the sweetest thing

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Eu estava irritada, porque ele chegou de San Francisco na quinta à noite e não veio pra casa. Ficou no seu laboratório de cem mil dólares, fazendo alguma coisa super importante. Então ontem eu deixei a salada temperada murchando, o macarrão soba e o tofu frito esfriando na mesa para ir buscá-lo. Se não for assim, ele não vem, porque está atolado de coisa pra fazer. Isso me provoca um ataque de mau humor. Viro uma ranzinza, respondendo atravessado, elevando a voz, sendo grosseira, the whole nine yards.
Depois que eu falo tudo e mais um pouco – “não é minha culpa que você está cheio de projetos!”, me calo. Daí ele me abraça, faz uma cara engraçada, tenta dar uma de psicanalista – “me diz o que você está sentindo.”, propõe irmos ao cinema juntos no domingo à tarde, faz uns elogios, dá uns beijinhos. Ele é um doce. E eu devo ter mesmo um amor transbordante por ele, pra aturar essa dedicação profissional exagerada.

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eu canto

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Brothers on the block knowing
(from this point on it only gets rougher!)
Sisters at the crib knowing
(from this point on it only gets rougher!)
Preachers at the church knowing, we still get by
(from this point on it only gets rougher!)
Teachers at the school knowing
(from this point on it only gets rougher!)
Ladies on the block knowing
(from this point on it only gets rougher!)
Junkies on the corner knowing, but still get high
(from this point on it only gets rougher!)

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blue

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denim

denim

denim

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Joe Goode Performance Group

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“nós não queremos mostrar apenas nosso virtuosismo como bailarinos nas nossas apresentações. mais do que isso, queremos passar um sentimento de intimidade e travar um diálogo com o público.”
joe goode

O grupo de dança do coreógrafo, roteirista e diretor Joe Goode foi uma deliciosa surpresa na apresentação de ontem no Mondavi Center. Em dois atos de quarenta e cinco minutos cada, os bailarinos e Goode fizeram muito mais do que dançar. Eles contaram várias histórias, filosofaram, cantaram, declamaram, fizeram rir e interagiram com a platéia.
Adorei as duas peças apresentadas: a primeira, What the Body Knows faz pequenos sketches de situações da vida, um relacionamento gay, uma pessoa que é sempre simpática e empática com os outros, reflexões sobre gente horrorosa. No segundo, Folk, uma pequena história que se desenrola num café numa pequena cidadezinha no deserto, o cozinheiro que ama a garçonete, o artista de Los Angeles em crise existencial, o cara esquisito que faz pinturas de rostos dos mortos, a reclusa, a garçonete filósofa.
O melhor do grupo é o senso de humor. E todos cantam e interpretam. A dança é praticamente uma coadjuvante na apresentação, que dá prioridade para esses pequenos dramas de pessoas comuns. Como qualquer um de nós.
O Joe Goode Performance Group é um verdadeiro refresco, trazendo o ar gelado, criativo, não conformista e transformador de San Francisco, para a nossa pequena cidade, ávida por mudanças e coisas novas.

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muthaf******

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O cd Speakerboxxx/The Love Below do Outkast estava na minha lista de quereres desde dezembro. Primeiro eu não achava o dito em lugar nenhum pra comprar, depois vi na Borders por $21 ou algo assim. Eu não compro nada que custe mais de vinte mangos, mind you. Estou me tornando uma mão-de-vaca dos infernos. Um cd por $21, mesmo duplo, nunca!
Ontem comprando uma coleira nova pro gato e sabão líquido de lavar roupa no Wal-Mart, vi por acaso Speakerboxxx/The Love Below por $13. Coloquei no carrinho com um sorriso vitorioso nos lábios, paguei, rasguei o papel transparente, arranquei os adesivos lacrantes e já vim ouvindo André e Big Boi na volta pra casa.
Me rebolando no banco do carro comecei a achar que tinha algo errado com as músicas… Foi quando vi o selo no papel celofane da embalagem: EDITED VERSION.
QUE????????? Versão editada? Como assim??? Limparam os “fucks, asses, pussies, motherfuckers, butts, holes, shits” e eteceterás do cd??? Isso mesmo! Nas músicas tem um silencio quase imperceptível nos palavrões e no booklet está tudo com estrelinhas.
Fiquei emocionalmente abalada! Ouvir uma versão editada de qualquer manifestação artística já é o fim da picada, mas o pior é pensar que o Outkast permitiu essa tesouração toda, nessa versão do cd pra ouvidos sensíveis e falsos moralistas.

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livros

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Meu marido é um acadêmico e está sempre carregando uma penca de livros. Agora ele tem até uma sacolinha azul, onde carrega a livraiada pra lá e pra cá. Mas os livros dele não são o meu tipo de livro. Não são romances, biografias, crônicas, histórias de ficção. São livros técnicos, específicos. Pra falar a verdade, eu nunca vi ele lendo um livro ‘normal’. Suas leituras são sempre relacionadas ao seu trabalho.
Sábado à noite ele disse que precisava ‘ler uns negócios’ e eu então sugeri que ele lesse na cama pra me fazer companhia enquanto eu via tevê. Ele concordou alegremente e me deu até um sopro de esperança que iríamos finalmente viver alguma cena parecida com aquelas dos filmes do Woody Allen, onde o casal está lendo livros, jornais e conversando na cama.
Ele se ajeitou debaixo do ededron todo alegrão e nós nos aconchegamos. Feliz pela companhia, pela situação inusitada, olhei pra ele recostado no travesseiro, com seu par de óculos de engenheiro, segurando o livro aberto e foi então que eu vi o que ele estava lendo:

math1.gif math2.gif

Um livro cheio de fórmulas matemáticas de engenharia mecânica!!!!!!
Acho que o Woody Allen nunca fez um filme com um personagem engenheiro deitado na cama lendo um livro de engenharia. Se tivesse feito, teria sido exatamente como a cena que vivemos no sábado à noite. Eu rindo muito, quase incrédula, porque pra mim livro TEM que ter palavras e não números!!

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a mão do relógio

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São detalhes quase imperceptíveis que indicam que algo não está certo. Como o abotoamento de uma camisa ou a mão em que se usa o relógio.
No meu caso, eu uso o relógio abotoado no pulso direito. Não há nada de errado nisso, a não ser pelo pequeno detalhe de que eu sou destra.
Não sei que lei ou senso comum é esse que dita que destros devem usar o relógio na mão esquerda e canhotos na mão direta, mas eu resolvi que comigo isso não iria funcionar muito bem. E mudei. O motivo foi extremamente fútil: quando eu casei, achei que simplesmente não combinava usar um relógio na mão onde estava a aliança dourada. Mudei a mão do relógio por razões estéticas [ou maníacas obsessivas, como queiram] há vinte e dois anos e nunca mais desmudei. Tirei a aliança do dedo seu-vizinho da mão esquerda quando o Uriel perdeu a dele sete anos atrás. Contínuei com o relógio na mão errada, agora não mais por razões estéticas [ou maníacas], mas por puro hábito.
Pessoas que costumam notar esse tipo de detalhe ficam confusas vendo o relógio na mão que escreve. Não dá pra ficar explicando que isso acontece por causa da aliança dourada que não combinava com o relógio que eu tinha na época que casei. Melhor dar um sorriso sonso e dizer, não sei do que você está falando, eu sempre usei o relógio nesta mão.

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o passado não condena