feijão com arroz

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Duas semanas sem lavar um prato ou um copo, sem ter que pensar no que fazer de comida, sem dirigir, sem varrer o chão, sem lavar roupa, sem viagens quase diárias ao supermercado, sem uma rotina específica.
Duas semanas tomando guaraná, comendo comidinha caseira, pedindo pizza de carne seca na Monte Bello, comendo pão de queijo recheado, pastel, esfirra, kibe, mousse de maracujá, pão com queijo e presunto, banana macã, fatias de mamão, vatapá, olho de sogra, goiabada cascão com queijo branco.
Duas semanas revendo e conhecendo pessoas queridas, conversando na boa pelo telefone, matando saudades, falando muito, ouvindo outro tanto, rindo muito com as peripécias dos meus sobrinhos, beijando, abracando.
Duas semanas passeando no shopping, fazendo compras com Real, ouvindo música, vendo coisas diferentes na tevê, lendo a Folha de São Paulo, redescobrindo livros, folheando revistas, comprando presentinhos pros meus queridos em Davis, descobrindo mil coisinhas bacanas e novas.
Tenho apenas mais uma semaninha dessa não-rotina . Deixa eu aproveitar!

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caindo na real

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Eu queria desmarcar tudo e não ir, pois São Paulo é uma cidade que me amedronta e me oprime. Coisas de habitante da Terra do Nunca, que tem dificuldades para enfrentar a dura e crua realidade da vida cosmopolita.
Enquanto esperava a carona do meu irmão às 7 horas da manhã, pensava “bem que ele poderia me esquecer e ir pra Sampa sozinho..” . Mas meu irmão veio e me levou pra grande cidade, onde pude fazer a transicão de duas amizades do mundo virtual para o mundo real.
Meus guias e companheiros nessa meu dia em Sampa foram a Garota Urbana e o Guto. Com ela eu fui ao Centro e à Liberdade e com ele fui à Vila Madalena e à Paulista. Choveu até granizo, mas nada atrapalhou o nosso passeio!
Os blogs da Garota Urbana e do Guto são sem dúvida parte da elite da blogsfera, mas pessoalmente eles superam os seus blogs de longe. Eles são muito mais do que mostram virtualmente. São super-bacanas, duas simpatias, dois fofos! Adorei conhecê-los e na companhia deles consegui até desestressar da cidade e aproveitar muito mais.
Pra mim, essa passagem do virtual para o real é um acontecimento, já que não é sempre que eu tenho a oportunidade de encontrar blogueiros brasileiros, mesmo os que vivem nos EUA. É muito bom esse encontro, que fecha o ciclo de conversas de blog, conversas particulares, troca de correspondência [no papel, com selo!] e conversas telefônicas.
Ainda bem que eu aviso que eu sou descabelada, matraca e atrapalhada. Não fiz propaganda enganosa e espero não ter decepcionado os meus amigos com a minha persona fezoca! Obrigada, guris! Pisc!

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ui espique ingrish

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Camelei pelos shoppings de Campinas com a minha irmã procurando por camisetas transadas para levar para o Gabriel e para a Marianne. Eu queria camisetas de malha com desenhos interessantes e decoradas com frases em português. Achei? Claro que não! Nas lojas chiques dos Shoppings Iguatemi e Dom Pedro só se fala inglês, darling….

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Bob Needy

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O cachorro da minha irmã é uma coisinha chetérrima. Não me entendam mal, eu sou gatófila mas curto cachorros [né, Kika?] e não faco discriminacão – ao menos eu tento! Mas com o Bob não dá… Ele é pequeno e preto e, segundo a minha irmã, de uma tal raca americana com uma mini-cara de bulldog e uma atitude extremamente carente. Quando minha irmã e meu cunhado estavam escolhendo um cachorro para o Fausto, foram avisados que essa raca do Bob é a mais carente que existe. Sabe aqueles cachorrinhos que não latem, mas que ficam pulando em cima de você constantantemente e fazendo uma cara de coitados, que invés de dar pena, dá raiva? Eu queria fazer um carinho, chamar o nome dele, mas se eu fizer isso vou ser massacrada, vou ter minhas pernas arranhadas, vou levar uma mijada nos pés por causa do excitamento do Bob Needy. Então eu o estou ignorando…. Poor Bob!
Aliás, a frase que mais se ouve – aos berros – quando ele está por perto é:
– Pára, Bobeeeeee!
Que saudades do meu gato……….!!!!

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destaques destes dias

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A Catarina fazendo ‘não, não, não’ com o pequeno dedinho indicador em riste;
O Fausto rindo das minhas palhacadas de tia Fezoca;
A Lívia de vestido chinês vermelho;
A Lezoca rodeada dos filhos;
A Áurea passando protetor de lábios:
– nossa, que linda!
– ah, mas não tem cor….
A Agnes me mostrando um lindo desenho:
– fiz isso sentada numa pedra
O Ariel dando um depoimento para a câmera:
– o que você acha de dividir o dia do seu aniversário com a sua irmã?
– ah, eu não gosto muito, né? queria que o dia fosse só meu…
A Bebel dancando no saguão vazio do shopping Galeria;
A risada do Jansen;
A Ester me abracando e dizendo que vai me visitar pra poder ver neve:
– dá pra fazer boneco de neve?
– claro que dá!
O sorriso da Cecília;
O entusiasmo da Gra com a educacão dos filhos;
A Isabela devorando avidamente uma rodela de tomate;
A Ju me dando uma forcinha pra desatar um último ‘nózinho’;
As piadas do Carlão;
Os ‘bom dia!’, ‘boa noite!’, beijos e cuidados dos meus pais.

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era a minha cidade

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Caía uma chuvarada à noite e meu pai chamou um rádio-taxi para me levar até a casa da minha sogra. Os carros estavam presos na garagem, que está ganhando um portão eletrônico. Não consigo nem me lembrar da última vez que andei de taxi.
– eu vou na rua Júlio de Mesquita seiscentos e trinta e seis.
– antes ou depois do Centro de Convivência?
– acho que depois, na frente do hospital Irmãos Penteado
– mais pro lado do City Bar?
– acho que sim.
Tentei dar uma de entendida das ruas e locais, pra não dar bandeira do meu total esquecimento sobre Campinas. E não quis dizer que não era da cidade. A conversa foi ficando mais intricada.
– como chove hein? nessa época não é normal chover tanto…
– está tudo de cabeca para baixo, se eu pudesse eu me mandava de Campinas, iria morar no interior de Minas. Campinas está me dando nojo…
– é, está tudo bem diferente mesmo.
– Campinas não é mais dos campineiros… o centro está um nojo, cheio de camelôs.
– é, está mesmo, que coisa né?
– eu não mudo porque meus filhos de 19 e 22 anos não iriam comigo e a mulher, você sabe, sem os filhos não vai…
– é, na década de oitenta eu fazia compras na General Osório e Coronel Quirino, nas boutiques bacanas… e hoje, que decadência hein?
– nem fale! Essa cidade está mesmo um nojo!
O que me salvou de não dar uma bandeirosa de que não moro mais em Campinas, muito menos no Brasil, foi a tour eu tinha feito com a minha mãe pelo centrão de Campinas naquela tarde. Fomos ao Mercadão e depois caminhamos por parte do centro, antes tão bacana e estiloso, e por ruas onde eu costumava caminhar animadamente aos sábados, olhando vitrines, fazendo planos de comprar isso ou aquilo. Vi o finado Cine Windsor, o Largo do Rosário, onde meu avô teve uma charutaria na década de vinte, os Giovanettis I e II, que eu frequentava com meus amigos e com os amigos do Uriel. Vi até o restaurante natural onde eu almocava com o Gabriel, que virou um bingo [aliás, que surpresa: os bingos são iguaizinhos aos cassinos, vistos de fora!]. Também vi muitas lojas e galerias tristemente decadentes, embora alguns lugares continuem iguais, como o Papai Salim, onde eu e minha mãe – caras-de-pau – fizemos uma encomenda pra delivery de duas esfirras e dois quibes!
Campinas mudou e eu, que saí daqui em 1987, não tenho mais aquela intimidade com a cidade. Embora até que me saia bem fingindo que sei de tudo, pra poder manter a conversinha com o motorista do taxi.

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Para Paulo e Iri

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Uma coisa chata de mudar de mala e cuia para outro país é ter que deixar parte das suas coisas em casa de pais, irmãos. Não dá pra carregar sua vida com você e muita coisa acaba ficando para trás. Aconteceu comigo e agora estou vendo isso acontecer com o meu irmão. Ontem, procurando uns livros de culinária num quartinho dos fundos da casa dos meus pais, achei um pacote de cartas que meu irmão e minha cunhada guardavam.
É uma situacão estranha, pois é como ter um pedaco da sua vida ali jogado, disponível, para quem por acaso tiver acesso ver. Eu não li todas as cartas do pacote, porque se fossem as minhas, eu não gostaria que os outros lessem. Vi que tinha cartas do Paulo pra Iri [quando ele morou em Londres pela primeira vez em 87], e das irmãs da Iri, de amigos e MUITAS cartas minhas.
Sentei e reli as minhas cartas para eles. Eram cartas escritas à mão, com canetas coloridas, em papéis coloridos, com adesivos decorando o envelope e a carta e com os meus assuntinhos do meu primeiro ano no Canadá e meu senso de humor peculiar. Relendo essas minhas cartas para o Paulo e Iri, datadas de 1992 e 1993, eu pude ver o quanto eu mudei! Como eu estou diferente, como minha vida está diferente e, mais importante, como eu me adaptei à minha condicão de estrangeira. Nessas cartas eu reclamava PACAS! Devia estar vivenciando o tal choque cultural e ainda era imatura [vide os adesivinhos – how embarrassing!] para entender que nem tudo é um preto no branco e que existem muitas nuances.
As cartas falam muito do evento que foi o nascimento da minha sobrinha Júlia, que hoje tem 11 anos. Como eu sofri não estar presente naquele momento… Era a segunda crianca da família, depois do Gabriel, que reinou sozinho por dez anos. Depois da Júlia veio a Paula, a Lívia, o Fausto e a Catarina e não rolou mais nenhum estresse! Mesmo para uma ‘late bloomer’ como eu, a maturidade um dia chega!

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“Saska, 20/04/93
Queridões Paulo e Iri!!
[…] Paulo, fiquei feliz em saber que você já está no Banco do Brasil. Ainda bem que você se livrou daquele “Ponto, que fria!”… O horário que você vai fazer [segundo a mamãe, das 8 às 14hs] vai ser ótimo até pra você voltar a estudar, se quiser. Nego, você merece um emprego bom e tranqüilidade. E agora você vai poder freqüentar novamente aquela “fina” AABB! Mas não vai ficar insuportável como aquele pessoal, hein?… Senão vou te dar uma bolacha na cara, pra você voltar ao normal!!
Iri, o que eu não daria pra estar aí com vocês, vivendo esse momento tão especial. O que eu estou perdendo, nunca mais vou recupear. Não ver a Júlia pequenininha, crescendo aos poucos, me dá a sensacão que vai ficar faltando uma parte da história da minha vida…. Mas, vendo por outro lado, vai ser bom pra você, pois vou ser menos uma pentelha pra ficar palpitando a sua orelha!!
Bom, enquanto vocês estão curtindo essa fase de dorzinha de barriga e limpar cocozinho o dia [e a noite] todo, eu estou naquela fase de ficar sem energia de tanto reclamar e mandar neguinho fazer isso e aquilo [* o Gabriel estava com quase 11 anos]. E estou [já] enfrentando aquele olhar de desprezo que todo adolescente dá para os pais, quando esses ficam falando intermináveis discursos… Esse mundo tá perdido! […]
Negos, me escrevam, me liguem, peloamordedeus! Mande fotos! SAUDADES IMENSAS!!! Beijos para vocês e mil, especiais, para a mais linda de TODAS!
Tia Fer”

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releituras

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14 DE DEZEMBRO DE 1979
17 HORAS
SOL EM CONJUNCÃO COM NETUNO
E EM OPOSICÃO A VÊNUS
Subi numa pedra e gritei:
– Aí Gregor, vou descobrir o tesouro que você escondeu aqui embaixo, seu milionário disfarcado.
Pulei com a pose do Tio Patinhas, bati a cabeca no chão e foi aí que ouvi a melodia: biiiiiiin.

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Ainda estou com dificuldade para dormir à noite, pois meu corpo pensa que ainda não é hora de ir pra cama. Pro soninho chegar, uso a alternativa pra minha televisão no quarto: a leitura. Nas estantes da casa dos meus pais têm – sempre teve – muito livro. Alguns deles são meus, resquícitos das minhas muitas mudancas que ficaram para trás. Ontem peguei um especial – Feliz Ano Velho, do Marcelo Rubens Paiva. Esse livro é especial por muitas razões. A mais importante é que ele fazia Engenharia Agrícola na Unicamp quando se jogou no lago e se estrepou. Ele estava na turma um ano na frente da do Uriel. Então lemos o livro em 1982, porque pessoas que o Uriel conhecia estavam citadas nele. E também porque aquela história de estudantes em Campinas no final da década de 70 era a NOSSA história. Felizmente não tivemos nenhum acidente. Engravidamos e casamos, enquanto o Marcelo vivia sua tragédia no hospital. Participamos de muitas festas e churrascos loucos, onde acidentes estavam destinados a acontecer. A Engenharia Agrícola da Unicamp era famosa pelas suas festas e ambiente descontraído. Uma excecão no mundo dos engenheiros!
Lendo o livro, fui fazendo uma viagem no tempo. Estou nostálgica já há uns dois anos. Ontem falei com uma amiga que conheci aos 12 anos. Ela tem uma filha chamada Fernanda por minha causa. Tudo isso causa uma porrada de sentimentos confusos, pois eu já me acostumei a ser uma imigrante sem passado! E lendo Feliz Ano Velho lembrei das repúblicas, como elas podiam ser diferentes, quantas delas eu frequentei e também morei [experiência obrigatória naquela época!]. A história do Marcelo todo mundo sabe, pois o livro virou best-seller, peca de teatro e filme. Eu dei risada quando ele escreveu que ouvia discos na vitrola! Como tivemos mudancas drásticas nestes últimos vinte anos! E reparei que o livro está todo sublinhado, bem de levinho, com lápis. Reparei que as partes sublinhadas eram as que ele citava nomes. Hoje, depois de vinte e dois anos, não consigo nem imaginar o que me fez fazer isso…. Quem sabe até eu terminar de ler, eu me recorde!

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tietagem

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E vocês pensavam que era só a Marina que via celebridades nas lojas e restaurantes? Pois no meu segundo dia no Brasil já vi uma! Estávamos almocando no restaurante de um hotel spa trés-chic em Campinas e vimos a Cristiane de Oliveira – que comia sozinha numa mesa num cantinho. Claro que quando ela foi pegar macarrão, rolou uma tietagem básica, com umas fulanas pedindo pra tirar fotos com ela. Minha mãe já ficou toda empolgada e falou ‘vamos lá?’, mas eu recusei…. Eu lembro dessa atriz na última novela que vi antes de sair do Brasil, que foi Pantanal! Minha mãe disse que também viu uma tal de Rosamaria Murtinho, mas essa eu perdi. Não sabia que Campinas estava tão badalada assim… hoho!

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o passado não condena