zonzeira

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Como eu me guio pelo meu marido, hoje ele dormiu até mais tarde e eu o segui, acreditando que era sábado! Quando eu levantei, já fui logo dizendo pra mim mesma, não vai esquecer a reunião às duas da tarde. O fog cobriu a cidade e também a minha mente. Só quando sentei aqui pra ler os e-mails da manhã e virar a página da agenda, foi que vi que hoje é sexta-feira! Tive até que confirmar, checando a data/hora na tela do computador, porque achei que tinha esquecido de virar a página ontem e estava firme na idéia de que hoje já era sábado. Well, estou me sentindo como se tivesse ganhado um dia a mais na semana!

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go tell it on the mountain

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Um dia típico de Fezoca. Saio diretamente do chuveiro, atrasadíssima, para uma reunião importante na UCDavis, sem almoçar, com o cabelo completamente molhado, faço à pé um caminho de quinze minutos em cinco, chego no lugar toda esbaforida e suada, sem mencionar descabelada. Tenho um encontro com o diretor do Public Information Office e o designer chefe, responsável pelos websites da universidade. Manda a regra que se vá bem vestida à esse tipo de reunião, mas eu não consigo vestir terninhos ou saia e blaser clássicos. Eu nem tenho esse tipo de roupa no meu armário. Vou de calça de veludo cotelê de cintura baixa e boca de sino, camiseta branca adornada por um colar da Frida, blaser de veludo preto e minhas velhíssimas botas Doc Martens. Com certeza não é um visual corporativo, mas pra UCDavis está ótimo. Sou entrevistada e interrogada pelos caras, que olham tudo o que eu já fiz de mais moderno e ouço a proposta. O suor seca, volto pra casa com as batidas do coração normalizadas, noto que estou morrendo de fome. Pudera, são três da tarde e eu só bebi uma xícara de café com leite às oito da manhã.

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Saio diretamente do chuveiro, atrasadíssima, para o show mais esperado da temporada no Mondavi Center. Me arrumo nervosamente, pois sei que se chegar no teatro depois das seis e meia, não consigo um parking permit. Está chovendo. Eu faço a maquiagem discreta, passo um perfuminho discreto, blusa branca impecável, calça preta pantalona, prendo o cabelo, solto o cabelo, prendo o cabelo, solto o cabelo, ponho um brinco, tiro o brinco, ponho outro brinco, tiro o outro brinco, começo a suar, noto que o aquecimento da casa está ligado e o quarto está num bafão quente. Coloco os sapatos, olho o relógio – pânico! Chego no teatro em cima da hora, não tem mais coletes para mulheres tamanho large, pego um médio e me sinto vestida num espartilho. Vejo que vou trabalhar no Grand Tier Left, ouço a manager dar as instruções, enquanto procuro frenéticamente por um colete maior. A gravata está torta, meu cabelo está uma maria betânia só, fico louca da vida, penso – se o Moa sabe que eu vim trabalhar no Mondavi de cabelo solto e descabelada, ele me esbofeteia! Subo até o Grand Tier, desço novamente pra sala dos voluntários, pego um colete de homem tamanho small, que me serve perfeitamente e não deixa a blusa aparecendo no vão da calça. Subo, esqueço de pegar a lanterninha, desço, não sei onde está o prendedor de cabelo, eu não posso trabalhar assim como uma louca, o show está SOLD OUT, vamos ter que ficar em pé o tempo todo, espero que valha a pena. Acho o prendedor, prendo o cabelo, bebo água, vou ouvir finalmente as instruções do show. O teatro está quente ou sou só eu sentindo um calorão aqui?
O show foi maravilhoso! Toda temporada eu tenho aquele show especial que eu quero muito ver e The Blind Boys of Alabama era o show especial do outono. E não fiquei decepcionada. Mesmo tendo que assistir aos setenta minutos de cantoria de pé, valeu cada minuto de desconforto. Os rapazes, de mais de setenta anos, arrasam! Eles cantam Gospel e conseguiram transformar canções chatérrimas de Natal em números maravilhosos. Três dos Blind Boys cantavam – George Scott, Jimmy Carter e Clarence Fountain. O baterista também era cego. O resto da banda, dava o apoio. No final do show, Jimmy Carter – com aquela voz que nem dá pra explicar como ele faz – desceu do palco carrregado por um ajudante e guiado por um dos musicos e fez a platéia se levantar. Andou pelos corredores, cantando e dançando. No palco, George Scott e Clarence Fountain também davam os seus passinhos. Foi o melhor show da temporada e compensou pelo dia de atrasos, suores e descabelamentos.

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obladi oblada

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Porque o dia vai ser cheio, o post vai ser Seinfeld style, sobre nada. Porque não pára de chover e o dia está escuro. Porque estou trabalhando em vários projetos e um deles – segredo – é muito especial. Porque fico triste que meus gatos não são amigos. Porque decidi comer uma maçã por dia, mesmo não curtindo muito essa fruta. Porque não mexi a bunda ainda para nada relativo ao Natal. Porque estou animada para ver o mar no inverno. Porque estou aceitando mais desafios. Porque admiro pessoas que tem classe. Porque desprezo gente babaca. Porque meu travesseiro cheira a sachê de açaí. Porque eu simplesmente amo filmes antigos. Porque tento cozinhar peixe uma vez por semana. Porque me falaram mais uma vez que eu pareço com a Nigella Lawson. Porque vou precisar pegar na vassoura em breve. Porque estou sempre ouvindo Blues tradicional. Porque eu não ligo pra modismos. Porque estamos sempre rindo. Porque eu sou desorganizada pacas. Porque ele também é. Porque a água me anima e me conforta. Porque quero assar um bolo. Porque os legumes e verduras deixam a geladeira colorida. Porque tudo aqui cheira a lavanda. Porque tenho muitas pilhas de revista. Porque estou sempre click-click-click. Porque gosto de inovar. Porque também gosto de tradição. Porque nunca vamos ser iguais. Porque eu não consigo parar de tricotar. Porque eu não gosto de falar com qualquer um no telefone. Porque eu gosto de papear com a minha irmã no telefone. Porque eu sou Esther Williams. Porque eu sonho muito, demais. Porque eu tenho amigos que eu adoro. Porque bebemos muita limonada. Porque não consigo parar de escrever, mesmo que eu só escreva sobre o nada.

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culpado ou inocente?

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Eu fui selecionada para ser jurada pela Superior Court do estado da Califórnia. Teria que me apresentar no forum de Woodland no dia vinte e um deste mês. Felizmente eu qualifico para ser dispensada dessa chatice, por não ser cidadã americana. Ufaa! Já pensou ter que encarar uma cadeira no júri? Se fosse para julgamentos de crimes variados, ainda daria, mas se fosse para crime de morte, eu iria precisar de tratamento psicológico depois. Li na cartinha que eles me enviaram que a seleção dos jurados é feita randomicamente, através das listas de registro de votantes e dos registrados no DMV [departament of motor and vehicles] onde quase todo mundo está, pois é onde fazemos identidades e carteiras de motorista. Quer dizer, qualquer um pode ser selecionado. E eu fui uma das sortudas… Mas felizmente achei uma portinha pra cascar fora rapidinho!

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sou xereta sim!

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… o que é isso? o que você está fazendo? posso ver? posso ver?

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Dylan speaks

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A Jean me deu a dica e eu então liguei a tevê no domingo à noite, canal CBS, programa 60 Minutes [que deve ser onde o Fantástico se inspira… ô, programa horrível!] para ver Bob Dylan dando uma entrevista. Até gravei para poder rever. A impressão que eu fiquei foi que obrigaram o Dylan a conversar com o jornalista Ed Bradley. Ele está com uma cara de saco super cheio o tempo todo, com uma pequena exceção no final da entrevista, quando Dylan dá um sorrisinho durante o diálogo:
“So why you still out there?”
“It goes back to that destiny thing. I mean, I made a bargain with it, you know, long time ago. And I’m holding up my end … to get where I am now.”
“And with whom did you make the bargain?”
“With the chief commander. In this earth and in the world we can’t see.”
A entrevista basicamente gira em torno do conteúdo da autobiografia Chronicles Volume One – como Dylan se recusa a ser considerado um profeta e a voz de uma geração, seus problemas com a fama e a mídia, como ele compôs suas obras-primas [que ele afirma não saber como – foi uma coisa mágica] e como, que apesar de tudo, ele ainda está na moda, com Like a Rolling Stone sendo considerada a “melhor música de todos os tempos” pela revista Rolling Stone. Dylan não se entusiasma com nada, sua atitude é sempre blasé e, eu acho, um pouco amarga e cética. Depois que vi a entrevista, pensei que talvez minha fascinação por esse artista tenha muito a ver com o fato dele não ser um lambe-botas, um deslumbrado, uma celebridade clássica. Gosto dele também porque ele não se acha… E isso é uma qualidade e tanto num cara tão famoso, um verdadeiro ícon, como ele na verdade se tornou.

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he loves you, yeah…

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De vez em quando eu cruzo com um cara na piscina. Ele sempre me cumprimenta sorridente e eu tento ser rápida, para não ter que me atrelar em nenhuma conversinha. O caso é que eu fui professora de um dos filhos dele e esse menino foi o maior problema que eu tive na minha breve, porém intensa, carreira de preschool teacher. Esse menino me deixava literalmente louca, de tanto que ele aprontava. Ele fazia coisas que pareciam planejadas para atrair a minha atenção e levá-lo a castigos. E a situação foi piorando gradativamente. Os castigos tornaram-se mais freqüentes e consequentemente ele fazia mais e mais coisas erradas, desobedecia as regras básicas da classe e desafiava a minha paciência. Ele fazia algo errado já checando com a cabeça virada, sorriso demoníaco na cara, pra ter certeza que eu o estava vendo no ato. Quando eu me virava e caminhava em direção a ele para disciplinar, ele já me esperava me olhando de frente, com a cara mais prazeirosa do mundo. Eu comecei a pensar que aquele menino tinha um problema psicológico, era um masoquista, gostava de ser punido. Eu fazia todos os procedimentos de “time out” permitidos pelas leis do estado da Califórnia e adotados pelo método Montessori, praticado na escola. E ele sempre acabava sentado na sala da diretora, pois eu exauria os castigos e ele continuava sorrindo e me enfrentando.
Um dia, depois de conversar com outras professoras mais experientes e com a diretora, decidi chamar o pai para uma conversa. Eu iria pedir uma colaboração dele, para trabalharmos em conjunto – escola e família – e tentar melhorar a situação, já que eu perdia um tempo enorme dando atenção negativa para ele e perdia de fazer coisas para e com a classe. Quando eu expliquei o caso para o pai, contando todos os detalhes do meu calvário diário com o filho dele, o cara sorriu e disse:
– vamos colaborar sim, com certeza, mas acho que já sei porque ele faz isso com você. ele TE AMA, Fernanda… ele é apaixonado por você! nós estamos cansados de ouvir o seu nome o tempo todo. é Fernanda isso, Fernanda aquilo, Fernanda aquele outro, tudo é Fernanda! ele quer que a gente coloque o nome da baby que vai nascer [a mãe estava grávida] de Fernanda. ele insiste que a baby seja chamada de Fernanda. e estávamos fazendo a lista de convidados para o aniversário dele no mês que vem e o primeiro nome da lista é o seu! ele quis convidar dois amigos e você, ninguém mais!
Fiquei CHOCADA com essa revelação. O menino queria a minha atenção exclusiva e descobriu que a melhor maneira de recebê-la, numa classe com outras onze crianças, era fazendo coisas erradas e desobedecendo. Melhor do que nada, né? Eu me ajoelhava pra conversar com ele, falava o nome dele toda hora [em tom de reprimenda, mas e daí?], pegava na mão dele para levá-lo para os “time outs” fora da classe, voltava toda hora para checar como ele estava se comportanto, conversar com ele sobre a situação. Era o paraíso!
Depois dessa conversa com o pai, as coisas melhoraram, pois eu entendi a dinâmica do comportamento do menino e os pais fizeram a parte deles em casa. Quanto à festa de aniversário, eu recebi o convite, agradeci, mandei um presente, mas não fui. Aí já iria ser um pouquinho demais, né?

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can my choice be free?

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Se puder escolher, acredito que a maioria opta pelo mais fácil. Sei que tem gente que adora um desafio, mas em certas coisas é melhor ficar com o que se domina. No meu caso, fico sempre com o nado livre. Quatro vezes cem, cinquenta no estilo da sua escolha, cinquenta no estilo livre.
– can my choice be free?
Se pode, eu vou em frente e faço quinhentos mil yards de nado livre, quando eu deslizo, sem erros, sem esforço, sem precisar pensar, sem me afogar, quando posso pensar na vida, meditar, ver as folhinhas no fundo da piscina, sentir a água abraçando o meu corpo, esqueço até de contar as piscinas, mas quem se importa, a minha escolha foi livre!

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my fake fur coat

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Comprei um casacão de pele falsa numa loja de segunda mão. Foi um achado! E uma barganha! Ele é lindo, preto, longo, forrado de cetim, vou arrasar Paris em chamas quando puder usá-lo, numa ocasião especial ou em qualquer ocasião. O único problema nele eram os botões – dourados. Eu não vou com a cara de nada dourado, não tenho nada dourado, não uso nada dourado. Comprei o casaco já com a idéia de trocar os botões. Fui comprar botões pretos e não achei nada que eu gostasse. Procurei, procurei, procurei, até que achei botões interesantíssimos, forrados de veludo preto, exatamente do tamanho dos botões dourados e que iriam ficar lindos no casaco. Olhei o preço, fiz as contas, precisava de oito botões, quatro para as casas, quatro enfeitando do lado oposto. Pensei, pensei, pensei e finalmente comprei os botões, que ficaram quase o preço do casaco. Agora já não acho que fiz bom negócio, pois pagar o preço de um casaco por oito botões não pode mais ser considerado bargain shopping.

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o passado não condena