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“nós não queremos mostrar apenas nosso virtuosismo como bailarinos nas nossas apresentações. mais do que isso, queremos passar um sentimento de intimidade e travar um diálogo com o público.”
joe goode
O grupo de dança do coreógrafo, roteirista e diretor Joe Goode foi uma deliciosa surpresa na apresentação de ontem no Mondavi Center. Em dois atos de quarenta e cinco minutos cada, os bailarinos e Goode fizeram muito mais do que dançar. Eles contaram várias histórias, filosofaram, cantaram, declamaram, fizeram rir e interagiram com a platéia.
Adorei as duas peças apresentadas: a primeira, What the Body Knows faz pequenos sketches de situações da vida, um relacionamento gay, uma pessoa que é sempre simpática e empática com os outros, reflexões sobre gente horrorosa. No segundo, Folk, uma pequena história que se desenrola num café numa pequena cidadezinha no deserto, o cozinheiro que ama a garçonete, o artista de Los Angeles em crise existencial, o cara esquisito que faz pinturas de rostos dos mortos, a reclusa, a garçonete filósofa.
O melhor do grupo é o senso de humor. E todos cantam e interpretam. A dança é praticamente uma coadjuvante na apresentação, que dá prioridade para esses pequenos dramas de pessoas comuns. Como qualquer um de nós.
O Joe Goode Performance Group é um verdadeiro refresco, trazendo o ar gelado, criativo, não conformista e transformador de San Francisco, para a nossa pequena cidade, ávida por mudanças e coisas novas.
O cd Speakerboxxx/The Love Below do Outkast estava na minha lista de quereres desde dezembro. Primeiro eu não achava o dito em lugar nenhum pra comprar, depois vi na Borders por $21 ou algo assim. Eu não compro nada que custe mais de vinte mangos, mind you. Estou me tornando uma mão-de-vaca dos infernos. Um cd por $21, mesmo duplo, nunca!
Ontem comprando uma coleira nova pro gato e sabão líquido de lavar roupa no Wal-Mart, vi por acaso Speakerboxxx/The Love Below por $13. Coloquei no carrinho com um sorriso vitorioso nos lábios, paguei, rasguei o papel transparente, arranquei os adesivos lacrantes e já vim ouvindo André e Big Boi na volta pra casa.
Me rebolando no banco do carro comecei a achar que tinha algo errado com as músicas… Foi quando vi o selo no papel celofane da embalagem: EDITED VERSION.
QUE????????? Versão editada? Como assim??? Limparam os “fucks, asses, pussies, motherfuckers, butts, holes, shits” e eteceterás do cd??? Isso mesmo! Nas músicas tem um silencio quase imperceptível nos palavrões e no booklet está tudo com estrelinhas.
Fiquei emocionalmente abalada! Ouvir uma versão editada de qualquer manifestação artística já é o fim da picada, mas o pior é pensar que o Outkast permitiu essa tesouração toda, nessa versão do cd pra ouvidos sensíveis e falsos moralistas.
Meu marido é um acadêmico e está sempre carregando uma penca de livros. Agora ele tem até uma sacolinha azul, onde carrega a livraiada pra lá e pra cá. Mas os livros dele não são o meu tipo de livro. Não são romances, biografias, crônicas, histórias de ficção. São livros técnicos, específicos. Pra falar a verdade, eu nunca vi ele lendo um livro ‘normal’. Suas leituras são sempre relacionadas ao seu trabalho.
Sábado à noite ele disse que precisava ‘ler uns negócios’ e eu então sugeri que ele lesse na cama pra me fazer companhia enquanto eu via tevê. Ele concordou alegremente e me deu até um sopro de esperança que iríamos finalmente viver alguma cena parecida com aquelas dos filmes do Woody Allen, onde o casal está lendo livros, jornais e conversando na cama.
Ele se ajeitou debaixo do ededron todo alegrão e nós nos aconchegamos. Feliz pela companhia, pela situação inusitada, olhei pra ele recostado no travesseiro, com seu par de óculos de engenheiro, segurando o livro aberto e foi então que eu vi o que ele estava lendo:
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Um livro cheio de fórmulas matemáticas de engenharia mecânica!!!!!!
Acho que o Woody Allen nunca fez um filme com um personagem engenheiro deitado na cama lendo um livro de engenharia. Se tivesse feito, teria sido exatamente como a cena que vivemos no sábado à noite. Eu rindo muito, quase incrédula, porque pra mim livro TEM que ter palavras e não números!!
São detalhes quase imperceptíveis que indicam que algo não está certo. Como o abotoamento de uma camisa ou a mão em que se usa o relógio.
No meu caso, eu uso o relógio abotoado no pulso direito. Não há nada de errado nisso, a não ser pelo pequeno detalhe de que eu sou destra.
Não sei que lei ou senso comum é esse que dita que destros devem usar o relógio na mão esquerda e canhotos na mão direta, mas eu resolvi que comigo isso não iria funcionar muito bem. E mudei. O motivo foi extremamente fútil: quando eu casei, achei que simplesmente não combinava usar um relógio na mão onde estava a aliança dourada. Mudei a mão do relógio por razões estéticas [ou maníacas obsessivas, como queiram] há vinte e dois anos e nunca mais desmudei. Tirei a aliança do dedo seu-vizinho da mão esquerda quando o Uriel perdeu a dele sete anos atrás. Contínuei com o relógio na mão errada, agora não mais por razões estéticas [ou maníacas], mas por puro hábito.
Pessoas que costumam notar esse tipo de detalhe ficam confusas vendo o relógio na mão que escreve. Não dá pra ficar explicando que isso acontece por causa da aliança dourada que não combinava com o relógio que eu tinha na época que casei. Melhor dar um sorriso sonso e dizer, não sei do que você está falando, eu sempre usei o relógio nesta mão.
Foi uma bola fora: não sei como eu acabei listada para trabalhar no show da irlandesa Mary Black. Eu acredito que deve ter sido um erro no sistema eletrônico que faz o sorteio dos voluntários no início de cada temporada, pois eu sempre checo cuidadosamente minhas opções e tenho certeza que não escolhi trabalhar na apresentação dessa cantora.
Procrastinadora que sou, enrolei por três meses num mal-me-quer-bem-me-quer indeciso, sem saber se procurava um substituto ou enfrentava o desconhecido. Não sou muito chegada em música céltica. O show dos Chieftains em janeiro já completou minha cota de folclore irlandês para o ano. Mas deixei chegar na beirinha, não mexi a bunda pra cascar fora da obrigação e acabei passando minha noite de sábado no Mondavi Center ouvindo a legenda irlandesa Mary Black cantar baladas tristes de amores perdidos e famílias emigradas e saudosas.
Vou te contar, minha perna pulava de irritação e ansiedade. Eu só queria ver o final daquele show. O teatro estava lotado, com muita gente fazendo pedidos de músicas, que eram acatados prontamente pela cantora. E ela ainda voltou duas vezes ao palco, fez dois encores! Eu já estava murmurando ‘jesus cristinho, chega, não??!!’. Mary Black tem uma voz linda e cantou acompanhada por uma banda muito talentosa. Mas isso não bastou para que eu apreciasse o show. Tem coisa que simplesmente não dá…. Não seduz, não toca o ponto certo, não rola nenhuma simpatia, não tem sintonia. E esse foi o caso do show de ontem….
O blog que não cria musgo é o ímpar e inigualável Cinefilia, onde tem sempre um comentário interessante, sobre filmes e assuntos interessantes.
Ando por aí e não leio quase nada de interessante. A impressão que eu tenho é que os assuntos se amalgamaram, fundiram-se e tornaram-se um só. Tenho até dificuldade para discernir quem é quem, pois tudo me parece similar. É como se víssemos um grupo extremamente homogêneo, pessoas impressionantemente parecidas, cantando em coro a mesma marchinha, brindando uns aos outros, numa absoluta ausência de carisma e identidade.
Eu mesma ando caindo nessa armadilha, escrevendo coisas banais e batendo na mesma tecla, quase me tornando parte de uma tribo com a qual nem me identifico. Mas eu tenho momentos de sanidade e então escrevo com imagens. Não quero cair na mesmice, embora períodos desinspirados sejam perfeitamente normais e compreensíveis. Afinal, não é fácil ser sempre criativa e interessante. Por isso, já vou me desculpando por qualquer bocejo que por ventura eu tenha causado à alguém…