de vez em quando me vejo como os americanos nas reuniões do Kiwanis em Campinas, sem saco para falar a língua estrangeira.
Ontem vi toda essa dinâmica acontecendo em outra língua, como num filme que eu só entendi porque a atitude é universal. Os italianos não estavam se esforçando nem um pouco para falar inglês e os americanos e estrangeiros que aprendiam o italiano estavam ávidos para praticar sua gramática e vocabulário. Eu gosto de ouvir línguas diferentes, especialmente se é uma que eu tenho um pouco de familiaridade e consigo entender palavras e sentenças. Mas fiquei um tanto irritada e uma hora pedi encarecidamente “instructions in English, please!”. Quem diria, hein?

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pregui

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Ontem eu confessei sem vergonha: não sei se ainda quero escrever, não sei se realmente gosto de escrever. Eu sinto falta de entusiasmo quando penso em escrever sobre um assunto qualquer – um filme que vi ou um sentimento que gostaria de expressar, por exemplo. A verdade é que tenho me sentido cada vez menos atraída por textos, letras, palavras, idéias, histórias.

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caiu

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Eu estava numa reuniãozinha conversando com um casal. Ela estava toda elegante, com uma saia reta preta longa e um blaser. Estávamos em pé, próximos da mesa com quitutes quando ela se abaixou rapidamente. Quando levantou, olhou pra mim com uma cara abismada e disse com uma risada:
– a minha saia caiu!
Caiu? Como assim, caiu? Sim, caiu….. slip, plof….. O fecho abriu, a saia deslizou e caiu no chão. Felizmente tudo aconteceu em segundos: a saia escorregou, ela percebeu, abaixou, subiu, colocou tudo no lugar e me pediu pra arrumar o fecho que estava totalmente aberto. Ninguém percebeu nada, nem mesmo eu que estava ali ao lado.
Nós rimos muito!!! Quando é que se pode presenciar uma cena dessas fora da tela da tevê ou do cinema?
Hoje, coloquei meu maiô e vesti uma calça jeans de cintura baixa por cima, porque quis encaixar a natação entre duas reuniões na UCDavis. Saí atrasada para a primeira reunião e enquanto caminhava apressadíssima notei que a calça estava escorregando. Fiz o resto do caminho com um dedo estrategicamente segurando o cós da calça – fingindo que sou apenas uma figura super cool – porque fiquei realmente preocupada, achando que a minha calça iria cair, como aconteceu com aquela saia!

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slide

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irmaos
[Carluxo, Paulito, a mandona Fezoca e a fofinha Lezoca – anos 70]

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IHouse

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Agora sou voluntária também na International House de Davis. Me inscrevi pra ser docente, isto é, trabalhar regularmente um determinado número de horas por semana. A casa funciona com voluntariado e faz um trabalho importante para a comunidade estrangeira que chega para estudar na UCDavis. Eu me entusiasmei em trabalhar com eles depois que participei de uma sessão de cinema, que eles oferecem ao público duas vezes por mês. Conversei com algumas pessoas, preenchi um formulário, paguei uma taxa anual e já fui convocada para ajudar num jantar italiano que vai acontecer neste sábado.
Hoje o cozinheiro italiano, chamado Teo, me ligou. Com um sotaque macarrônico ele quis saber se eu confirmava a minha presença. Eu perguntei o que ele iria cozinhar e ele respondeu que “umas pastas, umas bracholas e outras coisinhas…”. Hummmm!

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popular

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Uma vez, sendo apresentada a uma fulana esquisita, ela exclamou toda animada:
“- ah, você é a PESSOA IDEAL para ser minha amiga!”
Também ouvi essa de um cara, depois que eu confessei que gostava de um bluesman:
“- eu PRECISO ser amigo de uma garota que gosta do Mississippi John Hurt!!”
É minha especialidade entrar nessas confas…..
Reclamando pra minha irmã dessas pessoas chatas que não tinham nada a ver comigo, mas que me torravam os piquás, me impondo uns relacionamentos neuróticos, ela disse:
“- nega, é que você é MUITO legal, então todo mundo quer ser seu amigo!”
Oh, que bom……!

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be neat

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Bagunça e desorganização tem limites. Eu vou até um certo ponto zoneando aqui e ali e então tenho que parar e arrumar tudo, senão não consigo tocar a vida pra frente.
Minha laundry vive bagunçada pois é lá que eu empilho papéis e jornais para reciclagem, além de vidros, latas e garrafas. E é lá que fica toda a roupa suja, dentro de um gavetão. O problema é que muitas vezes eu esqueço roupas dentro da lavadora ou da secadora. Ou penduradas num cabide. Também tenho a mania de não guardar os produtos de limpeza dentro do armário. E sempre procrastino a limpeza do banheiro do gato, que também fica na laundry. Acaba que o gatonildo se irrita e mija pra fora do dabliocê, molhando o tapetinho e espalhando areia por todo canto.
Outro lugar que está sempre bagunçado é o meu banheiro, com pilhas de revistas num canto, trocentos cremes, perfumes, batons em cima da pia. A bancada é enorme, com duas bacias e duas torneiras e eu cheguei à conclusão que quanto mais espaço temos, mais espaço usamos pra nos espalhar e bagunçar.
O pior lugar da casa em termos de zoneação é o meu desk, onde estou agora. É tanto papelzinho, livros, revistas dobradas, canetas, cds, fichas, fotos, latinhas, lembretes, contas, que na hora que eu realmente preciso de algo, não consigo achar nada.
Vez e outra baixa uma Ferxineira por aqui e eu arrumo as zonas. Mas não todas de uma vez. Vou aos poucos, por etapas. Hoje arrumei meu desk. E joguei fora de um tudo: papelzinho com números anotados que nem sei o que são, notas com filmes que assisti na tevê no ano passado, endereços de não sei quem, contas atrasadas ou canceladas, pilhas descarregadas, cartões de visitas que precisavam ir pro lixo, stubs de filmes que vimos no cinema em janeiro de 2002, recortes de jornal….. Ah, depois da limpa estou até enxergando melhor, visualizando o que eu tenho de realmente útil.
Minha rotina é mais ou menos um ciclo – bagunça, bagunça, bagunça, arruma, bagunça, bagunça, bagunça, arruma, bagunça, bagunça, bagunça, bagunça, bagunça, bagunça, arruma, bagunça, bagunça, bagunça, arruma. Bagunça lá, arruma aqui, num eterno faz e desfaz. Mais ou menos como aquela outra atividade cíclica de lavar louça.

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revisited

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O novo Bob Dylan chama-se Jackie Greene, tem 23 anos e é californiano de Sacramento.
A nova Janis Joplin chama-se Joss Stone, tem 16 anos e é inglesa.

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dia molhado

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Minha intenção era nadar na fria manhã deste feriado de President’s Day. Mas meus planos se afogaram na aguaceira da chuva, que começou de madrugada e ainda não parou. Nadar com frio e chuva já foi uma coisa divertida, mas não é mais…
O João disse uma vez que os meus posts contando histórias de infância e minhas fotos amareladas de fuscas, anjinhos, piscina do clube da AABB e risadas faltando dentes, eram “proustianos”. Eu gostei desse comentário dele e sempre lembro disso quando escrevo histórias desenterradas do meu passado de criança travessa.
Pois a chuva e a vontade de nadar frustrada de hoje me fez lembrar de um episódio da minha infância. Água sempre foi o meu ambiente favorito [e o ar, onde viviam meus pensamentos, o segundo]. Eu me lembro nítidamente que tinha uns oito anos e meus primos paulistas e cariocas estavam passando férias com a gente. A casa virava uma bagunça. Minha mãe trabalhava fora e a gurizada ficava aos cuidados das empregadas. Num tal dia com uma tempestade horrorosa se aproximando – o céu negro, sons ameaçadores de trovões – eu decidi que queria ir nadar NUM RIO. Ninguém, nem o meu primo mais velho, inventor de modas e valentão topou me seguir. Eu resolvida disse que iria sozinha mesmo. Uma das empregadas me seguiu pela rua quase chorando, pedindo, implorando, não vai, sua mãe e seu pai vão me matar se eu deixar você ir. Mas quem é que conseguia mandar em mim ou me impedir de fazer qualquer coisa? Eu fui com a empregada caminhando junto e praguejando, enfrentei o escândalo dos raios e trovões, nem liguei pra chuva caindo, pulei do morrinho, nadei com os pingos do céu deixando a água mais quentinha, fiz o que eu queria fazer e só então voltei pra casa. A empregada, em estado quase histérico, só sossegou quando entramos em casa e eu fui pro chuveiro, tomei um banho quente e coloquei roupa seca. Nem sei se ela contou essa história pros meus pais. Acho que não contou, porque eu não lembro de ter apanhado de cinta – que seria o merecido – na frente dos meus primos!

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áspero

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o passado não condena