em Portugal ♥︎

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Em março passei duas semanas passeando em Portugal, visitando minha irmã e meus sobrinhos. Ficamos uns dias em Lisboa, depois fomos para Coimbra e Granja do Ulmeiro, onde a família da minha irmã vive. Visitamos Figueira da Foz, Aveiro, uma salina, os sítios dos romanos. Tirei tanta foto que perdi a conta, muito difícil escolher “apenas” cinquenta pra por aqui [hahaha, como é bom o desperdício digital!]. Foi um passeio maravilhoso, revi minha irmã depois de um ano e depois da morte da minha mãe. Conversamos muito, revi e convivi um pouco com meus sobrinhos depois de muitos anos e vi muita coisa linda. Portugal é um país muito lindo e quero sempre voltar!

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janeiro ✴︎ fevereiro ✴︎ março

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Este ano estava ficando em branco por aqui, porque está sendo um ano diferente. Um ano atípico, com muitas reflexões provocada por um acúmulo de lutos. Tivemos muita chuva, muita neve, muito frio, saímos do estado de seca, mas perdemos muitas árvores com as tempestades. Nadei o inverno inteiro, fiquei cansada de sentir frio. Achei, ganhei e colhi muitos cítricos. Fiz geléia, casquinhas açúcaradas e limoncello.

Caminhava em direção à casa com um limoeiro carregado—de Meyer lemons, quando vi a senhorazinha removendo mato bem ali na frente. Criei coragem e me aproximei.

—você é a dona dessa árvore de limões?
—sim, sou. você quer pegar alguns?
—nossa, eu adoraria!

Ela então foi buscar uma sacola, batemos um papinho, eu colhi mais limões do que podia carregar e voltei caminhando pra casa, felicíssima, suada, envergada com o peso da sacola cheia das frutas!

A maior verdade sobre mim é que não sou mais a pessoa que eu era há dez anos. Reli muita coisa que escrevi no passado e eu era engraçada, mas era ingênua, bem boba e cansei de ser assim. Tive uma fase de limpeza geral da minha casa, entrei nessa fase porque quis me livrar de tudo o que não me satisfazia cem porcento. É assim que tem que ser.

O gato Tim fez 20 anos. Está cada dia pior, bem lelézinho da cuca, mas fisicamente até que está bem. Todos os dias penso em adotar um cachorro, mas também penso que ainda não é a hora certa. Aguardemos.

Hoje minha sobrinha Catarina fez 20 anos. Pensei que tinha a idade dela quando tive meu filho e hoje consigo perceber o absurdo que foi ter um filho com essa idade. Felizmente todos sobreviveram. Amanhã faz um ano que minha mãe morreu e estamos fazendo aquela retrospecto dos últimos dias dela. É tanta tristeza, mas sei que tudo isso vai passar.

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os meses passaram numa piscada

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Tanta coisa aconteceu nesses últimos meses, num resumo, acabou o longo verão, fiz aniversário, fomos pra Washington, voltamos, teve halloween, teve outono, thanksgiving e agora estamos numa onda de inverno, rumo ao natal e finalização desse ano tão complicado.

Meu pai fez 92 anos em outubro, minha mãe fez 90 em dezembro. Penso neles com o mais profundo e infinito amor. E tenho muita saudades.

Fomos colher maçãs e não tinha maçãs. Uma neve tardia [em maio!] fez a região perder quase toda a safra de maçãs e parte das uvas. Vai ser assim daqui em diante. Anos estranhos e muitas mudanças.

A moça me parou no evento e disse—minha neta se parece com você, ela tem 5 anos e você é a mulher que ela vai ser um dia. Que sorte a dela. O nome da minha sósia de 5 anos é Rosie.

Este ano me organizei e recolhi centenas de abóboras do halloween/thanksgiving da minha vizinhança e levei pra um santuário de animais, porque eles AMAM abóbora. principalmente os burrinhos e cavalos. Fiquei feliz e emocionei alguns vizinhos, que agora querem se organizar todo ano. Serei a líder!

Votamos em duas eleições em dois países, e deu tudo certo.

Catei limões Meyer na rua e fiz geléia. Catei azeitonas e processei. Todo ano a mesma coisa, mas de um jeito diferente.

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dias quentes & dias tórridos

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Quando minha mãe morreu perdi imediatamente a vontade de comer e na sequência a vontade de cozinhar e de tirar fotos. Tudo o que eu mais faço e gosto. Fui voltando aos pouquinhos, comendo, cozinhando, fotografando e fazendo pequenos passeios pela região. No geral até que tive um verão bem agitado. E muito incomum. Tivemos dias de 46 graus celsius. Sim, QUARENTA E SEIS! Tivemos muitas heat waves neste verão, mas essa foi a pior, a mais longa e brutal. 10 dias de temperaturas muito acima do normal. Mas por causa do calor, andei acelerando minha produção de fermentados e nas últimas semanas andei fermentando muitas frutas. Elas ficam deliciosas assim, boas pra comer com iogurte de coco no café da manhã. Também voltei a fazer pão e andei refazendo algumas receitas antigas, até adaptei uma receita que não era vegana e deixei ela melhor. Muito do que fiz neste verão foi me livrar de coisas que não significavam mais nada pra mim e entrei numa onda de limpeza. Doei toneladas de roupas, sapatos, livros, pratos, copos, reciclei zilhões de papéis, limpei, reusei, troquei, mudei. No Chucrute com Salsicha decidi arquivar todas as receitas com carne, frango e porco. Deixei as com peixes e ovos—até eu mudar de ideia. Muitas dessas receitas tinham históriazinhas pessoais anexadas, mas decidi que não valia a pena deixar nada apenas pela história. Porque minha maneira de ver o mundo mudou muito. Então foi tudo, receita com história e sem história. Não quero mais que meu blog ajude as pessoas a cozinharem com esses ingredientes. E aos poucos a vida vai ficando realmente mais simples e mais leve. Senti um alivio enorme quando me desfiz de uma quantidade absurda de roupas que vinha acumulando e guardando há anos, porque algumas tinham memória afetiva e outras porque eu realmente acreditava que ainda iria usar. Trabalhando em casa por tempo indefinido, não preciso mais ter tanta coisa. Acredito que é assim que vamos evoluindo, olhando pro passado sem melancolia ou saudade, planejando um futuro que faça mais sentido pra quem somos agora.

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one day at a time

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Ontem completou um mês e tudo o que fiz durante o dia inteiro foi pensando nela. ❤️

Sem mencionar a quantidade enorme de coisas e assuntos acumulados que queria mostrar ou contar pra ela. Minha mãe.

Minha vida está muito estranha. O farmers market de Woodland começou dia 19 de maio e eu ainda não fui lá comprar tomates e outras delicias nenhuma vez.

Estávamos esperando pra entrar na piscina quando uma nuvem imensa do que parecia chuvisco de folhas minúsculas fez um redemoinho sobre as nossas cabeças. Eram abelhas. muitas abelhas. E revoaram todas juntas, num movimento de onda, numa altura segura. Fiquei muito agoniada e me preparei pra pular na água, mas a nuvem se virou e foi pra outro lado. Fiquei pensando o que foi aquilo e por que elas vieram assim, em nuvens, e vindas de onde.

Percebi dentro da piscina que meu maiô novo é cor de azul piscina, exatamente da cor da água onde estou nadando e imagino o salva-vidas lá no alto do posto me vendo nadar, braços e pernas, e uma cabeça.

Estávamos no Philz bebendo chá gelado sentados numa micro mesinha um de frente pro outro. eu estava falando sobre o livro que estou lendo e de repente ele faz uma daquelas caras engraçadas típicas dele.

Eu—o que foi?
Ele—é que você está muito bonita!

Meu marido! ❤️

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beloved

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Estávamos sentadas na cozinha da casa dela numa tarde calorenta de outono em Campinas, tomando um lanchinho e ela me disse que tinha tido um sonho enquanto descansava—os períodos em que ela dormia durante o dia devido à fadiga da doença. Ela contou que no sonho ela estava andando numa praia e a areia era cheia de pedrinhas que machucavam o seus pés. Ela queria alcançar o meu irmão, que estava mais à frente com outra pessoa que ela não reconheceu, mas as pedrinhas a impediam de chegar até eles.

Menos de dois meses depois de eu ter voltado das férias que passei com ela, as pedrinhas já não a incomodam mais. Espero que ela tenha chegado no Carlos Augusto e que a outra pessoa seja o Carlos Eduardo, meu pai. E que essa metade da nossa família esteja agora junta.

Minha mãe foi um fenômeno. Viveu uma vida intensa, do jeito que ela queria, fez tudo o que quis, nunca desistiu, nunca disse não consigo. Enterrou o pai, a mãe, os cinco irmãos, muitos amigos e familiares, o marido e o filho. Ela disse uma vez pra minha irmã—um dia meu corpo vai dizer, chega Odette! E esse dia chegou. Ela estava doente há mais de três anos, já era paciente paliativa. Estava frágil como um cristal, mas continuava, dentro do possível, com a vida normal dela. Fazia 3 tipos de aula de ginástica, tinha encontros do grupo de estudos de logosofia, para o qual ela estudava e traduzia textos. E fazia toda a administração da casa, resolvia os quiprocós burocráticos, deixou tudo ajeitado pra que ninguém ficasse estressado.

No dia da morte dela, ela foi dirigindo ao mercado pela manhã, almoçou, à tarde foi ao oculista, voltou pra casa, colocou a chave do carro no ganchinho da cozinha, disse “Cheguei Osmarina” e caiu. Achamos que ela morreu quase instantaneamente. Como toda morte deveria ser, sem sofrimento, sem hospital, sem tubos, sem perder a independência. Foi uma morte meio de surpresa, mesmo já sendo algo esperado. Minha mãe não quis causar alvoroço. Deixou apenas esse vazio que nunca mais vai ser preenchido. 🤍

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Bloom

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pitpat pitpat

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Empresa de energia solar bateu na nossa porta.

Meu marido: aqui não dá pra instalar os painéis porque temos muitas árvores grandes em volta da casa

Funcionário da empresa: ah, esse problema é simples de resolver, é só cortar aquela árvore ali do fundo [uma centenária].

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Pior é que deve ter muita gente que aceita cortar árvores centenárias pra poder gerar “energia verde” e economizar na conta de luz. Não estou criticando a energia solar, mas sugerir cortar árvore, pera-lá!

Outro dia chorei quando vi uma casa que removeu duas oliveiras maravilhosas, uma em cada canto da entrada. Árvores lindas, saudáveis, carregadas de azeitonas gorduchas. Removeram as raizes, foi uma “operação”. E pra quê? Posso imaginar que era porque sujava o chão.

O cheiro da vida que não existe mais—o sabonete liquido de erva-doce da Natura. Era o cheiro da casa dos meus pais, que agora não tem mais meu pai, nem meu irmão que também morreu, e os três irmãos restantes estão cada um numa cidade diferente, e as crianças todas cresceram e foram embora do país. Acho que esse cheiro e o sentimento que ele desperta é uma manifestação concreta da palavra saudade.

Nos anos 80, me recusei a ouvir o álbum do grupo Traveling Wilburys, porque possivelmente na minha cabeça eu não concebia a ideia de ver o Dylan num grupo. peguei rancor da balada mais famosa deles. Mas que burra, perdi de ouvir verdadeiras preciosidades. Agora, com 30 anos de atraso, corrigi esse erro.

Caí por acaso num vídeo com o Will Smith falando sobre o Bhagavad Gita e fiquei em choque. Queria até escrever o que ele falou, porque era pura sabedoria.

Saímos por aí e fomos vendo infinitos pomares de amendoeiras florindo, vaquinhas, carneirinhos e cabras nos pastos, colina salpicada com moinho de ventos, campos amarelos com flores de mostarda, vinhedos, vinhedos, vinhedos a perder de vista. 🚙

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ring out the old, ring in the new

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Depois de mais de dois anos voltei ao meu prédio de trabalho pois meu chefe me pediu pra limpar o meu desk, já que estarei trabalhando de casa até março de 2023. E depois talvez fique assim em definitivo. Trouxe de lá 3 caixas grandes cheias de coisas, mais uma sacolona de pano com toalhas, chinelos e itens de banho. Não lembrava a quantidade de objetos que fui levando e acumulando naquele espaço. Eram coisas de banheiro e casacos, mantas, echarpes, par de tênis, azeite rançoso, chocolates, chás, barrinhas de cereal, decorações, pratos, canecas, xícaras com pires, talheres, bules, french press, e um mundárel de itens aleatórios e miscelâneas. Meldels, eu realmente vivia lá naquele canto da caverna! Fiquei dois dias pra arrumar as coisaradas que trouxe pra casa, reorganizar, jogar velharias fora ou por na caixa de doação. Quando e se eu voltar, no futuro ainda bem incerto—talvez no máximo hibridamente 1 vez por semana, certamente tentarei levar muito menos bugigangas.

Mas o mais importante pra mim foi perceber que tudo realmente passa. Aquele prédio, aquele desk, minha vida social, as interações na cozinha, as caminhadas, o espaço todo que era tão importante pra mim, já não é mais. Achei que iria ficar triste, mas não fiquei. Voltei pra casa feliz e certa de que tomei a melhor decisão, de ficar em casa até a pandemia se normalizar e quem sabe apenas voltar pra um dia trabalhando localmente ou só para reuniões. Não consigo mais me imaginar passando 9 horas do meu dia num outro lugar que não seja a minha casa.

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o passado não condena