For All
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O dia foi de calor extremo, os termômetros marcando 45ºC. Nunca vi uma coisa assim em todos os meus anos vivendo aqui. Combinamos de ir a um baile, onde uma banda anunciada como vinda diretamente da Paraíba iria tocar um autêntico forró do Pé da Serra. Saímos quase dez da noite e ainda estava 38ºC sem nenhuma brisa, nada, só um bafão extremamente pesado. Chegamos no bailão frescos, graças ao ar condicionado do carro. Mas lá o bicho começou a pegar. Todo mundo suava, quem estava dentro do galpão com ar condicionado e ventiladores e, pior, quem estava fora, no barzinho tomando uma cervejinha. Consumimos muitas garrafinhas com água gelada. Quando o forró começou, com o grupo de baixinhos vestindo chapéu de cangaceiro – viola, zabumba, sanfona, triângulo – foi um dancetê total. Os casais se requebravam e suavam, nós no grupão. Eu sentia o suor escorrer pelas minhas costas, pelas pernas, pingar da minha sobrancelha e do queixo. Dançamos muito, muito, pois forró é muito divertido! No intervalo fomos conversar com os músicos que – surpresa, caRRRinhas – eram todos piracicabanos! Conversamos um tanto com eles, que nos contaram que fazem turnê pelos EUA até março de 2007 e que arrasaram Paris em chamas em Las Vegas. Quando eles voltaram a tocar, nós voltamos a dançar. O galpão fervia, o ar condicionado e os ventiladores não estavam mais dando conta do recado. Quando resolvemos ir embora, passamos pela banda apertando a mão dos músicos um por um.
– Boa sorte! Tudo de bom pra vocês, boa turnê!
– Obrigado e fica com Deus!
Sempre a mesma história…
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— Você é do Oriente Médio?
— Nãoo…
— É da Itália?
— Nãoo..
— Hmmm…
— Dúvido que você adivinhe.
— É do Sul? América do Sul?
— Sim.
— Hum… Equador?
— Nãooo…
— Venezuela?
— Nãooo..
— Hmmhh….
— Sou de um país que recebeu uma grande imigração de italianos.
— Argentina!
— NÃOOOO!!!
— Brasil!
— Sim!
Cruz credo, viu… nem sei porque me presto a esses diálogos bestas. O que interessa saber de onde eu vim? Eu sei que tenho essa cara multicultural de Samira Magnani, mas ainda fico incomodada quando sou abordada por alguém falando turco, persa ou tunisiano comigo. Bom, admito que é um pouquinho melhor que ouvir o famigerado “Hola!”
Esse papo já tá qualquer coisa…
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Eu estou pessimista como nunca imaginei um dia estar. Toda vez que vou ao supermercado, tenho ganas de fazer estoque de atum em lata e de galões de água. Sinto uma tristeza imensa, uma pena imensa, uma desilusão imensa. Eu sempre achei que a minha geração não iria viver cenas de filme de final do mundo. Já não acho mais…
recadinho
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Recebi isso hoje da minha mãe. Estou rindo até agora. Não lembro quem era a Lurdes, mas eu tinha uma amiga alemã chamada Ingrid e estava provavelmente tentando exibir as palavras em alemão, que certamente tinha aprendido de ouvido com ela. E a casa da Ingrid era assim amarela, com o telhado de telhas de barro e portas e janelas vermelhas . Em 1969 eu tinha 7 anos! Clique para ampliar e ver detalhes.
vamú de retro!
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Esta semana foi inaugurada com um acontecimento que me chateou muito e que ainda não se encerrou. A partir daí deu-se início a uma sequência de dias bestas, daqueles que gostaríamos de apagar da memória da nossa existência. Podemos classificá-los como dias de trânsito astral ruim, retrógado, pesado. São dias que ficaram infectados, dias mofados, purulentos, cascudos, fétidos. Nesses dias não há muito o que fazer, pois nada dá certo, por mais que você se concentre e se esforce. Eles atraem dores, acidentes, esperas inúteis, irritação, choradeira, decisões emocionais, precipitações, preocupação, tristeza, temor, desânimo, raios e trovoadas. Sabemos que dias assim com certeza passarão. Manter-se firme durante o trajeto é que não é fácil.
Não vira, se revira
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Uma coisa que me irrita profundamente é, quando expressamos nossas opiniões, ouvir de algum brasileiro a frase clichê- ah, você já virou americano! Quer uma boa resposta? Ninguém vira nacionalidades, como se vira religioso ou partidário político. Porque pra virar americano teríamos que primeiro morrer e depois renascer, torcendo pra não acabar errando o país-alvo e reencarnar como um panda lá na China.
Minhas dez camisas brancas
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Depois de ler o post sequencial da Flá, Patty e Ângela, fiquei com a sensação de que sou uma péssima compradora de roupas. Tenho peças básicas e clássicas, alright, mas meu closet pode ser descrito como um resumo de um baile de carnaval, cheio de roupas repetidas, da mesma cor, do mesmo modelo, ou um monte de peças totalmente desconectadas e que não combinam com nada. Taí a resposta pra minha frustração crônica e aquela sensação de que estou sempre mal vestida me assombrando – especialmente durante aquele certo período da tarde, quando você tem certeza que a validade da elegância já expirou.
Quando passo as roupas do verão ou inverno para outros armários sempre faço uma avaliação geral do que fica no closet. Da última vez contei vinte calças jeans e dez camisas brancas. Tá certo que as camisas brancas eu uso quando trabalho no teatro, mas peloamordedeus, quem precisa de vinte calças jeans? Pelo menos tomei uma decisão quanto às camisas, e as estou usando com as mangas enroladas, com qualquer tipo de calça ou saia. Camisa branca não tem erro, é sempre chique – claro que só até chegar aquele período da tarde, quando a validade da elegância fatalmente expira.
grandes fatos históricos
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Meu pai morava no Rio de Janeiro quando o presidente Getúlio Vargas se matou, e contou que a cidade viveu um dia de caos. Ele recorda que todo mundo corria pelas ruas, fugindo da polícia que estava descendo o cacete e prendendo indiscriminadamente. Meu pai indo e voltando do trabalho quando via a malta correndo, se punha a correr também. Na dúvida, melhor prevenir.
Ela me contou que mataram o presidente John Kennedy bem no dia do seu aniversário. Ela ganhou seus presentinhos, mas esqueceram do bolo e a festa foi cancelada. Ela não entendia o por que daquela comoção, todo mundo chorando compulsivamente na frente dos aparelhos de tevê e rádio. O país parou, bem no dia do aniversário dela. Pusta azar!