um déjà vu musical
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Parece até que eu completei um ciclo e acabei exatamente onde comecei. Trabalhei ontem no mesmo exato show que trabalhei no ano passado. No mesmo dia, na mesma seção do teatro, um mesmo show sold out que tive que assistir de pé. Mas pra ver The Blind Boys of Alabama eu não me importo de ficar até de ponta cabeça. Pro repertório clássico/étnico/refinado do Mondavi Center, os cegos do Alabama cantando o Gospel é o mais próximo que se consegue chegar do Blues. Pra mim está ótimo. Mesmo não se podendo dançar, nem beber cerveja enquanto se dança de olhos fechados, em transe, cantando os refrões com os músicos, o show compensa. Foi o mesmo show que eles fizeram no ano passado, com a diferença de uma música ou outra e a ausência de um encore. Os cegos do Alabama são bem velhinhos e não deve ser fácil cantar e dançar [sim, eles dançam!] daquele jeito por mais de uma hora. Eu me contento com o que me é oferecido, porque pra mim ouvir Gospel ou Blues ao vivo vale qualquer sacrificio. E ficar em pé nem foi difícil, pois acabamos mesmo foi fazendo passinhos super discretos de dança, ali no fundo do teatro, onde ninguém poderia ver os voluntários se requebrando. Do you feel good?
sai da frente!
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Todo ano é a mesma lenga-lenga: desânimo, desânimo, desânimo monstro. Me arrasto pelo mês de dezembro, procrastinando o máximo que puder, me recusando a enfrentar o desafio de frente. Detesto fazer compras de Natal e me embrenhar em todos os preparativos pro Natal e Ano Novo. Considero essa minha reação apática à um período completamente histérico e delirante, uma evidência de que o espírito de porco natalino existe e é dotado de fortes poderes.
Mas dois mil e cinco vai entrar pra história da minha vida como o ano em que eu passei uma rasteira nessa entidade que toma conta de mim no último mês do ano. Vejam se não é extraordinário, já encerrei minhas compras de Natal! Enfrentei as lojas cheias de crianças chorando e dando escândalo – sem brincadeira, no dia que eu saí às compras, parecia que estava acontecendo uma invasão de seres chorões e birrões em todas as lojas que adentrei. Aturei as musiquinhas deprimentes que tocavam dentro e fora das lojas. Superei a angustia de pensar e repensar no presente perfeito para cada um, que vai ter mais probabilidades de agradar do que de acabar na seção de trocas no dia vinte e seis de dezembro. Lord have mercy! Nessas horas eu realmente invejo uma pessoa que eu conheço que se diz pagã e que não celebra o Natal.
she’s got everything she needs, she’s an artist, she don’t look back
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– olha, eu vou me vestir apropriadamente pro evento de amanhã… não vou aparecer no meu usual funky style, que você já conhece. quando encontrei o John pela primeira vez eu estava vestindo uma touca de lã cheia de pompons coloridos…
– ah, mas você pode, pois é uma artista!
Ansel Adams clicou por aqui
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Bom, ele clicou por toda a Califórnia e fez as fotos de paisagem mais bonitas que eu já vi. Mas eu não sabia que ele tinha andado pela UC Davis, clicando os agro boys, as vacas, os celeiros e as cerquinhas.
Como cheguei um pouco adiantada para a reunião, fiquei enrolando pelo saguão do segundo andar do Mrak Hall e vi as fotos mais lindas já tiradas neste campus. Trabalho de mestre. Um cara de calça rancheira, chapéu e blusa amarrotada segurando um cavalo, os alunos trocando de classes de bicicleta numa manhã fria de um dia qualquer na década de sessenta, panorâmicas do campus muitos anos atrás, uma foto da água do mar com espuma e plantas na estação marítima que a UC Davis tem em Bodega Bay que fez meu queixo cair. Vi outras fotos sensacionais, que não eram do Ansel Adams, mas eram bem interessantes. Cenas da universidade na década de 10, alunos de macacão de brim, professores de suspensórios, o staff todo de mulheres e até um cachorro mascote. O campus ainda era uma casa, um silo, um barn. Viagem!
ai
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Não sei se exagerei no butterfly mal feito, ou se bati o recorde da correria ontem. Mas hoje amanheci com uma notável dor nas costas. Isso não me acontecia há anos. Eu tinha muitas dores nas costas quando era uma magrela palito. Agora que acumulei uns quilinhos extras, minha coluna nunca mais me incomodou. Estranho, mas verdadeiro.
E sobre quilinhos, ganhei uma balança dessas de banheiro de um amigo. Iniciei então um experimento. Por uma semana eu me pesei diáriamente de manhã cedo e à noite. Constatei que à noite eu peso dois pounds [quase um quilo] a mais! As pesagens foram feitas sem roupa e sempre na mesma hora. Durante o dia, eu acumulo quase um quilo, que perco no dia seguinte. Estranho, mas verdadeiro.
põe no lixo
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Acho que esse é mais do que um bom motivo para se dar um pé na bunda do IE. Eu advogo em favor do Mozilla Firefox – o melhor!
muita gente precisa deles
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Eu já conhecia o Geek Squad que tem até umas propagandas ridiculinhas na tevê. Hoje vi no jornal que a região de Sacramento tem também os Nerds on Call. Eles salvam a pátria de gente que está sempre com o computador dando problema. Aqui em Davis tem um cara que está listado no Davis Wiki . Ele é um geek do Clube do Linux e se oferece pra fazer qualquer conserto de computador dando pau, sem cobrar nada, de graça! Eu entrei em contato com ele uma vez porque uma amiga estava com um problemão num computador novinho [um PC, craro, né creusa!]. Ele foi na casa dela, achou o problema e arrumou. Foi chamado outras vezes pra desatar um nó cego num laptop. Achei o máximo esse cara fazer isso só porque gosta de fazer, enquanto já tem uma turma tentando capitalizar. Mas muita gente precisa deles. Felizmente eu nunca precisei chamar nenhum nerd ou geek, porque eu tenho um Macintosh, né darlings!
na lata
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Hoje finalmente admiti o fato incontestável de que ando há tempos com uma preguiça plutônica de escrever. Acho que isso é um grave sintoma de vida virtual tediosa. Felizmente a minha outra vida, com cheiros e sabores, está bem mais divertida!
Atravessamos a livraria Borders de Emeryville falando como matracas para usar o banheiro. Vi de relance um livrão preto na seção das celebridades com o título em letras brancas garrafais – BLOG. Não tive vontade de ir olhar de quem ou sobre o que era, mas acho que era algo óbvio.
Como é bom comprar coisas bonitas e legais pra você mesma!
O Urso insiste e insiste – vamos abrir uma champagne. Mas ele não bebe mais álcool já há alguns anos.
Natal. Nenhum enfeite me seduz. Fui ver o preço de uma árvore de verdade, das que a gente cruelmente mata pra enfeitar a nossa sala. Preço: cem pilas. Pra no dia vinte e seis de dezembro acabarem todas jogadas, como se não valessem nada, nas sarjetas e latas de lixo da cidade, esperando serem carregadas pra sei lá onde. Nem pensar.
Claro que tenho visto muitos filmes, todo dia. Mas estou quase tão preguicenta quanto o queridão Moa e prefiro ficar subindo e descendo escadas e rindo com os gatos. Mas pra escrever sobre comida eu nunca tenho preguiça.