texturas

*
textura textura
textura textura
[ … e pés – metal, terra, areia e água ]
  • Share on:

cabeção

*

Estava indo buscar o Uriel na escola [a gente chama a UCDavis de ‘escola’!] pra jantar e no meio do caminho, quando passo em frente do Mondavi Center, me deu um treco. Pânico total! Pensei que tinha esquecido que eu tinha um evento marcado pra trabalhar no teatro. Como eu já fiz isso uma vez, fiquei com o gosto de pesadelo na boca. Meu coração disparou, minha garganta secou, fiquei realmente nervosa dentro do carro. Olhei o relógio do painel: 7:22pm. Me subiu um sangue – merda, merda, fiz essa burrada de novo, sou uma anta, como pode uma coisa dessas, eu não tenho jeito, o que vou fazer agora, que estúpida, que besta, que energumena – tudo isso em três segundos, quando caiu a ficha que era quarta-feira e o evento era na quinta. É hoje, não posso esquecer, não posso esquecer, não posso esquecer!

  • Share on:

a coisa certa

*

Toda vez que íamos à uma sorveteria, eu escolhia o sabor do sorvete rápido e certo. O Uriel ficava um tempão olhando o menu com aquela cara de dúvida e quando finalmente decidia por um sabor, se arrependia e não gostava, queria trocar com o meu. Isso me irritava profundamente.
Mas como nesta vida nada é certo nem definitivo, minha vez de ficar titubeando pra escolher algo também chegou.
Toda vez que vamos ao restaurante tailandês favorito do Gabriel, me dá um ataque de incerteza. Eu não gosto deste tailandês em particular, gosto de outros dois, onde já sei o que pedir e o que vou gostar. Mas nesse, onde vamos com o Gabriel e a Marianne, eu NUNCA peço algo que eu gosto. Parece uma praga. Da última vez que estivemos lá eu pedi uns noddles de arroz que não mataram a minha fome. Ontem fui a última a decidir. A garçonete teve que voltar duas vezes para finalmente anotar o meu pedido de thai stir fry, que eu achei sem graça e não me sustentou. Fiquei dando garfadas no arroz do Uriel e no curry do Gabriel [e de olho nos pimentões vermelhos que a Marianne colocou de lado no prato dela, mas sem cara-de-pau pra pedir..]. Não consegui decidir nem na bebida! Pedi um thai iced tea, depois uma cerveja e tive que beber os dois. Saio de lá sempre com raiva, pois não comi direito, não decidi o prato certo. Que droga.
O Uriel não fala nada, mas eu sei que nessas horas ele está completamente vingado dos meus comentários irritados quando ele não conseguia decidir o sabor do sorvete. A vida é justa!

  • Share on:

and off we go….

*

Iniciamos a semana quebrando recordes de temperatura. Segunda-feira fez 98ºF e ainda estamos em abril. Fico pensando se isso não seria uma preview do que vamos ter que suportar no verão. Mas a natureza anda meio bêbada, desiquilibrada com tantos abusos e creio que não temos condições de prever mais nada.
Os noventa e oito podem até explicar aquele clima pesadão da segunda-feira. E como eu não sabia que iria fazer tanto calor, deixei as janelas dos quartos abertas a tarde toda. À noite, não se aguentava ficar no andar de cima da casa. Ontem, já sabendo que teríamos outro dia daqueles [96ºF], fechei todas as janelas e cortinas às onze horas da manhã. Mesmo assim os quartos ficaram meio abafadões. Mas ainda é muito cedo pra ligar o ar condicionado …..
Pois acho que agora não tem mais volta. O ventilador de teto já está num flapflapflapflap incessante e já guardei o edredon de penas de ganso e coloquei algo mais leve na nossa cama. O detalhe de Davis é que não importa o quão quente foi o dia, à noite sopra sempre um vento frio. Um pouco como o deserto, só para ilustrar a história.
Então apertem os cintos, que os dias tórridos já estão por aqui!

  • Share on:

pedantismo

*

Ontem dividi a raia com uma figura completamente antipática. Foi a primeira vez que nadei com alguém tão desagradavel. Aliás, foi a primeira pessoa não-simpática que conheci naquela piscina. Mas é sempre um choque e eu fico desconcertada, mesmo tendo plena consciência de que o problema não sou eu.
Outro dia entrei no blog de uma pessoa antipática. Isso já me aconteceu antes, não é novidade que tem muita gente idiota no mundo blogueiro. Gente que se acha, gente que caga e anda pra sua visita, que deleta seu comentário ou que simplesmente te ignora ou curte avacalhar, escrachando qualquer coisa que você escreva. Eu já vi de tudo, juro. Estou nessa vida de blogueira há quase quatro anos. Mas nunca tinha visto alguém não querer ser lido. Então põe uma senha na entrada e transforma o blog num círculo secreto para um grupo seleto. E aproveita e vai lamber sabão …….

  • Share on:

22

*

Outro dia caminhando no arboretum eu passei por um casalzinho com um bebê. Eles tinham uns vinte e pouquíssimos anos e colocavam o bebê fofinho e rosadinho num carregador que estava pendurado nos ombros do pai. A visão dessa pequena família me jogou numa viagem nostálgica de memória, pois me vi no lugar da menina, o Uriel no lugar do menino e o Gabriel no do bebê. Me senti engolfada por uma onda de calor, um sentimento de saudade e alegria. Fiquei com os olhos cheios de lágrimas e me deu uma rápida confusão mental, lembrando que tínhamos vinte anos quando ganhamos o Gabriel como um presente dos céus! E ele chegou há exatamente vinte e dois anos no dia de hoje!

  • Share on:

lousy monday

*

Hoje eu acordei cansada e ainda estou me sentindo assim, fazendo tudo num ritmo mais devagar, como se tivesse arrastando bolas de ferro amarradas às minhas pernas. Tem dias que parecem que pesam nos nossos ombros. Coincidentemente esse dia pesado é uma segunda-feira, o que dá margem para muitos comentários e reflexões relativas ao segundo dia da semana.
Fui nadar. Nem sei como. Cheguei no ponto em que nem penso mais em desculpinhas pra não ir nadar, nem em dias de chuva, nem de frio, nem de chico, nem pras segundonas de chumbo. A manhã passou rapidamente e quando olhei no relógio já eram 10:30am. Sem pensar ou piscar fui para o banheiro me besuntar de sunscreen e vestir o biquinão de nadar. Quando estou na água da piscina o astral melhora. Esqueço até que comecei o dia devagar e que ainda tenho mil coisas [chatas] pra fazer. Estou certa de que ultrapassei a fronteira que divide fazer exercício por pura obrigação e realmente curtir praticar um esporte, mesmo não sendo uma atleta. Tenho me perguntado, será que finalmente encontrei meu nicho esportivo? Eu só vivi esse entusiasmo uma vez na vida, quando pratiquei caratê por três anos, de 86 a 88. Primeiro eu ia me empurrando, depois fiquei animada e batia o ponto nas aulas, mesmo quando tive que mudar para Piracicaba e acabei numa academia lixo que tinha no centro da cidade, com tatami fedorento e frequentada por uns orangotangos agressivos.
Minha hora na piscina do Davis Aquatic Masters foi o ponto alto do meu dia. Tudo o mais que fiz até agora foi chato, monótono e feito por obrigação. E ainda tenho muitas horas e muitos afazeres pela frente. Mal posso esperar para pôr um fim nesse dia boçal.

  • Share on:

reggae night

*

Fomos à uma festa reggae ontem à noite. Eu e a Marília arrumadinhas, de bolsinha patricinha. O Uriel no estilo de urso usual dele. A festa era nos domes, que é uma comunidade hiponga dentro da UCDavis. É um lugar bem diferente, pois as casinhas são realmente domes, no formato de igloos. Todo mundo acha o lugar bizarro e já ouvi muitas histórias sobre os moradores – todos estudantes, que ficam em listas esperando por vagas para poderem morar lá – que dançam nus ao som de tambores e sob luz da lua. Não sei se essas histórias são verídicas, mas o ambiente lá é realmente bem alternativo. Eles comem orgânico [eu também, não seja por isso!], têm cabelo rastafari, se vestem hipongamente, têm todo o visual pra impressionar. E tocam tambores, fumam muita marijuana, criam galinhas, plantam legumes e secam tomates ao sol.

Estávamos destoando totalmente do ambiente, mas resolvemos curtir a festa assim mesmo. Quando chegamos às 10pm o som estava legal, produzido por um DJ com inúmeros elepês de vinil. Estava bem escuro, algumas árvores estavam decoradas com luzinhas e tinha uma fogueira no centro, com dezenas de garotas e rapazes sentados em volta. Eles tinham um palco montado, com imagens de shows de reggae pipocando em dois telões e membros rastafaris de uma banda se preparando para o show.

Conseguimos enxergar muita gente com garrafinhas de cerveja nas mãos e vimos um lugar que parecia uma venda de comida. Na realidade era um lugar onde você podia pegar comida, mas não dava mais pra ver o que era, nem se ainda tinha alguma coisa, nem se era pago ou de graça. Com uma nota de cinco na mão, fui com a Marília tentar comprar cerveja.

– oi, onde a gente compra cerveja aqui?
– aqui não vende cerveja…
– não?? e o que é isso que você está bebendo? [eu num momento audácia]
– ah, você tem que trazer a sua cerveja.
Tentamos mais à frente, dois rastafaris loiros sentados na frente de um dome. Fui entrando numa espécie de tenda, onde vi numa cena esfumaçada um monte de gente sentada, provavelmente fumando. Dei meia volta e perguntei pra um dos rastas:
– vocês vendem cerveja aqui?
– não….
[e olhando pra nota de cinco na minha mão]
– você tem uma ‘pipe’?
– não….

Finalmente caiu a ficha, que não vendia cerveja [of course, precisa ter licença pra vender álcool], mas se eu tivesse uma ‘pipe’, quem sabe desse pra comprar algo com os meus cinco mangos.

Voltamos à espera pela banda. Demorou, demorou, eu já estava começando a ficar irritada. E reggae ao vivo que seria bom, nada. Pararam a música dos discos de vinil e a banda se postou no palco testando os instrumentos. O microfone falhava enquanto o vocalista, com um chapéu enorme, falava coisas maneiras e cheias de mensagem de paz e amor com um pesado sotaque jamaicano. Quando a banda finalmente começou a tocar, percebemos que devíamos ser os únicos seres sóbrios naquela festa, que contava também com a presença de gatos e cachorros. O fumacê estava forte e denso e a banda tocava tão devagar que estava irritando. O clima era odara demais e nós estávamos a fim de dançar pra valer. O reggae dos domes não era pra nós, não-hipongos, não-fumantes não-praticantes de ioga. Fomos embora, tomar uma cerveja num bar.

  • Share on:

o passado não condena